E ao terceiro dia, o debate sobre o Brexit chegou finalmente aos banqueiros centrais em Sintra, seja como causa para o debate, mas também como consequência, já que o debate também só aconteceu porque o painel estrela da conferência acabou cancelado precisamente porque Mario Draghi, Janet Yellen e Mark Carney tiveram de lidar com o Brexit.

Jean-Claude Trichet assumiu as rédeas do painel de encerramento da conferência do banco central do qual foi presidente entre 2003 e 2011 para levantar o tema que estava ausente, para estranheza de muitos, desde segunda-feira, e até começou por admitir o choque: “O Brexit foi uma surpresa extraordinária”.

O francês disse que “não há memória” de um resultado tão contra as previsões das sondagens, dos especialistas e até das apostas e que vem revelar quão complexo é o mundo.

No painel que teve de ser organizado à última hora, quase literalmente, Charles Bean, economista inglês que foi até 2008 vice-governador do Banco de Inglaterra, diz que o referendo “expôs profundas divisões” no Reino Unido, com as classes mais baixas e os mais velhos a decidirem o referendo a favor da saída da União.

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“O meu país hoje é tudo menos unido. Devíamos chamar-lhe Reino Desunido”, afirmou.

A economista suíça Beatrice Weder di Mauro, antiga conselheira do conselho de sábios da Alemanha e do governo austríaco, defendeu que é necessário olhar para o que leva os eleitores a apoiarem movimentos mais radicais, à esquerda e à direita, para perceber o que é possível fazer para evitar que isso aconteça.

“Temos que perceber quais são as causas que levam as pessoas a aderir a movimentos de extrema-direita ou esquerda e se há razões económicas e de segurança, então deve haver algo que possamos fazer. (…) Não podemos continuar a ignorar”, afirmou.