É uma metamorfose com sabor a mentol. Nasceu numa esplanada nas montanhas a Norte de Marrocos. Transformou-se num negócio que vende 1000 experiências por dia e fatura 14 milhões de euros num ano. A ideia de lançar a Odisseias surgiu enquanto Rui Piçarra e Francisco Costa bebiam um chá de menta há 11 anos. Hoje, a empresa transformou-se numa SGPS, lançou uma marca nova e prepara-se para lançar outra até ao final do ano. O administrador do grupo, Francisco Costa, não tem dúvidas: quer que a empresa de experiências seja líder no setor do comércio eletrónico em 2020.

Onze anos depois da primeira conversa entre amigos, no âmbito de uma viagem que ambos organizaram dentro da associação sem fins lucrativos Rota Jovem, números: a empresa que os dois amigos lançaram com cinco mil euros de investimento emprega hoje 86 pessoas e espera contratar mais 50 até ao final do ano. Tem um volume de negócios que cresceu 17% em 2015 e que prevê atingir 16 milhões de euros no final de 2016. Deste crescimento, 75% corresponde ao mercado das experiências e 25% à venda de produtos físicos no site da marca.

“Eu sonhei um bocadinho mais do que o Rui. No primeiro Excel que fizemos, a nossa grande discussão era esta: eu achava que nós conseguíamos vender três experiências por dia e ele achava que não. Para depois vendermos cerca de 1000 experiências. Nunca nenhum de nós achou que chegaria até aqui”, conta Francisco Costa ao Observador.

Em onze anos, a Odisseias recebeu cerca de 95 mil euros de investimento, em capitais próprios. Primeiro, dos fundadores, depois de um terceiro sócio que se juntou mais tarde à equipa. “O investimento tem sido feito com o retorno que a empresa dá”, explica o administrador da empresa que se transformou num grupo empresarial em 2015. Foi deste grupo que nasceu o mais recente projeto da marca — a Saúde Livre –, uma plataforma online para a marcação de consultas, exames e tratamentos a preços mais acessíveis.

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Francisco Costa explica que o objetivo da Saúde Livre não é o de tornar-se num seguro de saúde, mas permitir que os utentes marquem consultas a preços competitivos pela internet. E a hipótese de internacionalizem o conceito não está posta de parte. O administrador do grupo afirmou que, a avançar com algum plano além-fronteiras, seria sempre com uma marca que não a Odisseias.

“Com a marca Odisseias, de certeza que não nos internacionalizamos, porque é um mercado que já está ocupado. Com outros projetos, não quer dizer que isso não possa acontecer. Um projeto como a Saúde Livre, por exemplo, é perfeitamente internacionalizável”, explicou.

Para serem líderes em e-commerce em 2020, os fundadores da Odisseias estão a pensar lançar outros projetos além do Saúde Livre. Por enquanto, o site de marcação de consultas e exames já conta com uma taxa de conversão de 1,5%, mas os fundadores da Odisseias esperam lançar ainda mais um projeto durante 2016. “Ainda este ano vai surgir mais uma marca dentro do grupo, provavelmente no setor de vendas de produtos físicos. Acreditamos que temos de aproveitar as sinergias que temos no grupo, diversificando o negócio”, afirmou.

Tráfego vindo do mobile atinge cerca de 50%. Sem app

A Odisseias foi a sexta empresa portuguesa que mais cresceu em termos de faturação a nível europeu, de acordo com o ranking Inc. 5000 Europe de 2016. Só o departamento de Corporate — venda de experiência a empresas — cresceu 101% em 2015. Em 2016, prevê crescer 122%. Francisco Costa explica que em termos de faturação ainda não é um segmento com muito impacto nas contas da empresa — faturou cerca de 400 mil euros no ano passado–, mas que o objetivo é chegar a um milhão de euros no final de 2016.

“Acho que esta subida tem a ver com duas coisas: alguma recuperação económica, que faz com que as empresas voltem a apostar em incentivos, e também a nossa aposta no setor. Estamos a reforçar as nossas equipas e acreditamos que vamos dar um salto grande”, refere Francisco Costa. Como funciona? As empresas estabelecem contratos com a Odisseias para que os seus colaboradores possam usufruir de experiências à medida que vão cumprindo com objetivos.

Para o administrador da Odisseias, o grande desafio agora é o mobile, ou seja, aumentar as taxas de conversão das compras efetuadas em smartphones e tablets. Quando a empresa arrancou, o tráfego móvel era zero, explica o administrador, há cerca de três anos era de 3 ou 4% e neste momento está perto dos 50%. Mas a empresa não desenvolveu ainda nenhuma aplicação móvel.

“Não temos uma app, porque achamos que temos de encontrar o fator diferenciador, que leve o cliente a querer instalá-la. As apps com modelos transacionais de e-commerce em Portugal têm, tipicamente, pouco sucesso em Portugal, porque não há uma grande vantagem em instalar a app Vs. aceder ao browser no site. E o nosso site está totalmente adaptado aos dispositivos móveis”, revela o administrador.

Ainda no mobile, os desafios passam por aumentar as taxas de conversão em relação às obtidas nos pedidos feitos pelos computadores. “Temos de encontrar estratégias para que os consumidores convertam mais no telefone ou então para conseguir ’empurrá-los’ — consultam no telefone e depois convertem em desktop. Estamos muito empenhados neste desafio”, afirma Francisco Costa.

Quando Francisco e Rui levaram cerca de 20 pessoas durante duas semanas a Marrocos estavam longe de imaginar que 11 anos depois estariam a empregar 86 pessoas e a faturar 14 milhões de euros. Pelo caminho, o maior concorrente da Odisseias — A Vida é Bela — faliu em 2012, deixando centenas de milhares de euros em dívidas. Como é que a empresa liderada por Francisco Costa sobreviveu à crise económica que se viveu em Portugal? Focando-se no online.

“A Vida é Bela apostou fortemente no retalho, o online não era muito relevante. E nós tivemos uma estratégia diferente, diversificámos muito o nosso negócio entre o retalho e o online. E isso permitiu-nos estar sempre a crescer. Acho que essa foi uma das grandes diferenças. Com o desaparecimento d’A Vida é Bela, demos um salto grande no retalho, porque desapareceu ali um player“, conta Francisco. Sem nunca terem saído do país.