Olha-me este. Fernando Santos não disse isto, como é óbvio, mas talvez o tenha pensado quando alguém lhe perguntou se, comparados à Croácia, os polacos são uma pera mais doce para se comer. O selecionador, além de não achar muita piada à questão, repete o que já disse “quatro, cinco, seis vezes”, porque já gastou horas de vida a ver, rebobinar, carregar no play, parar, passar para a frente e voltar atrás em vídeos dos jogos que a Polónia fez. “Isso é a cantiga do bandido, mas eu não vou em cantilenas. Vamos defrontar um adversário que é tão favorito como nós. Estão aqui pelo excelente campeonato que vêm a fazer. Vi os jogos todos e os meus jogadores também tiveram oportunidade de ver”, revelou, com cara séria.

É óbvio e todos sabemos que na Polónia não mora um Modric, um Rakitic ou um Perisic. Mas não é por isso que deixa de ter uma equipa “fortíssima” e de “altíssimo nível”, garantiu Fernando Santos, na conferência de imprensa que encheu uma sala aqui no estádio Velódrome, em Marselha. “Não me parece que seja semelhante a qualquer uma das equipas que defrontámos”, disse o selecionador, ao falar de uma seleção que vê “muito organizada estrategicamente, em todas as fases do jogo, e muito rápida na transição defesa-ataque”. E onde não habitam croatas com nomes acabados em “ic” estão homens como Grzegorz Krychowiak, Jakub Błaszczykowski e Łukasz Piszczek.

E Robert Lewandowski. Um nome mais fácil de escrever, que é um jogador que, diz Fernando Santos, é como Ronaldo, porque o treinador dá o exemplo do polaco quando se fustiga com a pergunta sobre Cristiano nunca aparecer — “É um grande jogador. E só se fala muito, muito, muito e se pergunta muito, muito, muito por ser um grande jogador. É normal”.

Também lhe perguntaram sobre Renato Sanches, considerado o melhor em campo contra a Croácia, e Nani, que tem sido dos melhores da seleção neste Europeu. A resposta foi que competições destas ganham-se com o talento, pois claro, mas da equipa e não de um ou outro jogador. “Tenho 23 em grande forma, dois ou três que, clinicamente, terão alguma limitação [André Gomes e Raphaël Guerreiro, que ainda estão por arames]. De resto, tenho uma equipa muito motivada, determinada, que sabe o que quer. A equipa é que vai ter de resolver o jogo. Nesta fase, o talento pode ganhar algumas coisas, mas são as equipas que ganham campeonatos”, defendeu, uma vez mais.

A seleção portuguesa terá que “super-atenta desde o início” do jogo. “O melhor é entrarmos logo acordadinhos”, indicou Fernando Santos, ciente de que “vai ser sempre uma partida estratégica”, como o foi contra a Croácia. “Muitas vezes, por muito que tentes, não consegues desatar o nó. Claro que haverá sempre, da parte das duas equipas, uma estratégia forte. No futebol ninguém te garante que, se sofres quatro, marcas cinco [mesmo que Johan Cruiff gostasse de pensar assim]. Há jogos em que os momentos defensivos conseguem suplantar os momentos ofensivos”, argumentou, enquanto os adeptos talvez suspirem com a hipótese de voltarem a passar outro jogo a bocejar.

Mas é preferível um jogo “muito estratégico” do que acontecer parecido a 1984, como alguém perguntou ao selecionador, quando a França eliminou Portugal nas meias-finais do Europeu aqui em Marselha. A par da cidade ser a mesma, um jogo nada tem a ver com a outro e Fernando Santos também pensa assim: “O adversário nem é o mesmo, nem vou comparar. Acredito que [o resultado negativo] não se vai repetir. Tenho essa confiança.”

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