O encenador Rogério de Carvalho estreia-se em obras de William Shakespeare, no ano do 400.º aniversário da morte do escritor, com “Rei Lear”, em cena no Teatro Nacional São João, no Porto, a partir de quinta-feira.

“Esta peça é muito atual, por incrível que pareça, continuamos a valorizar mais a bajulação e as palavras bonitas em detrimento da verdade, da fidelidade e da dignidade das pessoas”, afirmou aos jornalistas a atriz Emília Silvestre, agora em funções de assistente de encenação, após a apresentação de um excerto da peça.

Numa coprodução entre o Ensemble — Sociedade de Atores, o São João e o Teatro Municipal de Bragança, “Rei Lear” mostra o monarca que dá nome à peça, interpretado por Jorge Pinto, a abandonar “levianamente as suas funções e dividir o reino em três partes pelas suas filhas”, que devem declarar o seu amor pelo pai, nos seus 80 anos.

“Este rei trata o amor como mercadoria e, portanto, a divisão do reino é feita em função de quem provar por palavras que o ama mais. Isto é absurdo e num rei com a experiência da idade dele não é admissível. A única que fala a verdade é a Cordélia e é a que é desprezada. Isso diz-nos muito hoje em dia de como as pessoas se deixam levar pelas palavras e cometem atos insensatos que depois têm consequências muito graves”, afirmou Emília Silvestre.

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O ator Jorge Pinto, que disse ter em “Rei Lear” a sua peça shakespeariana preferida, afirmou, por seu lado que se trata de “um espetáculo de 2016, não é arqueologia teatral”.

“O Lear não se trata de uma loucura, trata-se de uma vontade descontrolada que pode ter qualquer indivíduo que esteja numa zona de poder que não controle”, explicou Jorge Pinto, que partilha um palco marcado por um pano de fundo vermelho com atores como Ivo Alexandre, Elmano Sancho, Isabel Queirós ou Vânia Mendes, entre muitos outros.

A peça vai estar no São João até ao dia 17 de julho, havendo, no dia 9, o lançamento do livro “Rei Lear” com a presença do professor universitário David Antunes, do tradutor Fernando Villas-Boas e de Jorge Pinto.