O líder já disse que não se demitia, mas Jeremy Corbyn enfrenta uma revolta crescente nas hostes do Partido Trabalhista, na sequência dos resultados do referendo sobre a União Europeia. Dois membros do chamado governo sombra do partido na oposição demitiram-se este domingo num desafio direto a Corbyn e podem ser seguidos por mais.

A revolta ganhou força quando Jeremy Corbyn afastou na noite de sábado o responsável pelos Negócios Estrangeiros do seu gabinete sombra. Hilary Ben admitiu que perdeu a confiança na capacidade do atual líder para liderar o partido.

Os dois partidos tradicionais britânicos sofreram um abalo quando o referendo ao Reino Unido foi vencido pelos que querem abandonar a União Europeia. Os líderes, trabalhista e conservador, fizeram campanha pelo Remain (Ficar), mas não convenceram e os seus partidos estavam divididos em relação ao Brexit. David Cameron apresentou a demissão de primeiro-ministro, com efeitos a partir de outubro, e os conservadores vão realizar um congresso para eleger um novo presidente.

O cenário de eleições gerais no Reino Unido está em cima da mesa — a decisão depende do voto da Câmara dos Comuns. E Hilary Ben não confia na capacidade do atual líder dos Trabalhistas para ganhar as eleições gerais. “Ele é um homem bom e decente, mas não é um líder. E isso é um problema”, disse o antigo membro do gabinete sombra trabalhista à BBC.

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Depois da demissão de Ben, saiu a porta-voz para a politica de saúde, Heidi Alexander, que defendeu numa mensagem escrita a necessidade de uma mudança no comando do Partido Trabalhista. “Aqueles que vão ser mais atingidos pelo choque económico associado ao voto pela saída da União Europeia precisam de uma oposição forte, tal como as comunidades que receiam o aumento dos níveis de intolerância, ódio e divisão”.

Gloria de Piero foi outra deputada de primeira linha a bater com a porta do gabinete de Jeremy Corbyn e segundo o Guardian, mais de metade da equipa que constitui o governo sombra do líder trabalhista deverá afastar-se ainda este domingo, num movimento que alguns observadores estão a comparar a um “golpe” contra o dirigente dos trabalhistas. Vários membros contactados pelo jornal britânico admitem estar a escrever cartas de demissão depois de Heidi Alexander. De Piero, que é a porta-voz para os jovens, justificou a assim sua decisão de sair.

“Sempre mantive uma relação pessoal calorosa e quero agradecer pela oportunidade de trabalhar no teu gabinete sombra. Aceitei o convite porque acreditava que era correto dar o meio apoio à tua tentativa de alcançar a vitória trabalhista que este país tanto precisa. Mas agora não acredito que consigas alcançar a vitória em eleições gerais, que podem ocorrer dentro de poucos meses. Fui contactada por muitos dos meus colegas este fim de semana e é claro que muitos partilham a perda de confiança na tua liderança”.

Apesar da contestação interna crescente, os aliados de Corbyn dizem que ele vai permanecer no cargo. A deputada trabalhista Diane Abbot, uma apoiante do atual líder, afirmou que ele não se deve demitir porque mantém o apoio dos membros do partido.

Sabotagem interna à campanha pelo Ficar?

Para além da falta de confiança na força política de Corbyn, que chegou à liderança dos trabalhistas em setembro do ano passado, há uma onda de insatisfação face à forma como o líder do partido conduziu a campanha do referendo. Em causa o seu papel, ou falta dele, ao lado dos que defendiam o sim à União Europeia. Documentos a que a BBC teve acesso a documentos sugerem que o gabinete de Jeremy Corbyn procurou adiar e travar a campanha dos trabalhistas pelo Remain (Ficar) e fontes partidárias falam mesmo em “sabotagem deliberada” na falta de empenho do presidente do partido.