Dez dias depois do 11 de setembro de 2001, Ana Belén Montes, foi detida pelo Federal Bureau of Investigation (FBI) por espionagem. A detenção da porto-riquenha, então com 44 anos, nada tinha a ver com os atentados às Torres Gémeas em Nova Iorque mas com a sua atividade espiã. Agora, os documentos relativos à sua atividade foram desclassificados pelo FBI.

A espia recorria a um código para passar as informações ao regime de Havana, baseado numa matriz que o FBI encontrou na mala que usava, revela o epiśodio do documentário “Declassified” emitido pela CNN no domingo passado e baseado nos detalhes do caso agora conhecidos.

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A matriz do código utilizado por Ana Belén Montes. Créditos: captura de ecrã do documentário “Declassified” da CNN

Ana Belén Montes era funcionária do Pentágono e foi espia do governo cubano durante 17 anos. A cidadã norte-americana era especialista em inteligência na Agência de Inteligência da Defesa (DIA) e transmitiu informações ao regime castrista entre 1985 e 2001.

Quando foi julgada, em 2002, declarou-se culpada e foi condenada a 25 anos de prisão. Na altura, o advogado de defesa Plato Cacheris afirmou que a sua cliente agiu por razões ideológicas — por se opor à política norte-americana em relação a Cuba — e “não foi motivada por dinheiro”. Na altura, disse que queria ajudar o país comunista a defender-se.

“Acho que a política do nosso governo em relação a Cuba é cruel e injusta e sinto-me moralmente obrigada a ajudar a ilha a se defender das tentativas de impormos nossos valores e nosso sistema político”, disse Montes ao juiz.

Ana Belén Montes terá identificado quatro agentes norte-americanos que atuavam na ilha sob disfarce e forneceu informações secretas sobre a defesa nacional dos Estados Unidos. Também deu detalhes a agentes cubanos sobre um exercício secreto de treino militar no qual participou em 1996.

Foi recrutada em 1985

Ana Belén Montes nasceu numa base do exército norte-americano, na Alemanha, em 1957. Era a filha mais velha do casal Emília e Alberto Montes, médico do exército dos EUA. A família viveu em várias bases militares, da Alemanha ao Kansas, no Iowa, conta o jornal The Washington Post.

Começou a trabalhar num escritório do Departamento de Justiça em Washington, em 1984, quando fazia um mestrado na universidade de Johns Hopkins. Foi na universidade que chamou à atenção em relação às suas posições em prol do regime cubano, refere a CNN.

Mais ou menos ao mesmo tempo, Ana Belén Montes candidatou-se a um emprego na Agência de Inteligência da Defesa (DIA) e quando começou a trabalhar na DIA já tinha sido recrutada para passar informações ao governo de Havana. Em março de 1985, Ana Belén Montes fez a sua primeira viagem de espionagem clandestina a Cuba, via Madrid e Praga, de acordo com o relatório do Departamento de Defesa agora desclassificado.

Os Estados Unidos cortam as relações diplomáticas com Cuba há quatro décadas, depois de Fidel Castro ter chegado ao poder na ilha, em 1959, na sequência de uma revolução que levou o país a alinhar-se com a União Soviética. E desde 1960 que foi imposto um embargo ao regime cubano.

Em 2014, EUA e Cuba chegaram a um diplomático acordo histórico, embora o embargo não tenha sido levantado de imediato. Barack Obama e Raúl Castro anunciaram o acordo em discursos simultâneos. “Vamos pôr fim a uma abordagem datada que durante décadas falhou os nossos interesses. Vamos começar a normalizar as relações entre os dois países”, disse o presidente dos EUA num discurso televisivo sobre a normalização das relações diplomáticas entre os dois países.