Noutros tempos, os romances e a ficção mergulhavam os leitores nas páginas dos jornais. O livro As Pupilas do Senhor Reitor de Júlio Dinis, antes de ter capa e lombada, foi um conjunto de capítulos publicados semanalmente no Jornal do Porto em 1886. A tradição dos folhetins remonta ao universo literário da Europa e dos Estados Unidos durante o século XIX e serviu de inspiração ao projeto do Centro Nacional de Cultura (CNC). A aventura começou na passada sexta-feira e agora, todas as semanas será publicado um novo capítulo do romance Um Estranho Enigma, feito por dez escritores portugueses, à vez.

“O que se pretende é utilizar as novas tecnologias e regressar aos folhetins continuados”, explica Guilherme d’Oliveira Martins ao Observador. O administrador da Fundação Calouste Gulbenkian faz parte da direção do Centro Nacional de Cultura e é um dos responsáveis pelo novo projeto da instituição. A publicação do romance vai ser feita ao longo dos meses de julho e agosto, todas as sextas-feiras, onde cada capítulo é da responsabilidade de um escritor diferente. Um destes: Afonso Cruz, Ana Margarida Carvalho, António Carlos Cortez, Djaimilia Pereira de Almeida, José Jorge Letria, Luísa Costa Gomes, Manuel Alberto Valente, Maria do Rosário Pedreira, Nuno Júdice e Patrícia Portela

Cada um vai continuar a história do romance que o outro escritor deixou pendente, sem saber quem o escreveu. Sim, os capítulos disponibilizados no site do CNC não estão identificados: nem os leitores, nem os escritores convidados conhecem a autoria dos textos. Apenas no final serão desvendados todos os pormenores.

“É um processo criativo que tem um caráter pedagógico, é a criatividade no seu estado mais puro”, afirma Guilherme d’Oliveira Martins.

Os objetivos do projeto consistem em demonstrar a “criação cultural em língua portuguesa” e “incrementar a leitura juntos dos mais jovens”. Um dos fascínios, segundo a organização, passa pelo total desconhecimento do enredo do romance Um Estranho Enigma: a cada semana, a história avança consoante o gosto e o trabalho de cada autor.

Os textos são ainda acompanhados pelas ilustrações de Nuno Saraiva, cujo trabalho tem estado presente no design das Festas de Lisboa. Guilherme d’Oliveira Martins espera que o romance ilustrado aproveite uma das características do Surrealismo, ao “criar um cadáver esquisito com vida própria”. Ainda não há perspetiva para o projeto se tornar um livro, porque tudo “dependerá da vontade dos escritores”.

O primeiro capítulo já está disponível no site do CNC e conta a história de Jaime que percorre as ruas aos saltos e aos pulos, apesar dos obstáculos como os bancos de pedra e os passeios de rua com pisos irregulares. Esta sexta-feira há um novo capítulo para ler.

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