Séries de culto inspiram longas-metragens e o resultado pode ser visto em setembro e outubro nos festivais de cinema Queer Lisboa e Queer Porto.

Absolutely Fabulous: The Movie – com argumento de Jennifer Saunders, criadora da série da BBC Absolutamente Fabulosas – abre a 20ª edição do Queer Lisboa a 16 de setembro, no cinema São Jorge. O filme estará depois a 9 de outubro no encerramento da segunda edição do Queer Porto, no Teatro Municipal Rivoli.

Looking: The Movie, transposição para o grande ecrã da série homónima, vai encerrar o Queer Lisboa a 24 de setembro.

[trailer de Absolutely Fabulous: The Movie]

As novidades foram apresentadas esta terça-feira em conferência de imprensa. A programação completa será revelada em inícios de setembro, mas a organização dos dois festivais, a cargo da associação cultural Janela Indiscreta, quis aguçar já a curiosidade do público.

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Porquê programar dois filmes baseados em êxitos televisivos? “Mera coincidência, mas de alguma forma inevitável”, responde o diretor artístico do Queer, João Ferreira, de 42 anos.

Na abertura e no encerramento, procuramos sempre ter títulos para o grande público. O Absolutely Fabulous estava a ser negociado e procurado por nós desde o início deste ano, foi difícil, fechámos acordo há poucos dias. Há uma geração que conhece muito bem a série [exibida entre 1992 e 2011], mas outra geração mais nova nunca a viu. O filme resulta, independentemente de se conhecer a série. E o mesmo se passa com Looking. Eu próprio não acompanhei muito a série, mas considero o filme um objeto independente”, explica João Ferreira ao Observador.

Looking: The Movie foi realizado por um dos produtores da série, o britânico Andrew Haigh. Teve estreia mundial em junho no festival Frameline de São Francisco, EUA, e será exibido pela HBO na próxima semana, dia 23.

[trailer de Looking: The Movie]

https://www.youtube.com/watch?v=eKKXaX–ifI

A série começou em 2014 e tem sido descrita como um marco na forma de retratar os homossexuais na TV (de par com Queer as Folk/Diferentes Como Nós, de 1999).

História de um grupo de amigos gay de São Francisco que lutam pela suas identidades numa era de aceitação social da homossexualidade, Looking estabeleceu com o público uma forte ligação emocional, pelo que é de esperar uma enchente no encerramento do Queer Lisboa.

Outras das novidades agora apresentadas é uma ampla retrospetiva do britânico Derek Jarman (1942-1994), nome consagrado do cinema queer, cujos filmes foram exibidos por diversas vezes nas primeiras edições do Queer Lisboa (que então se chamava Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa).

Vão ser projetadas longas e curtas-metragens, algumas das quais só há pouco tempo tiveram restauro. A curta Orange Juice, sobre a banda escocesa com o mesmo nome, terá até estreia mundial em Lisboa. Electric Fairy, de 1971, que até há poucos anos se julgava desaparecida, também integra o ciclo.

Quanto ao Queer Porto, de 5 a 9 de outubro, terá direito a uma retrospetiva sobre o New Queer Cinema (Novo Cinema Queer), conceito que descreve alguns filmes independentes de inícios da década de 1990 nos EUA.

The Living End (1992), de Gregg Araki; Poison (1991), de Todd Haynes; e Swoon (1991), de Tom Kalin, são algumas das obras a exibir. Uma forma, segundo João Ferreira, de dar ao público portuense uma visão abrangente do cinema queer, tendo em conta que o festival só no ano passado começou no Porto (depois de um primeiro ensaio em 2014).

[trailer de The Living End]

O próprio Tom Kalin, também autor de Desejos Selvagens/ Savage Grace, vai estar presente na Invicta para uma aula aberta a estudantes de cinema e ao público em geral.

Chegado aos 20 anos de existência, o Queer Lisboa é hoje um evento credível junto do grande público e de potenciais patrocinadores, aponta o diretor artístico.

“Sinto que chegámos a esta data redonda sendo muito respeitados”, congratula-se João Ferreira, à frente do Queer desde 2005.

“Um problema com o qual não temos de lidar há alguns anos é o dos apoios. Cada vez é mais fácil chegar a uma fundação, por exemplo, pedir apoio e conseguir alguma coisa. Se não conseguimos é porque não é mesmo viável, o problema deixou de ser a temática queer do festival.”

A mudança social operada nos últimos anos em Portugal e boa parte do Ocidente, em termos de perceção das minorias sexuais e de género, ajudou a que o festival se implantasse.

“O Queer é sempre politico, nunca deixou de o ser, mas já não temos o propósito ativista do início”, reflete João Ferreira. “Vamos estar sempre ligados a causas, mas foi fundamental, a certa altura, afirmarmo-nos mais como mostra cultural.”

Juntos, Queer Lisboa e Queer Porto tiveram 8.332 espectadores no ano passado e 8.065 em 2014, de acordo com a organização.