Bo e Femke Irik — duas irmãs holandesas — chegaram ao Algarve com dez e oito anos. Já estudantes, passavam parte dos verões a trabalhar. Para “ganharem uns trocos”, dizem. Vendiam bilhetes aos turistas, para ver golfinhos. Foi aí que perceberam o quão “chato” era que este tipo de atividades não pudesse ser comprada pela Internet. Mais de 15 anos depois de chegarem ao país (e sete depois de começarem a trabalhar na indústria), lançaram a SeaBookings, uma plataforma online que vende experiências no mar de cerca de 40 operadores — de passeios de barco a outras atividades náuticas, em Portugal e em Cabo Verde.

[Até aqui, os turistas] tinham de falar com todos os operadores para comparar preços e decidir quais eram as atividades que mais interessavam. Não conseguiam encontrar informação na internet, porque a maioria dos operadores não tem competências de marketing — muitos não têm, sequer, página web ou de Facebook. O processo era chato. Isto permite facilitar o processo de compra e ajudar o operador a ganhar visibilidade e aumentar as suas receitas”, resume Bo, ao Observador.

As irmãs holandesas só vieram para Portugal porque os pais, empresários, “estavam fartos de trabalhar demasiado e de não ter tempo para lazer e convívio”, conta Bo, hoje com 27 anos. Por isso, “venderam tudo — a casa, o negócio e o carro”, acrescenta. Queriam abraçar “uma vida diferente — mais básica, talvez”. E trouxeram as filhas que, hoje, não querem trocar Portugal por nada. “Estamos mais do que estabelecidas cá.” E é cá – no Algarve – que querem continuar a desenvolver a SeaBookings.

O projeto só surgiu em 2014, mas a ideia de negócio nasceu cedo. “Deixámo-la na gaveta”, diz Bo. Até 2013. Nesse ano, Bo já tinha tirado uma licenciatura em Economia, pela Universidade Nova de Lisboa, e um mestrado em “gestão internacional” na Holanda — de onde regressou. A irmã — que tem agora 25 anos — estava a terminar a licenciatura em Gestão, também pela Universidade Nova, e tinha uma certeza: “Não queria trabalhar por conta de outrem”. Foi então que as duas participaram no Nova Idea Competition. Lançaram a SeaBookings no ano seguinte.

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“Começámos com cinco operadores, em Lagos, que já conhecíamos pessoalmente. A ideia foi muito bem aceite. Esses operadores foram-nos recomendando a outros operadores e tivemos muitos contactos depois de enviarmos os nossos press releases“, diz. O crescimento no número de operadores que agregam na SeaBookings tem-se feito assim: “Através de referências entre eles, de uma forma muito natural e orgânica.”

Estes operadores marítimos são os primeiros a reconhecer que “as suas competências fortes são animar turistas, proporcionando boas experiências durante as férias”, diz. Não o marketing. Pelo que não foi difícil convencê-los a integrar a plataforma, até porque, “do lado do operador, não há risco nenhum — não cobramos nenhuma taxa fixa, só nos pagam à comissão”, dependendo das vendas que lhes conseguirem angariar, através da Internet, explica Bo Irik.

Só no passado mês de junho, mais de 500 pessoas marcaram atividades através da Seabookings — o que lhes permitiu faturarem mais nesse mês do que “em metade do ano passado todo”, acrescenta a mais velha, que não quer, contudo, revelar valores de faturação. Os clientes chegam de vários países — “muitos ingleses, holandeses, alemães, belgas e franceses. Depois também temos turistas da América do Norte, sobretudo americanos e canadianos. E algum turismo interno, de turistas que marcam através da Seabookings”, diz.

Depois de dois anos “mais difíceis”, onde tinham “muito que fazer em termos de otimização para Google”, este verão Bo e Femke estão “100% concentradas em Portugal. Tem corrido muito bem”. Uma das grandes apostas de verão é um passeio para observação de golfinhos e grutas, no Algarve, que pode ser feito em duas embarcações — “um barco mais estável e outro mais rígido” — e que custa 35 euros.

A Seabookings já vende serviços em Cabo Verde, mas isso acontece porque um dos 40 operadores nacionais com que trabalham tem atividades lá. “Não foi uma escolha estratégica”. No futuro, o desafio passa por explorar outros mercados. Desde logo “o sul de Espanha, o sul de França, a Itália e a Grécia.”

Facilmente conseguimos replicar o modelo da SeaBookings nestes países. Do lado do operador, já fizemos análises de mercado, ligámos a alguns operadores e é tudo muito idêntico a Portugal. A nossa vantagem é que conseguimos fazer venda remotamente [pela Internet]”, diz.

Até aqui, a SeaBookings não recebeu investimento externo. “Até agora temos feito o chamado bootstrapping [caminho independente de crescimento, sem investidores], com fundos próprios”. A equipa conta atualmente com três pessoas — às duas irmãs juntou-se um informático.

Já Bo e Femke trabalham, agora, separadas por 300 quilómetros: a segunda está em Lagos, “gosta da vida de campo e vive com o namorado”, e a primeira vive em Lisboa, cidade de que se diz “fã” e pela qual está “apaixonada”. Em Portugal, foram “sempre muito bem recebidas”. E talvez tenham tido uma vantagem no mundo dos negócios por serem holandesas, arrisca a mais velha: “Às vezes as pessoas têm interesse adicional por verem duas irmãs loirinhas a tentarem fazer negócio cá”.

*Tive uma ideia! é uma rubrica do Observador destinada a novos negócios com ADN português.