Depois de Portugal, do Chelsea, do regresso de má memória à seleção brasileira (os 7-1 sofridos na meia final frente à Alemanha no Mundial de 2014 fizeram esquecer como fora campeão com a canarinha em 2002), de tanta caminho e tanto clube, onde anda Luiz Felipe Scolari, o homem que entusiasmou os portugueses há 12 anos e conseguiu que desfraldassem milhões de bandeiras verde e vermelhas?

O ‘sargentão’ mudou-se para a China, onde, desde 2015, treina o Guangzhou Evergrande. Foi campeão, conseguindo assim o pentacampeonato da Superliga chinesa, uma prova disputada por 16 equipas, e que decorre entre março e outubro. E é lá, nesta importante cidade a sul do território chinês, 120 km ao norte de Hong Kong, nas margens do rio Zhu Jiang, que vai ver o jogo e torcer por Portugal. E foi de lá, por mail, que respondeu às 14 perguntas que o Observador lhe quis colocar antes da final deste domingo entre Portugal e França.

Afinal, Felipão, o que é preciso mudar para Portugal não voltar a perder a final como em 2004?

Estava à espera que esta equipa de Portugal conseguisse chegar à final?

Esperava as dificuldades enfrentadas, mas acreditava que poderia chegar à final.

Fernando Santos disse desde o primeiro dia que só voltava a Portugal no dia 11 de julho. Foi uma estratégia arriscada para um selecionador?

O técnico tem que passar toda a confiança aos seus comandados e assumir o seu planeamento, dando certo ou errado. Concordo plenamente com o seu discurso.

Como avalia o trabalho de Fernando Santos durante este Europeu? Foi acusado muitas vezes de mudar demasiado a equipa e de jogar demasiado pelo seguro. Concorda com estas críticas?

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Excelente. Calmo e tranquilo, passa confiança aos seus comandados. Foi arrumando a equipa dentro das circunstâncias com uma competência admirável. Não concordo com as críticas, embora tenhamos que respeitar, mas cada um pensa da sua maneira e se não fizer daquela maneira, aí sim é que estará errado.

Como se prepara uma final destas? Como se fala com os jogadores? Imagino que não seja necessária muita motivação, mas deve haver muita ansiedade para gerir…

Numa final muitas vezes o que mais temos de fazer é administrar a ansiedade do grupo.

LISBON, PORTUGAL - JULY 4: Cristiano Ronaldo of Portugal in tears with coach Luiz Felipe Scolari after the UEFA Euro 2004, Final match between Portugal and Greece at the Luz Stadium on July 4, 2004 in Lisbon, Portugal. (Photo by Laurence Griffiths/Getty Images)

4 de julho de 2004: Scolari conforta um Ronaldo em lágrimas, depois da final perdida frente à Grécia. Agora acha que a história não voltará a repetir-se (Laurence Griffiths/Getty Images)

Numa final muitas vezes o que mais temos de fazer é administrar a ansiedade o grupo.

Em 2004 a final foi contra uma equipa com a qual Portugal já tinha jogado no campeonato. Desta vez não vai ser assim. Há diferenças na preparação?

Em 2004 tínhamos jogado contra o adversário da final e trabalhámos com dados que tínhamos vivido. Agora é diferente, pois preparamos a equipa baseados em dados colhidos contra outros adversários e as características não são as mesmas dos nossos atletas, os comportamentos são diferentes.

Antes daquele jogo houve algum ritual especial?

Nada houve de diferente, só mesmo a nossa ansiedade pela hora do jogo.

De que é que nunca se vai esquecer daquele dia?

Não esquecerei que mesmo sendo derrotados em nossa casa, ainda tivemos um grande reconhecimento dos torcedores e do povo na sua maioria.

Quando olha para Ronaldo agora, pensando no Ronaldo de 2004, que era um miúdo, o que pensa? Ele é agora um verdadeiro capitão da seleção?

Ronaldo já naquela oportunidade era o que é hoje, um espetacular jogador de futebol e uma pessoa maravilhosa. Sempre teve personalidade, sendo capitão ou não.

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Ronaldo já naquela oportunidade era o que é hoje, um espetacular jogador de futebol e uma pessoa maravilhosa. Sempre teve personalidade, sendo capitão ou não.

Que jogador de 2004 colocaria nesta equipa? E porquê?

É outra geração e estão fazendo sua história, como aqueles fizeram.

Fernando Santos é um homem religioso, como é o Luiz Felipe. Rezou muito antes daquela final?

Rezei, o que sempre faço no dia a dia, pedindo saúde a todos, pois com saúde fazemos tudo.

Poderemos mesmo ganhar?

Quem está na final? Portugal. Só dois chegam às finais e são os melhores, por isto podemos vencer.

Perder uma final é mesmo a pior sensação do mundo (falando de futebol, claro)?

Perder uma final é o pior momento vivido por todos. Sempre vais lembrar de alguma coisa ou algum lance que poderia ser diferente e etc. Mas também vais atrás de outras.

Vai ver o jogo? Onde?

Vou ver o jogo aqui na minha casa em Guangzhou, na China, com os meus amigos que também estiveram aí, Mortoza e Darlan e vamos juntos torcer por Portugal.

Tem saudades de Portugal?

Muitas saudades da seleção, das pessoas com as quais convivi por bom tempo, do pôr do sol de Cascais e de todos os momentos que vivi aí com a minha família. Agradeço sempre por tudo.