O papa Francisco não está a ajudar o processo de paz no Cáucaso do Sul, ao usar a palavra genocídio arménio durante a visita à Arménia na sexta-feira, advertiu esta segunda-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco.

“Vemos com tristeza que a visita do papa à Arménia, neste momento crítico, não contribui em nada para a paz e a estabilidade necessária ao Cáucaso do Sul”, garantiu, em comunicado, o Ministério, em relação aos últimos combates e negociações entre a Arménia e o Azerbaijão sobre o Nagorno-Karabakh.

No texto, o Ministério turco lamentou que Francisco “adote incondicionalmente” a visão da Arménia que — garantiu — “não corresponde nem à verdade histórica, nem à legalidade”.

Desta maneira, o papa “volta a fazer uma discriminação com base na religião”, indicou a nota.

O governo turco espera que o papa “mantenha uma atitude de mediador” com o “nobre princípio de deixar um futuro de amizade e paz às gerações vindouras”, indicou.

No sábado, um dos cinco vice-primeiros-ministros turcos, Nurettin Canlikli, tinha qualificado o uso da palavra ‘genocídio’ pelo papa como uma “grande desgraça” que manifestava “uma mentalidade das Cruzadas”.

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No domingo, o Vaticano reagiu às acusações de Canlikli e afirmou que o papa “não faz cruzadas” nem falou contra a Turquia “num espírito de cruzada” quando pronunciou a palavra ‘genocídio’ durante a visita à Arménia.

“Se escutarem o papa, não há nada [nas suas palavras] que evoque um espírito de cruzada. A sua vontade é de construir pontes em vez de muros. A sua verdadeira intenção é construir as bases para a paz e a reconciliação”, afirmou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, em declarações à comunicação social na capital arménia, Erevan.

De sexta-feira a domingo, Francisco visitou a Arménia, considerada como o primeiro Estado a ter adotado o cristianismo, no início do século IV.

Os arménios tentam há décadas que os massacres de 1915-17 sejam reconhecidos internacionalmente como genocídio, termo que a Turquia rejeita, garantindo que se tratou de uma tragédia coletiva durante a qual morreu um igual número de turcos e arménios.

Apenas cerca de 30 países reconheceram até hoje que os arménios foram vítimas de genocídio.