Moçambique, Angola e a ilha de São Tomé são os países por onde a série documental “No trilho dos naturalistas” levará o espetador a viajar, a partir deste sábado à noite. “Mais do que um produto de televisão”, como escreve a produção, o projeto está sob alçada da Universidade de Coimbra, que aproveitou o arquivo do Centro de Ecologia Funcional para dar visibilidade ao material — selecionado e tratado cientificamente ao longo de anos. Os quatro episódios, feitos por realizadores portugueses e com a produtora Terratreme, são uma amostra das descobertas da universidade nas expedições botânicas em África.

A história da instituição é longa, assim como o trabalho de vários cientistas e investigadores portugueses. Desde o século XVIII que a academia sai de portas para descobrir que segredos e curiosidades escondem as plantas de África. E como se não bastasse a botânica, o passado histórico não é colocado de parte no projeto. “Há um material infindável, desde o património científico até à relação com as ex-colónias”, explica António Gouveia, coordenador geral de “No trilho dos naturalistas”.

[Veja aqui um excerto da série documental]

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O também diretor do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra não esconde o agrado de saber que em breve o público terá oportunidade de conhecer o trabalho dos seus antecessores em África. Vencer o concurso do projeto “Media Ciência”, financiado com fundos comunitários europeus, foi mais um passo na “valorização do património científico”: “Acredito que o arquivo daria para uma ou mais séries documentais”, afirma.

Os relatos na primeira pessoa são uma das características dos episódios. Neste primeiro, o escolhido foi o Professor Jorge Paiva, um dos investigadores reformados da universidade, que fez também expedições por África ao serviço das plantas. E como isto da botânica pode parecer muito trivial, António Gouveia explica a necessidade de a ciência desmistificar e explicar conceitos, mesmo que isso signifique “falar de florestas”.

“Como uma determinada espécie cresceu ao longo do tempo no deserto da Namíbia, como se constrói uma floresta tropical e até, como uma planta de mil anos sobrevive”, são algumas das questões esclarecidas na série documental.

O coordenador defende que a ligação entre plantas e pessoas nunca fez tanto sentido como hoje: as alterações climáticas assim o exigem e a comunicação científica têm acompanhado o processo. Os episódios foram gravados ao longo de um ano e meio, durante 2013, em sítios tão diferentes como Angola, Moçambique e a ilha de São Tomé. “Claro que falta a Guiné-Bissau e outros locais, mas não podíamos ir a todo o lado”, refere António Gouveia. Os cinco realizadores da série documental são João Nicolau, André Godinho, Susana Nobre, Tiago Hespanha e Luísa Homem.

Os países que visitámos tinham condições e características diferentes, logo os realizadores também não podiam ser os mesmos. Tínhamos um guião científico, com todos os pontos que queríamos focar, e um guião narrativo para o próprio documentário. Íamos confrontando com o que encontrávamos nos locais, quase como um direto de televisão”

Cada episódio representa um local: o primeiro foi feito em Moçambique, sob realização de João Nicolau e com exibição este sábado. Nos fins de semana seguintes, até 13 de agosto, há mais três documentários para ver.

Uma das realizadoras do projeto, Susana Nobre, que acumulou o cargo de produtora executiva pela Terratreme, teve um trabalho ligeiramente diferente dos restantes: “Viagens Filosóficas”, o nome do episódio, consiste na reconstituição das viagens feitas durante a época pombalina para reconhecimento dos recursos naturais do Ultramar.

O ponto de partida foram as histórias de viagem [gravuras, textos, diários e pinturas]. São histórias um pouco decadentes. Os exploradores acumulavam muita burocracia e estavam expostos às doenças dos trópicos. Muitos morreram sem retornar à metrópole”, acrescenta.

A série documental estreia-se este sábado, às 20h, na RTP 2.