A morte de Camilo de Oliveira deixou de luto aqueles que mais de perto privaram com o ator no mundo do espetáculo. As reações não se fizeram esperar. Destacam-lhe o espírito de trabalho, o rigor e o profissionalismo. Perdeu-se um grande ator, foram dizendo, um a um, os antigos colegas de Camilo de Oliveira. Também Marcelo Rebelo de Sousa, amigo do ator, já lamentou a morte de Camilo.

Em declarações à SIC Notícias, o humorista e apresentador Herman José disse que “se a vida de Camilo de Oliveira fosse uma peça, era uma peça em três atos de sucesso, em que o final é o pano a fechar com imensa dignidade”. Falando pouco depois de a notícia ter sido conhecida, Herman José disse que numa primeira fase tinha opinião pouco favorável de Camilo de Oliveira: “Eu achava-o insuportável, achava-o um cagão insuportável, um tipo armado em vedeta”. Mais à frente, mudou de opinião. “Quando eu fui amadurecendo, fui percebendo o quanto eu estava enganado”, confessou, recordando a ocasião em que confessou “isso mesmo” ao ator Camilo de Oliveira. “E ele ficou a adorar-me nesse dia.”

Da personalidade e postura de Camilo de Oliveira, Herman José destacou a “transparência e caráter” e o respeito que tinha ao público: “Ele tinha um público que respeitava até à exaustão, até ao limite, até se fosse preciso cortar relações com colegas para provar isso”.

O ator Vítor de Sousa, que partilhou os palcos com Camilo de Oliveira, recordou à SIC o perfeccionismo do ator, que nem sempre era fácil, mas que era cheio de talento.

“Eu tenho do Camilo, realmente, a imagem de um grande profissional, nem sempre fácil, porque a sua maneira de querer a perfeição às vezes podia ser mal interpretada, mas era realmente um perfeccionista, um homem cheio de talento, um ator popular e cada vez vão havendo menos atores populares”, afirmou o ator.

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“Soube há dois minutos. Embora soubesse da fragilidade, também pela sua doença, sinto-me profundamente triste. Foi um ator que eu, enquanto público, me diverti muito, o aplaudi muito, foi um ator com quem tive o privilegio de trabalhar, nomeadamente em televisão”, disse ainda.

Simone de Oliveira, cantora, atriz e antiga colega de Camilo de Oliveira, não deixou de assinalar aquilo que considerava serem as falhas de personalidade do ator. “Quando as pessoas desaparecem são todas ótimas, maravilhosas e deslumbrantes, é um hábito que nós temos. Mas isso não me obriga a dizer que ele era fácil, porque não era. Não era fácil lidar com ele e tenho de lhe dizer que chorei muito. Era um homem prepotente.”

Apesar de reconhecer que teve algumas mágoas com Camilo de Oliveira, Simone não deixou de realçar, em declarações à TVI24, que o país perdeu “um daqueles atores que já não existem”.

O mesmo disse Ruy de Carvalho. Na SIC Notícias, o ator lembrou Camilo como “um criador de bonecos, personagens, muito engraçados que ele fazia com muita classe” e lamentou a morte do artista. “É uma grande perda para nós. É mais uma grande perda para o espetáculo e para o teatro em Portugal.”

Júlio Isidro, também ele com uma longa carreira, mas como apresentador de diversos programas de televisão, recordou, em declarações à SIC, alguns pormenores da vida de Camilo Oliveira mais privados, lembrando que o ator nasceu num teatro – “ninguém pode ser mais ator que alguém que nasceu num teatro” -, e a sua paixão pela pesca, o único hobby que tinha para além da sua profissão e um que dominava com grande mestria: “era um magnífico pescador”.

“Ficará para sempre na nossa memória, do meu ponto de vista, sem dúvida nenhuma, como o último grande comediante”, disse o apresentador, lembrando que Camilo de Oliveira foi muito inovador para a época e que mesmo nas últimas séries, já com idade avançada, mostrou que dominava o seu oficio de forma extraordinária.

“Eu sabia, e sei também, que era um homem de enorme rigor profissional, com ele e com os outros, mesmo quando os rigorosos são considerados, perdoem-me a expressão, os chatos, mas não é preciso ser rigoroso para se fazer uma carreira com a dimensão que o Camilo conseguiu”, disse ainda. O teatro “perde uma pedra fundamental”.

Também em declarações à estação de Carnaxide, Anita Guerreiro, atriz e amiga de Camilo de Oliveira, não conseguiu esconder a emoção e a surpresa com a morte do ator. Recordou-o como um “grande ator”, um homem “firme”, de “pulso”, como o teatro assim o exigia. “Perdeu-se um grande ator e um amigo”.

“O Camilo fez parte de uma geração de categoria, de classe. De disciplina e de rigor no trabalho” que se foi perdendo nos últimos anos, assinalou também Ana Brito e Cunha. A atriz lamentou a morte de Camilo de Oliveira e fez questão de elogiar a “grande bravura e coragem” do ator por se ter despedido dos palcos quando ainda era adorado pelo público.

A cantora Maria José Valério também deu o seu testemunho. “Sempre vi no Camilo uma pessoa de força. Era um homem excecional, que ajudava as pessoas. Um grande ator que ficará sempre na história do teatro. O teatro está de luto e foi um bocadinho de mim que se foi também. O Camilo ficará para sempre no meu coração”, assegurou a artista, em declarações à SIC Notícias.

Florbela Queiroz, que contracenou com Camilo de Oliveira em “Quando ela se despiu”, afirmou que deve ter sido “a atriz que mais vezes contracenou” com Camilo de Oliveira, que apontou como “um amor de pessoa fora do palco”.

“Dentro do palco tínhamos de saber lidar com ele, com aquela mania exagerada da perfeição e do profissionalismo, às vezes era difícil, apesar de nos termos sempre dado muito bem, pois no fundo o que ele queria era um bom espetáculo”, afirmou em declarações à agência Lusa.

O Camilo de Oliveira, realçou a atriz, “era um excelente ator, um grande profissional de teatro, e cá fora era divertido, um ‘gentleman’, ia para a pesca com as pessoas, era um amor de pessoa”. “Foi um dos atores mais populares que o teatro conheceu”, rematou.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda “humor muito doce” de Camilo de Oliveira

Também o Presidente da República já lamentou a morte do ator. À margem de uma vista à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais, Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para lembrar o “humor muito doce, muito português” de Camilo de Oliveira.

Amigo de Camilo de Oliveira, Marcelo Rebelo de Sousa revelou ainda ter estado com o artista “há um mês e meio”, quando o ator esteve internado no Hospital de Cascais. Apesar de revelar já um estado de saúde “muito frágil”, nem aí abandonou o “humor de sempre”, recordou Marcelo.

“Ele tinha um humor muito doce, um humor muito português e durante décadas animou muitos portugueses e portuguesas e nós não esquecemos isso no momento em que nos deixa”, assegurou o Presidente da República.

Entretanto, a página da Presidência da República já divulgou uma nota de condolências assinada pelo próprio Marcelo Rebelo de Sousa, onde o Presidente reforça a importância de Oliveira para a comédia popular portuguesa.

“Ainda há poucas semanas tive oportunidade de recordar histórias antigas, no hospital onde o ator estava internado. Porque a vida de Camilo de Oliveira é uma vida de histórias: mais de seis décadas de teatro, de Buarcos ao Parque Mayer, programas de televisão marcantes como ‘Sabadabadu’ e as sucessivas séries de ‘Camilo’ (o nome próprio bastava para identificá-lo)”, escreveu na mensagem publicada na página de internet da Presidência.

Sporting: morte de Camilo deixa “família leonina mais pobre”

O Sporting Clube de Portugal lamentou este domingo a morte do ator Camilo de Oliveira, referindo que a família leonina fica mais pobre com a partida de um dos seus mais notáveis membros.

Na página oficial do Sporting, o clube manifesta a sua profunda consternação pelo desaparecimento de uma figura ímpar do teatro e da cultura portuguesa, mas também de um sportinguista assumido e empenhado.

“Camilo de Oliveira foi ‘rugido de Leão’ de 2008 e integrou a Comissão do Centenário do Sporting Clube de Portugal”, lê-se no comunicado.