“Pierre Boutang – Indocile, inclassable, inactuel”
Stéphane Giocanti
(Flammarion, 2016)

Depois de uma biografia de Maurras e de um estudo da família Daudet, Giocanti volta a examinar a vida e a obra de um dos cabecilhas da Action Française. Esta biografia de Pierre Boutang, devoto seguidor de Maurras (e, ao mesmo tempo, capaz de assinar um livro a meias com George Steiner), volta a trazer à baila o mais importante e mais esquecido movimento da direita contra-revolucionária do princípio do século XX.

“El Castillo de diamante”
Juan Manuel de Prada
(S. L. U. Espasa Libros, 2015)

Quando disserta sobre moral, chamam-lhe Chesterton espanhol, pela comunhão de ideias e do vigor linguístico; dos romances, por cá diríamos que escreve à Camilo, a resgatar a língua a uma tradição de riqueza salomónica; Juan Manuel de Prada é delicioso nas minudências – provam-no as crónicas sobre escritores malditos que publica no ABC – e imponente nas grandezas. A prova? Este romance sobre as grandes mulheres da Espanha dourada, Santa Teresa de Jesus e a Princesa de Eboli.

“Cartas Persas”
Montesquieu
(Tinta-da-China, 2015)

Um divertido e muito filosófico romance epistolar dos sarilhos em que Usbek e seu séquito, Persas em viagem pela Europa, se metem por não conhecerem os costumes Ocidentais. Ponto de partida para a tese de que cada povo tem as suas leis próprias que só fazem sentido à luz das suas próprias tradições. Quem gostar, saiba que há também uma continuação portuguesa, essa mais difícil de encontrar: Gama e Castro, no seu Novo Príncipe, usou as personagens de Montesquieu para mostrar a naturalidade das desigualdades.

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“A Amiga Genial (IV volumes)”
Elena Ferrante
(Relógio d’Água, 2014-2016)

Já não é novidade para ninguém o cadinho que junta uma Nápoles pitoresca e cruel, uma amizade trágica e um discurso que consegue dar forma literária à vida moderna. Note-se, no entanto, que a tetralogia de Ferrante tem mais do que isso: o mais difícil de aceitar é a forma como o ideal de independência nacional e familiar do nosso século está longe de trazer felicidade e só prova aquilo que os antigos sempre disseram – é muito mais opressivo ser escravo dos nossos sentimentos do que de vontades exteriores.

“Seis sermões contra a preguiça”
Tiago Cavaco
(Top Books, 2015)

A preguiça é um fenómeno estranho por ir claramente contra nós: não estamos apenas a deixar de fazer o que é bom para nós; deixamos de fazer até aquilo que queremos fazer. Talvez seja arrogância em relação à morte (há tempo para fazer depois), ou talvez, como defende Tiago Cavaco, uma forma encapotada de paganismo vaidoso. Seis sermões, na melhor tradição de ambão, a desfazer o ego, grande culpado por tão curioso defeito.

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Carlos Maria Bobone é licenciado em Filosofia. Colabora no site Velho Critério.