Em entrevista à RTP 3, Jorge Sampaio falou sobre o impacto do Brexit para o futuro da União Europeia (UE) e de Portugal. Sobre o nosso país, o ex-Presidente da República falou (apaixonadamente) sobre a eventualidade da aplicação de sanções por parte da UE caso Portugal falhe as metas orçamentais. Fez também um balanço positivo da governação de António Costa e da presidência de Marcelo. Em relação à proposta do Bloco de Esquerda de fazer um referendo à permanência de Portugal na UE caso sejam aplicadas sanções, garante que “claramente, não é a altura”.

Em relação ao nosso país, Jorge Sampaio faz um balanço positivo, tanto do governo, que acredita que consiga terminar a legislatura, como da presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, que diz ser capaz de gerar harmonias e consensos. Salientou que Portugal tem agora um desafio para encontrar um espaço na nova União a 27, e que esse espaço deve ser mais pró-ativo. Alerta que, com a saída do Reino Unido da UE, quebrou-se um vértice no “triângulo vicioso” (Alemanha, França, Reino Unido) e é necessário “reforçar a relação com a Alemanha, que vai ganhar uma nova importância”, mas ressalva que “nós não podemos aceitar a subalternização de Portugal”. O país terá também que trabalhar a sua relação com o Reino Unido, acrescentou.

O tema que mais exaltou o ex-presidente da República foi a possibilidade da aplicação de sanções a Portugal e Espanha, caso os países Ibéricos falhem as metas orçamentais. Sobre esse tema, Sampaio disse que “se isso acontecesse atirava esta mesa pelo ar. Acho isso qualquer coisa de extraordinário. No contexto atual, como se nada estivesse a passar à volta daqueles edifícios [da UE], olhar para uma situação de grande esforço que foi feito pelos portugueses e voltar ao formalismo dessa matéria como se não houvesse causas justificativas e causas até de exclusão, acharia isso extraordinário. É inconcebível, no contexto atual, ser essa a decisão da UE.”

Foi também perentório em relação à proposta do BE de referendar a permanência de Portugal na UE, caso lhe sejam aplicadas sanções: “a meu ver devíamos cerrar fileiras e demonstrar que estamos aqui para construir uma economia capaz de dar às pessoas, depois de todas as dificuldades, o mínimo de esperança de crescimento. Claramente não é a altura.”

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O Brexit e o futuro da UE foram os temas mais abordados. Sobre esse assunto, disse que “é como se tivesse havido um terramoto. É um momento muito difícil. Com certeza que será um momento muito difícil para o Reino Unido e é um momento muito difícil para a Europa a 27. ” Mas alerta que este é o tempo para a reestruturação da Europa e é o momento em que se deve refletir sobre o que é que se quer desta União. Admite que o surpreendeu que “o lado inglês não estava preparado para o resultado possível e do lado dos 27 está tudo a reagir de maneiras diversas e não está nada preparado para o que vem a seguir. Era um resultado francamente previsível.”

Agora, “o choque tem que durar pouco tempo. Não há tempo para isso, os líderes têm responsabilidades distribuídas e têm que tirar ilações.” Jorge Sampaio acredita que o processo de saída deve ser feito de forma ponderada, mas não pode ser “eternizado”.

Admite que “há indícios muito preocupantes” de que o extremismo está a crescer na Europa e relembra que, quer por razões demográficas, quer por razões económicas e até mesmo por razões culturais, “nós precisamos de imigração. Temos que ter uma sociedade aberta”. “É preciso começar já a trabalhar para um ambiente mais sadio. O imobilismo é-nos fatal”, acrescenta.

Para além do contágio do medo e da intolerância em relação aos migrantes, teme também o risco de contágio do Brexit e evidencia que a confiança na UE está a diminuir. É, por isso, essencial, que a reestruturação da união passe por democratizar e criar uma maior ligação com os cidadãos.

Terminou com a sua previsão em relação ao desempenho da seleção nacional no campeonato europeu de futebol: “percebo o otimismo, mas acho exagerado em relação ao que jogam outras seleções. Amanhã é um jogo decisivo e vai ser um jogo difícil.” [contra a Polónia].