“Sempre achei que a gastronomia pode ser comparada ao teatro”, diz Pedro Mendonça, ator, um dos fundadores da companhia Teatro Bruto e, desde há um mês, gerente do novo restaurante Puro 4050. Vejamos: os empregados chegam ao espaço, situado no Largo de São Domingos, na Baixa do Porto, e vestem o figurino nos ‘camarins’. Depois, é hora de abrir a porta ao público e, tal como no teatro, tudo tem de estar perfeito, nada pode falhar. Os funcionários levam as pessoas às mesas, tal como no teatro se conduz o público aos lugares. “No Puro 4050, o espetáculo começa quando é posta na mesa a manteiga de búfala”, anuncia o responsável. A partir daí, espera-se que o cliente-espectador viva um experiência especial, de sensações.
“As pessoas pensam sempre que isto é um restaurante italiano”, diz Pedro. Calma, ele não vai tentar convencer-nos de que se trata de uma sala de teatro. Quer, sim, mostrar que não é uma típica trattoria. Depois do sucesso do Cantina 32, ali bem perto, que Pedro define como “uma coisa entre o talhante e o Príncipe de Gales”, a irmã, Inês Mendonça, quis fazer algo diferente. Comprou um bilhete de avião e aterrou em Nápoles. “Estivemos a ver as búfalas nos pastos, falámos com vários produtores de mozzarellas e escolhemos aquele que mais nos interessava”, recorda. É daquela região italiana que chega todos os meses um carregamento, direto para o código postal 4050, o do Porto.
I Ato
Escolhido o produtor de mozzarellas, os dois irmãos convidaram o chef Luís Américo para desenhar a carta — tal como acontecera no vizinho Cantina 32 –, com a ajuda da chef Sara Oliveira, que ali está diariamente a cozinhar. Se a carta fosse um guião, o primeiro ato desta peça seria o bar de mozzarellas. O cliente escolhe a que quer, dos pequenos Bocconcini à Treccia, passando pela mozzarella fumada e pela variedade de burrata, cada uma com a sua consistência própria. Quem quiser provar todas pode fazer uma degustação (19€).
A partir desta base, cada pessoa pode fazer as combinações que quer ter no prato, que passam pelas saladas e vegetais variados, as charcutarias italianas (mortadela de Bolonha e presunto de Parma DOP, a carne maturada bresaola e a coppa, do lombo) e, depois, as carnes cruas e semicruas, como o carpaccio tradicional com parmesão e rúcula, tataki de novilho com cogumelos e trufa, ou o tártaro de novilho com maionese de alho negro. “A ideia é cada cliente fazer o seu puzzle”, explica Pedro.
Diferentes azeitonas (com a opção de degustação), patés e queijo parmesão também não faltam na carta, assim como tostas de focaccia ou a focaccia clássica. Não admira que as pessoas pensem que vão entrar num espetáculo — perdão, num restaurante — italiano.
Quem não se dá muito bem com puzzles pode optar diretamente por uma das cinco “combinações perfeitas”, desenhadas pela casa. Dois exemplos: presunto de Parma DOP com burrata, azeite, orégãos e rúcula (12€) ou curgete laminada, mozzarella fumada, compota de pimentos e pera cozida (11€).
II Ato
A ação continua pelas focaccias de pizza — que tanto podem ser frias ou quentes — massas e risotos, com destaque, nestes últimos para uma combinação improvável de polvo e castanhas (12€). Quem já mergulhou a fundo na parte de mozzarella bar pode pedir qualquer um destes pratos para dividir com alguém, que não parece mal.
Há uma secção onde as carnes são as atrizes principais, com secretos de porco preto, tornedó de lombo de boi com cogumelos shimeji e um ossobuco de carne Wagyu com puré de batata que salta à vista. Também há “franguinho nas brasas com batata assada” e um hambúrguer de novilho com tomate, cebola caramelizada e mozzarella. Os preços aqui variam entre os 11€ e os 25€.
III Ato
No país do tiramisù e dos melhores gelados do mundo, era fácil perceber que o último ato traria um final feliz. Claro que há tiramisù, com vinho do Porto Tawny (4€). A carta de sobremesas inclui ainda salame de chocolate com amaretti (3,50€) ou tarte de ricotta de búfala com doce de abóbora e canela (3,50€).
Mas não é tudo. Há, entre outras coisas, um doce de memórias: a gelatina de laranja na laranja, um doce que a mãe de Pedro e Inês lhes fazia nas festas de aniversário, com gomos de laranja que as crianças levavam à boca para imitar sorrisos. De Itália chega um sorvete de limão e um gelado de café, ambos servidos em bolas, como tem de ser.
Cenário
Nas paredes está um pouco da vida da proprietária, que viveu em São Tomé e Príncipe. Em baixo são muitos os objetos de decoração onde dá para pousar os olhos. No andar de cima, as paredes estão cobertas por mapas e fotografias, enquanto o enorme queijo parmesão tem um escaravelho pousado. Não é preciso chamar já a ASAE, que o bicho é de plástico. “Muita gente nos pergunta porque é que temos como imagem de marca o escaravelho. Tem a ver com a pureza de uma comida saudável, mas também com uma praga que se pode vir a instalar. Uma praga boa, já que em algumas culturas o escaravelho é um símbolo de sorte”, explica.
Se a ideia é servir saudável — excetuando os fumados –, o óleo não entra em nenhuma das duas cozinhas — a primeira, pequena e aberta, no primeiro andar, e a segunda mais espaçosa, no piso de baixo. Por falar nele, é aí que fica também “a mesa comunitária”, como lhe chama Pedro Mendonça, que tanto dá para um grupo grande como para portugueses e turistas meterem conversa uns com os outros.
Já existe uma esplanada ao fundo, nas traseiras, mas a ideia é instalar mais 30 lugares no Largo de São Domingos, logo que saia dali a instalação com 1500 martelos de São João. Resta saber se este escaravelho vai pôr mais ovos, isto é, se haverá mais restaurantes. “Ainda é cedo para dizer”, conclui Pedro Mendonça. Aspettiamo.
Nome: Puro 4050
Morada: Largo de São Domingos, 84, Porto (Baixa)
Horário: De segunda a sábado das 12h30 às 15h00 e das 18h30 às 23h00. Encerra ao domingo
Preço Médio: 25€ a 30€
Reservas: Aceitam
Site: www.puro4050.com / www.facebook.com/Puro-4050