Luís Carlos Almeida da Cunha era um miúdo franzino como tantos outros que se agarrou ao futebol. Por gozo e por necessidade. Era um escape, era paixão. Era futuro. Ele gostava mesmo daquilo de dar uns pontapés na bola, sabia que era bom, mas precisava de voar mais alto. Quem o diz é Rui Catalão, um gestor de comunicação e marketing com uma canhota muito jeitosa. Cruzou-se com Nani no Real de Massamá entre 2000 e 2003, mas já se dava com aquela malta há mais tempo. Hoje vibra com os golos do novo jogador do Valencia de forma especial.

“Ele sempre foi um gajo muito franzino — até ir para o Sporting –, mas na brincadeira fazia-se sempre parecer maior. E era quase sempre o mais palhacinho da equipa”, conta ao Observador Rui Catalão, hoje com 28 anos. A memória deste canhoto que jogou no Real entre 2000 e 2007 diz-lhe também que Nani “costumava comer no bar do clube porque em casa as coisas eram complicadas”. Em campo, as complicações varriam-se do mapa: “Era um mágico”.

“Há um jogo mítico em Massamá, do Real contra o Benfica: Nani contra Manuel Fernandes. Parecia que estavam a jogar sozinhos. Acho que ficou empatado, mas não me lembro bem”, conta, via Facebook, este homem que agora vive na Holanda.

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Rui Catalão lembra alguém “focado”, que “treinava bem”. Era, de facto, “a maior promessa do clube”. Ninguém no clube duvidava: “Diziam que ia dar estrela. Ele jogava em todo o lado na frente, mas era sobretudo médio ofensivo ou ala. O jogo passava todo por ele”.

Catalão entrou em 2000 para o clube, por isso viu Nani, que jogava num escalão acima, durante três anos. O extremo mudou-se para a academia do Sporting em 2003. “Eu andava pelas mesmas zonas do campo que ele, só não era tão bom”, reconhece, deixando ainda uma memória feliz.

“Ainda assim, no último ano antes de ele ir para o Sporting, ganhei o prémio de melhor jogador da formação do Real, à frente dele — ele foi o melhor dos juvenis, eu estava nos iniciados. Foi o meu pequeno troféu”, escreve, orgulhoso, com um smile com uma língua de fora.

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“Ele sabia que era bom, mas sabia também que tinha de trabalhar muito para chegar longe. Por outro lado, as dificuldades que tinha na vida fora do futebol faziam com que se entregasse ainda mais àquilo”, assegura. “Mas divertia-se muito com o futebol, acho que isso também fazia a diferença. A partir do momento que deu o salto para o Sporting, tive a certeza de que ia muito longe, sim. Ele só precisava que um clube grande pegasse nele para o lapidar e o Sporting fez isso mesmo.”

Para este homem da comunicação, “falar na formação do Real, é falar no Nani”. “Toda a gente o usa como exemplo. Desde que deixei de jogar lá, em 2007, cortei por completo a ligação com o clube, mas tenho a certeza de que ainda hoje usam a história dele como forma de convencer miúdos a escolher o Real em vez de outro clube.”

RC

Rui Catalão (o quarto da direita, em cima), nos infantis do Real de Massamá, em 2000 (D.R.)

Fazer do futebol carreira não é fácil e Catalão até piscava o olho a tal coisa, mas… “Faltou-me uma ponta de talento, de trabalho e se calhar de sorte para chegar mais longe”, explica. “Deixei de jogar devido a uma lesão nos joelhos. Nessa altura já estava na faculdade e pareceu-me mais lógico apostar a fundo nos estudos do que investir tempo numa carreira pela III Divisão ou IIB.”

Nani está a ser decisivo neste Campeonato da Europa, no qual Portugal já alcançou a final, com três golos em seis jogos. Serão os golos de Nani, um ex-Real como ele, mais especiais? “Sim, claro. Há sempre uma ligação diferente com ele, que não há com o resto dos jogadores da seleção. Alguns, como Rui Patrício e Adrien, até chegaram a ser meus adversários, mas nunca é a mesma coisa. E, mesmo numa fase em que já não nos víamos com regularidade, cheguei a estar com o Nani algumas vezes e ele sempre foi impecável. Falávamos um pouco de pessoas que temos em comum e de algumas coisas dos tempos do Real.”

E o Nani, será que vai marcar na final? “Ui, sei lá. Não sou o professor Chibanga…”