A Polícia Federal brasileira deteve, esta quinta-feira, um grupo de dez suspeitos de estar a preparar um ataque terrorista no país durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016, informa o jornal O Globo. Ao todo foram emitidos doze mandados temporários que foram expedidos pela 14ª Vara Federal de Curitiba, onde o processo decorre em sigilo. Dois suspeitos ainda estão a ser localizados. Segundo um comunicado de imprensa da Procuradoria da República no Paraná, os suspeitos ficarão detidos por 30 dias, “prorrogáveis uma vez por igual período”.

O ministro da Justiça brasileiro, Alexandre de Moraes, afirmou numa conferência de imprensa que o grupo passou de “comentários sobre o Estado Islâmico” a “atos preparatórios”, motivo pelo qual foi necessária a atuação do governo.

De simples comentários sobre o Estado Islâmico, eles passaram para atos preparatórios, a partir do momento em que passaram para atos preparatórios, foi feita prontamente a atuação do governo federal realizando simultaneamente as 10 prisões desses supostos terroristas, que se comunicavam pela internet”, afirmou.

De acordo com as autoridades brasileiras, o contacto entre os suspeitos “dava-se essencialmente por meio de redes sociais, Telegram e demais modos de comunicação virtual, espaço no qual também divulgavam ideais extremistas e de perseguição religiosa, racial e de género”. Nas mensagens monitoradas pelo governo brasileiro, um dos integrantes do grupo “conclama interessados a se organizarem para prestar apoio ao Estado Islâmico com treinamento já em território brasileiro”.

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Dois dos suspeitos detidos já terão feito um juramento de fidelidade ao Estado Islâmico e terão cadastro criminal. “Apenas dois deles tinham contacto [com o Estado Islâmico]. Eles inclusive já cumpriram pena de prisão por homicídio. Mas os outros não tinham contacto. Eles não se conheciam e inclusive usavam nomes falsos. Eles nunca marcaram encontro”, explicou Moraes.

O ministro da Justiça brasileiro revelou ainda que havia contactos entre o grupo e um vendedor de armas no Paraguai, para adquirirem espingardas kalashnikov. A compra das armas ainda não foi confirmada. O grupo, no entanto, era uma “célula absolutamente amadora” e não tinha “nenhum preparo”. “Aparentemente, era uma célula absolutamente amadora e sem nenhum preparo, porque as mensagens eram ‘vamos treinar artes marciais’, ‘vamos começar a aprender a atirar'”, garantiu Moraes. Eles terão celebrado, através do Telegram, os atentado de Orlando e de Nice.

De acordo com o procurador da República responsável pelo caso, Rafael Brum Miron, “as provas colhidas até o momento possibilitam o enquadramento dos investigados, no mínimo, nos tipos penais que estipulam ‘promover’ ou ‘integrar’ organização terrorista como crime”. O governo brasileiro confirmou ainda que existem cem suspeitos de serem simpatizantes de grupos terroristas no país, entre brasileiros e estrangeiros a residir no país.

As detenções desta quinta-feira decorreram no âmbito da Operação Hashtag, iniciada esta manhã com o objetivo de investigar a integração e promoção de brasileiros no Estado Islâmico.

Esta terça-feira um outro grupo brasileiro já tinha declarado lealdade ao Estado Islâmico. O grupo Ansar al-Khilafah Brazil, declarou lealdade a Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Estado Islâmico, através da aplicação Telegram.

“Há uma exaltação frequente a atos terroristas”

Numa conferência de imprensa, o juiz Marcos Josegrei da Silva, responsável pelos mandatos de prisão preventiva atribuídos aos suspeitos, disse que a “exaltação ao terrorismo” nas mensagens monitoradas foi uma das justificativas para a ação judicial. “Há uma exaltação frequente a atos terroristas. Há afirmações de que as pessoas efetivamente integrariam organização terrorista. Há exaltação a atos terroristas acontecidos recentemente ao redor do mundo e afirmações do tipo que aquele ato é um ato nobre, um ato que deve ser parabenizado, que deve ser congratulado”, descreveu o juiz.

Josegrei confirmou que as idades dos suspeitos eram variadas, “dos 20 aos 40 anos”, e que usavam nomes de utilizador árabes em redes sociais e de mensagens, “apesar de nenhum deles ter aparentemente ascendência árabe”.

Contrariamente à declaração do ministro da Justiça brasileira de que havia um líder no grupo, residente na cidade de Curitiba, no sul do Brasil, o juiz falou que havia utilizadores “mais ativos” e não uma “liderança proeminente” entre os suspeitos detidos.

Tem pessoas mais ativas que percebemos que têm conhecimento maior da dinâmica desse tipo de organização e se manifestam mais claramente, e tem pessoas, digamos, menos incisivas (…) eu como juiz do caso não ousaria dizer que ele [o preso em Curitiba] era uma liderança proeminente”, disse Josegredi.

O juiz avançou que “não é possível dizer que o grupo tinha um alvo delimitado”, mas que foram monitoradas afirmações de que os Jogos Olímpicos seriam “uma oportunidade para ações concretas do Estado Islâmico”.

Já o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, voltou a afirmar que a cidade não corre risco de ataque durante os Jogos Olímpicos. “É uma notícia que me alivia. Eu estava tranquilo e continuo da mesma maneira. Essa é uma área que eu não interfiro, mas estou sempre acompanhando de perto o trabalho das forças de segurança do país. A gente não corre risco, e essas prisões demonstram o preparo de nossos agentes”, assegurou, citado pelo jornal O Globo.

Estado Islâmico ensina técnicas terroristas através do Telegram

O SITE Intelligence Group, empresa responsável por detetar atividade online de grupos extremistas, descobriu várias mensagens no Telegram onde o Estado Islâmico “ensina” métodos para fazer atentados e como atacar os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O grupo terrorista aconselha os seus seguidores a atuarem como “lobos solitários”, ou seja, sozinhos, e que usem drones com explosivos, ataques com veículos e o uso de veneno.

O primeiro canal no Telegram do Estado Islâmico em português foi criado em junho com o principal objetivo de comunicar com o povo brasileiro. O autor das mensagens dá dois conselhos aos seguidores: aproveitem as favelas do Rio de Janeiro, onde o acesso a armas é facilitado, como ponto logístico, e utilizem a fronteira com o Paraguai para circular armas pelo Brasil. Segundo a análise do SITE, as entradas e viagens para o Brasil são fáceis de obter e o governo brasileiro não deve pôr de parte nenhuma ameaça, especialmente durante os Jogos Olímpicos.

Os Jogos Olímpicos estão programados para começar no dia 5 de agosto.