A saída do Reino Unido da União Europeia vai provocar uma recessão e uma retração do produto interno bruto (PIB) do país em 6% até 2020. Estas previsões macroeconómicas fazem parte do estudo “Out and down. Mapping the impact of Brexit”, elaborado pela Intelligence Unit da revista britânica The Economist. O impacto do Brexit será “sério e prolongado“, mas os efeitos da decisão do eleitorado não afetarão da mesma forma todos os setores da economia, nem durante o mesmo período de tempo.

A decisão de abandonar a União Europeia provocou uma “crise política e constitucional de efeito imediato e impacto duradouro”, que também se reflete na divisão entre gerações: os jovens não queriam o Brexit, mas vão ter de viver com ele.

Para lá das consequências políticas internas — já que com a demissão do primeiro-ministro, David Cameron, o Partido Conservador vai ter de escolher um novo líder — é de prever que as negociações com os restantes países-membros da UE sejam tudo menos fáceis. A Alemanha convocou uma reunião de emergência entre os países fundadores da União e Angela Merkel fez saber que considera os resultados do referendo um duro golpe para a Europa.

As perspetivas futuras do Reino Unido dependem largamente do resultado das negociações com os outros 27 estados-membros da UE, muitos dos quais não vão manifestar vontade de oferecer ao país um acordo generoso”, pode ler-se no relatório.

A saída eminente do Reino Unido da União Europeia e do Mercado Único provocou, também, uma enorme onda de choque nos mercados financeiros. Os efeitos do resultado no referendo britânico alastraram-se aos mercados bolsistas mundiais e o índice Euro Stoxx 50 desceu 8,62%, a maior queda diária em 30 anos.

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Setor financeiro será o mais afetado

A primeira consequência do Brexit foi o aumento da volatilidade dos mercados, que mergulharam a economia britânica na incerteza e provocaram a descida abrupta da cotação da libra esterlina, que chegou a cair quase 8% contra o euro. A segunda ronda de impacto no setor financeiro acontecerá em 2017 e 2018, quando as negociações do acordo de saída com os restantes estados-membros se começarem a fazer sentir na economia real.

A depreciação da libra esterlina provocará o aumento dos custos de importação de bens, que se refletirá na subida da inflação. No entanto, é também provável que a procura por parte do consumidor baixe, o que levará as empresas a evitar a subida dos preços junto dos clientes.

Neste cenário de retração das margens de lucro, o aumento do desemprego é um cenário possível. A taxa de desemprego vai subir em 2017 e as previsões indicam que chegue a atingir 6% em 2018, ou seja, mais 230 mil britânicos não terão emprego em comparação com 2015 e, em 2018, o número de desempregados pode chegar aos 380 mil.

A “City” perderá grande parte da sua aura, quer pela “fuga de cérebros” para outros países europeus (com muitos a optarem pelo regresso a casa), quer pela impossibilidade de muitas das empresas terem acesso ao mercado europeu. O setor do retalho também enfrentará problemas, com a retração previsível do consumo interno enquanto durar o período negocial, que também afetará a cadeia de fornecimento e distribuição.

Saúde e energia também entram na dança

O impacto do Brexit também será significativo no serviço nacional de saúde britânico (NHS), já que o afastamento da União Europeia poderá dificultar as importações e exportações farmacêuticas e complicar o acesso a medicamentos. O NHS é, também, um dos setores da administração pública britânica mais exposto às crises económicas que afetam o seu financiamento.

O setor energético britânico manter-se-á ligado de forma muito próxima ao mercado energético europeu, uma vez que o Reino Unido não tem autossuficiência energética e é importador de gás e petróleo. O Reino Unido tem interesse em manter-se ligado, de alguma forma, ao mercado energético europeu, de forma a estabelecer acordos que permitam o acesso mais barato à energia.

Telecomunicações e indústria automóvel são os menos afetados

Os setores das telecomunicações e da indústria automóvel serão os menos afetados pela saída do Reino Unido da União Europeia, segundo a Economist. No entanto, é provável que se venha a registar alguma incerteza sobre o futuro das telecomunicações no país, com o maior risco de aumento de preços para os consumidores fora das normas do mercado europeu, no que diz respeito, por exemplo, às tarifas de roaming.

Segundo as previsões da revista, a indústria automóvel é a mais bem preparada para lidar com o impacto económico do Brexit. O mercado automóvel interno britânico tem uma dimensão considerável e a saída da União Europeia poderá, até, permitir uma maior penetração das marcas britânicas no mercado, com a descida das importações de carros produzidos nos outros países europeus.