A injeção de divisas pelo Banco Nacional de Angola (BNA) na banca comercial quadruplicou na última semana, para 229,2 milhões de euros, com vendas apenas em moeda europeia, garantindo importações e pagamentos a companhias aéreas.

A informação consta do relatório semanal do BNA sobre a evolução dos mercados monetário e cambial, no período entre 20 a 24 de junho, e contrasta com os 56 milhões de euros da semana anterior.

De acordo com o documento, consultado hoje pela Lusa, as divisas disponibilizadas na última semana, equivalentes a 256,1 milhões de dólares, destinaram-se a cobrir, entre outras, importações para a indústria (64,1 milhões de euros) e agricultura (8,3 milhões de euros), além de operações específicas do setor petrolífero (17,6 milhões de euros).

Foram igualmente disponibilizados 17,9 milhões de euros em leilões de preço para “necessidades das empresas prestadoras de serviço ao setor petrolífero” e um montante idêntico para operações das companhias aéreas, bem como três milhões de euros o setor da saúde e 27,1 milhões de euros para a cobertura de operações do Estado.

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Para cobrir operações de cartões de crédito, o BNA garantiu 17,9 milhões de euros e para viagens e ajuda familiar mais 22,4 milhões de euros, enquanto as seguradoras garantiram para as suas operações 4,1 milhões de euros em divisas.

A taxa de câmbio média de referência de venda do mercado cambial primário, apurada ao final da última semana, permaneceu inalterada nos 166,711 kwanzas por cada dólar.

Contudo, no mercado de rua, a única alternativa, embora ilegal, à falta de divisas aos balcões dos bancos, a nota de um dólar continua a ser transacionada acima dos 500 kwanzas.

Angola enfrenta uma crise financeira e económica com a forte quebra (50%) das receitas com a exportação de petróleo devido à redução da cotação internacional do barril de crude, tendo em curso várias medidas de austeridade.

A conjuntura nacional levou a uma forte quebra na entrada de divisas no país e a limitações no acesso a moeda estrangeira aos balcões dos bancos, dificultando as importações.

A falta de divisas, em função da procura, dificulta, por exemplo, a transferência de salários dos trabalhadores de expatriados, as necessidades dos cidadãos que precisam de fazer transferências para o pagamento de serviços médicos ou de educação no exterior do país ou que viajam para o estrangeiro.

A preocupação com as consequências da situação atual foi enfatizada a 14 de junho pelo chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) que esteve em Luanda a conduzir negociações, ainda não concluídas, para um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano.

Só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se, recordou Ricardo Velloso, em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial, muito longe dos valores do mercado paralelo.

“Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do Banco Nacional de Angola [BNA], para diminuir a pressão que existe”, apontou o economista brasileiro.

Admitiu igualmente que as “restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial”, tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, “constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas” e “precisarão de ser levantadas gradualmente”.

“A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo”, apontou Velloso.

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas – moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares – caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014, cifrando-se em maio nos 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros).