À sombra de uma videira brava é servido um copo de espumante colheita de 2013 — o tom rosé claro dá-nos as boas vindas ao enoturismo da Cartuxa, porta-estandarte da produção de vinho da Fundação Eugénio de Almeida. O habitual calor abrasador do Alentejo tirou folga e ajuda-nos a ir em frente com o roteiro proposto: depois da visita à adega, a ideia é sentar à mesa na nova Enoteca da marca, no centro histórico de Évora, cidade património da Humanidade há mais de 30 anos.

Vizinho do templo romano e da Sé Catedral, o espaço que antes era explorado pelo Convento do Espinheiro sofreu obras para agora abrir as portas onde antes estava uma janela. Mas não é só de disposição que se fala: na Enoteca da Cartuxa, oficialmente inaugurada esta segunda-feira, a gastronomia alentejana é reinventada e trazida à mesa em bandejas improvisadas, para ser partilhada.

Os petiscos à base dos produtos da terra — desde tábuas de paio do lombo a bochechas de porco, pimentão da horta, cogumelos e farofa — são os príncipes da casa, embora também haja pratos de sustento, de fazer esticar o estômago (tal como a saborosa açorda de camarão, acompanhada de tomate e coentros). E quando chega a hora da sobremesa, uma coisa fica clara: os doces têm menos açúcar do que o habitual. Não, não é erro de medição, antes filosofia da casa que, por enquanto, tem a consultoria do conhecido chef Vítor Sobral.

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Mas se os petiscos são os príncipes, por onde andam os reis? Nos copos da marca austríaca Riedel, claro. Por aqui é possível servir oito vinhos a copo, quatro tintos e quatro brancos (Pêra Manca branco incluído, sendo que o tinto apenas é vendido à garrafa). Aos copos de marca juntam-se os talheres da Cutipol, louças da Vista Alegre que pretendem imitar as porcelanas de antigas tabernas e os ténis encarnados All Star nos pés dos empregados.

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À zona de refeição somam-se outros espaços, como a loja cujas prateleiras fazem uma ode aos produtos do Alentejo, não estivessem elas repletas de queijos, mel, enchidos, bolachas, chocolates com recheio de vinho, amêndoas ou azeites de produção própria. Logo adiante está uma área de exposição da marca, com os diferentes vinhos da Fundação Eugénio Almeida a piscar os olhos a qualquer enófilo que por ali passe, e ainda uma sala semi-exterior para grupos.

A ideia é apelar a dois públicos diferentes, isto é, convidar os eborenses a saborear o que de melhor a fundação tem e dar a conhecer a comida e os vinhos alentejanos aos turistas que se aventurarem por estas bandas.

A Enoteca da Cartuxa está aberta de segunda a sábado, das 12h00 às 22h00. Rua Vasco da Gama, 15, Évora. Tel.: 266 748 348

O vinho que os monges abençoaram

Mas antes de encher o estômago, importa conhecer os vinhos sob a chancela da fundação. A Adega da Cartuxa, na Quinta de Valbom, fica a poucos minutos de distância da cidade eborense. Está inserida num edifício datado do século XVI que em tempos serviu como casa de repouso dos Jesuítas, expulsos em 1759. Mais tarde foi parar às mãos do Estado, que aí apostou na produção de vinho, e só depois foi adquirida pela família Eugénio de Almeida.

Serve a curta lição de história para contar que, onde antes estava o refeitório dos Jesuítas, encontram-se agora 28 tonéis de carvalho francês, onde estagiam os melhores vinhos da marca — sim, também ali descansa e evolui o tão cobiçado Pêra Manca, ainda que o estágio seja feito por castas e não enquanto produto final. Entre paredes grossas e tetos abobadados — sempre ao som de orações gravadas previamente — dá-se também de caras com depósitos de vinho com capacidade para 32 mil litros. Estão inativos desde a década de 1990, é certo, mas não deixam de encher o olho e de despertar a curiosidade de quem por ali vagueia.

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A sala das barricas é, para muitos, os ex-líbris deste enoturismo. Pé direito baixo, tetos igualmente abobadados e 44 barricas novas fazem as vezes de decoração numa divisão que convida a provar as seis marcas de vinhos que a fundação produz. E bem no fundo da sala está uma pequena adega, guardada por grades de metal escuro e por uma fechadura que nem quem faz as visitas guiadas diz ter a chave. O motivo de querer “arrombar” a porta provavelmente centenária prende-se com os Pêra Manca dos anos 1950 que ali repousam, à espera de um certeiro saca-rolhas.

A propriedade descrita é uma das cerca de 10 que fazem parte da Fundação Eugénio de Almeida e que, juntas, totalizam mais de 6 mil hectares de produção — sensivelmente 500 deles destinam-se às vinhas. E entre tanta terra fértil está o Mosteiro da Cartuxa, que inspirou o nome da adega devido à sua proximidade e onde os Monges Cartuxos levam uma vida solitária de oração desde o século XVI.

Provas de vinho a partir dos 5 euros. Quinta de Valbom, Estrada da Soeira, Évora.