Ser europeu não pode ser, em si, uma sanção“, afirmou esta sexta-feira Mário Centeno em Lisboa. Na abertura de uma conferência para debater “O Futuro da Indústria Europeia“, organizada pela CIP, o ministro das Finanças pediu aos empresários presentes que ajudem Portugal a modernizar a indústria nacional e a tornar Portugal “um país mais forte e mais coeso”. Sobretudo porque a Europa é um “projeto em construção” e, em muitas situações, “um espaço de desigualdade”.

As declarações de Mário Centeno foram proferidas em Lisboa, durante uma conferência sobre “O Futuro da Indústria Europeia”, organizada pela CIP e pela BusinessEurope. Mário Centeno surgiu no painel em substituição do primeiro-ministro, António Costa, que hoje almoça em Almeirim para assinalar a entrada em vigor da taxa de IVA a 13% na restauração (excluindo bebidas).

Mário Centeno começou por dizer que “vivemos momentos de desafio na Europa”. Numa referência à decisão do referendo britânico, o ministro das Finanças disse que estes “são momentos de desafio mas momentos em que temos de olhar para a Europa e perceber que temos de dar uma resposta à cidadania europeia em que se possa reduzir o risco de que ser Europeu passe a ser, em si mesmo, uma sanção”.

“A Europa é um projeto em construção, tem a mais jovem moeda do mundo — é ela, em si mesma, uma instituição que está incompleta. E temos de ter a visão de que o único caminho que podemos seguir é completarmos a construção da UE, melhorando as suas instituições e — mensagem importante para empresários e investidores — temos muito espaço para melhorar”.

Mário Centeno, afirmou que “temos uma Europa diversa, adversa, e desigual“. Neste contexto, “para a economia e para os investidores, quando olhamos para espaços económicos de desigualdade, temos de encontrar um foco para a redução dessas desigualdades”. “Esses só se resolvem se investirmos numa Europa melhor”, diz Mário Centeno.

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Quanto a Portugal, “estamos confrontados com a necessidade de reformular as nossas estruturas produtivas — não numa lógica de regresso ao passado mas de inovação e modernização das empresas”. “É necessária uma indústria que explore lógicas de produção inteligente, empresas ágeis a funcionar em rede, que usam a informação de forma tão eficaz quanto os seus outros recursos”, defendeu o ministro das Finanças.

Mário Centeno explicou, respondendo a António Saraiva, presidente da CIP (ver abaixo), que a recuperação dos rendimentos disponíveis foi o “primeiro de dois tempos” que compõem a política económica do governo. “O programa de recuperação económica está em plena execução” e, aí, Mário Centeno destacou as medidas para a capitalização das empresas e o Plano Nacional de Reformas.

António Saraiva pede ao governo que “aja com celeridade” para aumentar investimento

Minutos antes do discurso de Mário Centeno, o presidente da CIP dirigiu-se diretamente ao governo para defender que “sendo Portugal uma pequena economia aberta, com um equilíbrio externo ainda não completamente consolidado e com um sério problema de endividamento, as políticas expansionistas do lado da procura não podem constituir uma via privilegiada para estimular o investimento“.

Quanto ao fator incerteza, é preciso reconstruir a confiança nos investidores, nacionais e internacionais. E isso só poderá ser feito mediante garantias de estabilidade em torno de reformas consistentes, que coloquem a competitividade e a atratividade no centro das políticas económicas, nomeadamente nos domínios fiscal e laboral. Quanto às dificuldades de acesso ao financiamento, derivadas de estruturas financeiras das empresas muito frágeis e dependentes de dívida bancária de curto prazo, é prioritário e urgente a capitalização das empresas portuguesas.

O presidente da CIP pediu a Mário Centeno que “aja com celeridade”.

Sanções? “Esperamos que prevaleça o bom senso”, diz a CIP

O presidente da CIP comentou, também, no seu discurso de abertura dos trabalhos, o voto britânico pela saída da UE. António Saraiva lamentou a decisão do povo britânico mas disse que “é preciso seguir em frente. Este é o momento para reafirmar o compromisso dos restantes membros para com a União Europeia. Depois será necessário reformular a relação com o Reino Unido”.

O voto britânico colocou a nu “fragilidades e incertezas” na União Europeia e “mostrou que há cidadãos que olham para a Europa como uma máquina burocrática e não como um projeto de paz”. É por isso que a provável saída do Reino Unido da União Europeia pode ser uma “oportunidade para mudar o que não está bem na Europa”.

A presidente da BusinessEurope, Emma Marcegaglia, afirmou que o resultado do referendo britânico “cria incerteza e a incerteza é um inimigo do crescimento”.

Continuamos a acreditar muito na União Europeia e é importante que os líderes europeus passem esta mensagem. Temos de minimizar as consequências do Brexit e manter uma cabeça fria. Os outros 27 membros têm de mostrar coesão em torno do mercado único, das políticas de comércio e da moeda única.”

Foi neste ponto que António Saraiva comentou a possibilidade de a Comissão Europeia aplicar sanções por incumprimento da meta do défice em 2015.

“Isto acontece depois de todo o esforço que Portugal fez de consolidação orçamental, que foi visível e reconhecido por todos, e que era obrigatório para restaurar a confiança dos investidores”, lembra o presidente da CIP.

“Não pode ser a Comissão Europeia, agora, a tornar-se um fator de instabilidade. O que esta Europa, virada para os cidadãos, tem de fazer é focar-se na necessidade de crescimento económico, em vez de insistir em mais medidas, que se traduziriam, muito provavelmente, em novos aumentos de impostos. Os cidadãos não iriam perceber.

Esperamos que prevaleça o bom senso“, diz António Saraiva. “A ideia, expressa pelo Presidente Juncker, de que a moeda única não pode ser gerida apenas com base em regras e estatísticas”, acrescentou o presidente da CIP.

Saraiva concluiu dizendo que “a credibilidade da Comissão Europeia está, de facto, em jogo: esta é uma oportunidade de demonstrar que existe discernimento político, sentido de justiça e coerência com uma visão de futuro”.