Pegar num naco de seitan e dar-lhe textura e sabor capazes de competir com qualquer um dos seus congéneres animais não é tarefa fácil. Pior: num dia particularmente desinspirado do cozinheiro, pode assemelhar-se a comer uma esponja de cozinha. Daí que Bruno Ferraz, 31 anos, chef do novíssimo A0 26 — Vegan Food Project, goste de tratar este substituto da carne, feito à base de glúten, com os devidos cuidados. “Faço uma marinada com tomilho e alecrim, e conservo-o em vácuo durante três dias. Depois, salteio-o com azeite e uso uma manteiga vegetal com ervas e alho, além de uma mostarda com sementes para aromatizar.” Resultado: o bife de seitan (8,5€) tem sido dos pratos mais elogiados pelos clientes na ainda curta vida do restaurante.

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O bife de seitan é servido com um batata-doce frita e uma salada fresca.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

A responsável pelo espaço chama-se Catarina Gonçalves e, com sorte, até já leu sobre ela aqui no Observador. É que o Ao 26 é o segundo restaurante que abre no espaço de um ano — o primeiro foi o Nomalism, em Campo de Ourique, de que se deu conta este artigo. Pois bem, esta antiga engenheira civil, vegetariana por razões de ética há cerca de oito anos, desligou-se desse projeto, dedicou-se durante algum tempo a serviços de catering, mas assim que encontrou um espaço à medida do que pretendia, avançou para nova aventura.

E o que é que pretendia? “Um restaurante charmoso, que fugisse um bocadinho ao cliché dos espaços vegan“, conta. Ou seja, a intenção de Catarina é que a cozinha 100% vegetal não impeça o Ao 26 de ser um restaurante de pleno direito, que possa agradar a qualquer pessoa. “O público interessado neste tipo de cozinha é cada vez mais diverso e queremos ir ao encontro disso. Tem de ser um sítio onde apeteça ir jantar com os amigos, com a namorada ou com o namorado“, justifica.

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O restaurante tem capacidade para cerca de 30 pessoas.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Já se sabe que nem sempre é fácil conseguir arrastar amigos/namorados sem restrições alimentares para restaurantes ditos vegan ou vegetarianos. Se o fosse nem sequer faria sentido o uso do verbo arrastar. Daí que seja especialmente importante ter encontrado um chef como Bruno Ferraz, a quem não falta experiência. Nem mundo. Depois de ter passado pelas cozinhas de Fortaleza do Guincho, Valle Flor (Pestana Palace) ou Altis Belém, Bruno rumou ao Brasil, cozinhou em barcos de cruzeiro, passou seis meses na Índia e, sempre a cozinhar, viajou por todo o Sudeste Asiático, onde se começou a focar nas receitas vegan. De volta à Europa, não ficou muito tempo parado. E não fez a coisa por menos: pegou na bicicleta e foi de Lisboa a Bucareste em quatro meses. E ainda esteve na Hungria e na República Checa, antes de tomar conta da cozinha do Ao 26.

A carta definida por Bruno e Catarina — que é quem trata das sobremesas — oferece, ao almoço, três opções diárias que vão rodando, além de alguns petiscos (bifana de seitan ou hambúrgueres que podem ser de beterraba ou lentilhas), tostas ou saladas. Ao jantar há pratos mais substanciais, do tal bife de seitan a um caril tailandês de legumes, com entradas e saladas a compor o ramalhete. A vertente doceira da casa também não é de ignorar. Fiel ao princípio 100% vegetal da casa, Catarina consegue apresentar coisas bem interessantes, incluindo um bolo de chocolate húmido, um cheesecake crudívoro ou um surpreendente leite-creme. Tudo isto, claro, sem usar ovos, nem leite (tradicional).

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Para já, o Ao 26 vai funcionando em horário contínuo. Quer isto dizer que é possível provar as sobremesas vegan de Catarina a meio da tarde, por exemplo.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Para complementar esta oferta, há uma carta de vinhos biológicos que tenta combater “um certo preconceito” que, segundo a responsável, ainda existe em relação ao seu sabor. Além destes, há cerveja artesanal (Dois Corvos e Letra), chás e infusões e até café biológico da Delta. E apesar deste foco no que é biológico, Catarina diz que nem todos os ingredientes usados o são. “Optamos pelo biológico quando é possível mas o que fazemos sempre é selecionar as origens, tentar saber de onde vêm os produtos. E temos muita atenção aos desperdícios.” Um excelente princípio.

Nome: Ao 26 — Vegan Food Project
Morada: Rua Vítor Cordon, 26 (Chiado), Lisboa
Telefone: 96 798 9184
Horário: Segunda, das 12h30 às 19h. De terça a sábado, das 12h30 às 23h. Encerra ao domingo
Preço Médio: 10€ (almoço) / 15€ (jantar)
Reservas: Aceitam
Site: www.facebook.com/ao26veganfoodproject