António Guterres venceu esta quinta-feira a primeira votação para secretário-geral da ONU, avança a AFP, citando fontes diplomáticas.

O voto é secreto e foi organizado esta quinta-feira, entre os 15 membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Guterres, ex-alto comissário para os refugiados da ONU, ficou à frente do esloveno Danilo Türk, que ficou em segundo lugar.

Há 12 candidatos na corrida para suceder a Ban Ki-moon, que termina o seu mandato no final de 2016, depois de ter estado cinco anos em funções.

Tradicionalmente, tem-se verificado uma rotação geográfica na atribuição do cargo de secretário-geral da ONU. Para o mandato que terá início a 1 de janeiro de 2017 seria de esperar que fosse escolhido um candidato da Europa de Leste. Por isso, têm-se destacado a búlgara Irina Bokova, diretora-geral da UNESCO, e o ex-presidente esloveno, Danilo Türk.

Entre outros candidatos estão ainda Helena Clark, da Nova Zelândia, e Susana Malcorra, ministra dos Negócios Estrangeiros da Argentina.

Na carta enviada a todos os representantes e observadores da ONU pelo presidente da Assembleia Geral, Mogens Lykketoft, presidente da Assembleia Geral, e Samantha Power, Presidente do Conselho de Segurança, traçaram o perfil do líder ideal:

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A posição de secretário-geral é de grande importância e exige os mais altos padrões de eficiência, competência e integridade, e um compromisso firme para com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas. Convidamos à apresentação de candidatos com provas dadas de liderança, capacidades de gestão, vasta experiência em relações internacionais e fortes competências diplomáticas, comunicacionais e de vários idiomas.”

António Guterres lançou a sua candidatura em junho, tendo criado para isso uma página oficial: antonioguterres.gov.pt

O que significa ganhar a primeira votação?

A escolha do secretário-geral da ONU é um processo longo e feito maioritariamente em negociações de bastidores. Mais do que consequências definitivas, as votações são sobretudo indicativas.

Oito líderes em 70 anos

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A Organização das Nações Unidas tem 70 anos e teve oito secretários-gerais:

  • Ban Ki-moon cumpriu dois mandatos: entrou a 1 de janeiro de 2007;
  • Kofi A. Annan (Gana), entre janeiro de 1997 e dezembro de 2006;
  • Boutros Boutros-Ghali (Egito), entre janeiro de 1992 e dezembro de 1996;
  • Javier Pérez de Cuéllar (Perú), entre janeiro de 1982 e dezembro de 1991;
  • Kurt Waldheim (Áustria), entre janeiro de 1972 e dezembro de 1981;
  • U Thant (Burma, atual Myanmar), entre novembro de 1961, (a nomeação formal só aconteceu um ano depois) e dezembro 1971;
  • Dag Hammarskjöld (Suécia), entre abril de 1953 e setembro de 1961, quando morreu num acidente de avião;
  • Trygve Lie (Noruega), entre fevereiro de 1946 e novembro 1952.

Cada mandato dura cinco anos e não há um limite para o número de mandatos que cada secretário-geral pode cumprir. Contudo, ainda ninguém esteve na liderança por mais do que dois mandatos.

Conforme explica a ONU, “o secretário-geral é nomeado pela Assembleia Geral, sob recomendação do Conselho de Segurança. Por isso, a escolha do secretário-geral é suscetível de ser vetada por qualquer um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança“.

Quer isto dizer que a votação desta quinta-feira não serviu de nada? Não. Esta primeira votação serviu para os 15 membros do Conselho de Segurança — os cinco permanentes que são a China, os Estados Unidos, a Rússia, a França e o Reino Unido, mais os 10 membros rotativos — expressarem o seu encorajamento, ou desencorajamento, a cada um dos 12 candidatos. Na sequência destes votos, os candidatos são informados dos resultados e é esperado que os menos encorajados acabem por desistir da corrida.

Ou seja, o facto de António Guterres ter sido o mais encorajado é um bom indicador de que poderá receber o apoio suficiente para vir a ser apresentado à Assembleia Geral da ONU.

A escolha vai assim sendo feita por rondas de votações — e sucessivamente influenciada pelas negociações de bastidores entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. A expectativa é chegar a outubro com um único nome para apresentar à Assembleia Geral.