A discussão sobre a vitória da saída do Reino Unido da União Europeia (UE) no referendo de quinta-feira começará a dominar formalmente a agenda de hoje dos líderes europeus, em Bruxelas, a partir do jantar. David Cameron irá enfrentar pela primeira vez, e talvez última, os líderes dos parceiros europeus numa clima de grande indefinição da parte britânica. Será uma ementa difícil de engolir num jantar a que alguns chamam de “última ceia”.

O primeiro-ministro britânico anunciou a sua demissão, mas não imediata, e sinalizou que prefere um divórcio gradual com a União Europeia. Já do outro lado do Canal de Mancha pede-se uma resposta rápida na negociação de um calendário de saída do Reino Unido para conter os danos económicos e financeiros do Brexit. Segundo uma estimativa avançada pela Bloomberg, os mercados financeiros, acionistas e cambiais, já perderam mais de quatro biliões de dólares (3.600 biliões de euros) desde que foram conhecidos os resultados do referendo, na madrugada da sexta-feira passada.

A pressão económica e financeira ainda é mais forte do lado britânico. A Standard & Poors baixou em duas notas o rating do país e a Fitch também desceu a nota da dívida, antecipando instabilidade financeira, económica, mas também politica. O Reino Unido está viver um impasse politico. Os conservadores terão de eleger um novo líder, esta segunda-feira foi avançada a data de 2 de setembro para esse passo, e Jeremy Corbon enfrenta uma revolta sonora dentro do Partido Trabalhista. O cenário de eleições está em cima da mesa, o que deixa a União Europeia em suspenso.

“Não sabemos quanto tempo é que ele vai ser o primeiro-ministro e quando haverá um novo governo com condições para negociar”, afirma Mark Leonard, diretor do European Council on Foreign Relations”, citado pela Bloomberg.

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Os líderes europeus receiam que os britânicos demorem demasiado tempo a desencadear o processo de saída que só pode ser feito por iniciativa do Reino Unido, invocando o artigo 50 do Tratado de Lisboa. E até há diplomatas na Europa a admitir ainda que a decisão de sair da União Europeia pode ser revertida.

“As instituições europeias e os outros estados membros têm de se contentar para já com o papel de espetadores numa história dramática no qual tem muito em jogo”, afirmou Nicolas Veron do instituto de pesquisa Bruegel, com sede em Bruxelas.

O menu para a cimeira dos chefes de Estado

Ainda a 28, a cimeira de chefes de Estado e do Governo começa pelas 16:00 locais (15:00 em Lisboa), com o programa oficial a garantir que, até ao jantar, o ‘Brexit’ estará de fora dos trabalhos.

Inicialmente decorrerão apresentações pelo secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre relações UE/NATO, do presidente do Banco Europeu de Investimento, Werner Hoyer, sobre vizinhos do sul e dos Balcãs, estando ainda tópicos relacionados com migração, trabalho, crescimento, competitividade e relações externas.

Ao jantar, os líderes esperam ouvir do primeiro-ministro britânico, David Cameron, planos sobre o denominado processo de divórcio, como a data para espoletar o artigo 50.º do Tratado de Lisboa, sobre a saída de um Estado-membro, objetivos para acordos futuros.

Na discussão também surgirá a questão do “negociador” britânico, uma vez que Cameron anunciou a sua demissão, assim como a intenção da Escócia em avançar com um novo referendo sobre a sua independência para garantir que continua na UE.

Portugal estará representado pelo primeiro-ministro, António Costa, que numa reação ao resultado da votação afirmou ser “um dia triste para Europa”, mas também uma oportunidade para os 27 países da UE refletirem sobre a resposta a dar aos “anseios dos cidadãos da Europa”.

Os eleitores britânicos decidiram pela saída do Reino Unido da UE, com esta opção a conquistar 51,9% dos votos no referendo de quinta-feira.

Os líderes europeus anunciaram que pretendem um ‘divórcio’ do Reino Unido o mais rapidamente possível “por muito doloroso que seja o processo”, num comunicado conjunto dos presidentes da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, do Conselho Europeu, Donald Tusk, do Parlamento Europeu, Martin Schulz, e da presidência rotativa holandesa da UE, Mark Rutter.