A dirigente da comunidade israelita de Lisboa Esther Mucznik considera que a morte do Prémio Nobel da Paz e sobrevivente dos campos de concentração nazis Elie Wiesel é a perda de uma voz de alerta contra a injustiça.

“Eu acho que se perdeu uma voz que se erguia sempre contra todas as injustiças e uma voz também pela memória, contra o esquecimento, aquilo que ele chamava uma segunda morte dos judeus e de todos os que foram mortos no holocausto”, disse este domingo Esther Mucznik. Tal como outras comunidades judaicas têm manifestado pelo mundo fora, “a comunidade judaica portuguesa tem o mesmo sentimento de perda”.

Eliezer Wiesel, autor de mais de 30 ensaios e romances, nasceu, a 30 de setembro de 1928, na localidade húngara de Sighet, atual Roménia, mas é cidadão norte-americano desde 1963.

Considerado “um filho do genocídio”, Elie Wiesel tinha 15 anos quando foi deportado, juntamente com sua família, para o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia, onde morreram a mãe e a irmã mais nova. Posteriormente, esteve no campo de Buchenwald, no leste da Alemanha, onde morreu o pai.

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“Elie wiesel é o eterno sobrevivente que fica com a alma marcada por isso e que toda a vida vai testemunhar (…) não apenas aquilo que passou, mas também contra a injustiça. É um homem que, mais do que descrever a sua experiência, é um homem que se interroga como foi possível. E é um homem profundamente atormentado por uma dúvida que nunca consegue obter uma explicação”, destacou Esther Mucznik.

A representante da comunidade judaica destacou ainda outra dimensão de Wiesel, “que é o seu combate contra as injustiças, sejam elas qual forem”.

“Elie Wiesel ganhou o Prémio Nobel da Paz devido à sua denúncia permanente de todos os massacres, os genocídios que depois aconteceram. (…) É uma voz que se levanta sistematicamente não só para lembrar o holocausto, mas para, partindo do holocausto, denunciar todas as injustiças que reinam pelo mundo até hoje”, afirmou, destacando, entre outras, as situações no Camboja, na Arménia e a situação dos judeus na ex-URSS.

Defensor dos direitos humanos, Wiesel denunciou o racismo e a violência em todo o mundo. Entre as suas publicações mais conhecidas encontra-se “Trilogia da Noite”, que escreveu a propósito das suas experiências nos campos de concentração, e que inclui “Noite” (1958), “Amanhecer” (1960) e “Dia” (1961).

Além do Nobel da Paz, Elie Wiesel foi agraciado com a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo Presidente dos EUA, com a Medalha de Ouro do Congresso norte-americano e com a Grã-Cruz da Ordem Nacional da Legião de Honra francesa.

Com a sua mulher, Marion Rose, criou a Fundação Elie Wiesel para a Humanidade. Em maio de 2014, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanhayu, propôs o seu nome para suceder a Shimon Peres como Presidente do Estado de Israel, mas Wiesel não tinha nacionalidade israelita para poder ocupar o cargo.