Nasceu em Espanha um bebé com microcefalia e “outras malformações” devido ao vírus do zika, que infetara a mãe quando esta realizou uma viagem à América Latina. A informação, avançada pela agência EFE e por diversos jornais catalães, dá conta que este é o primeiro caso de uma criança nascida com malformações causadas por este vírus.

O parto ocorreu no Hospital Universitário de Vall d’Hebron. A mãe, escreve o El Periódico, foi informada, em maio, das malformações do feto, mas não pretendeu realizar um aborto. Na altura encontrava-se com 20 semanas de gravidez. A microcefalia é uma condição neurológica em que um bebé nasce com um perímetro de cabeça mais reduzido em relação ao que é considerado normal.

O mesmo diário adianta que, só na Catalunha, foram registadas 21 mulheres picadas pelo mosquito aedes aegypti e que contraíram o vírus do zika durante a gravidez. Todas terão viajada até países da América Latina, embora o jornal não especifique quais. Dessas 21, cinco mulheres deram à luz bebés sem quaisquer problemas de saúde ou neurológicos.

A identidade ou nacionalidade da mulher em causa não foram divulgadas.

Mais de 1,6 milhões de infetadas nas Américas

Mais de 1,6 milhões de grávidas poderão ser infetadas com o zika na América Central e do Sul na primeira onda da epidemia, revela um estudo, que estima que dezenas de milhares de gravidezes possam ser afetadas.

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Publicado na edição eletrónica da revista Nature Microbiology, o estudo estima que, no total, 93,4 milhões de pessoas sejam infetadas com o vírus na América do Sul e no Caribe nas primeiras fases da disseminação do vírus.

O estudo mostra também que o Brasil deverá ser o país com maior número de infeção, com mais do dobro dos casos de qualquer outro país, devido ao seu tamanho e à facilidade de transmissão.

Segundo as estimativas, 37,4 milhões de pessoas serão infetadas no Brasil e 579 mil grávidas estão em risco, enquanto o México, o segundo país mais afetado, registará 14,9 milhões de infeções e 263 mil grávidas em risco.

Tendo em conta a associação entre o vírus e uma série de doenças fetais, nomeadamente a microcefalia congénita, os cientistas alertam que a doença é um risco para os 15 milhões de bebés que nascem todos os anos nas Américas e definem como uma prioridade estimar a porção desta população que está realmente em risco.

“Os nossos resultados sugerem que 1,65 milhões de mulheres grávidas e 93,4 milhões de pessoas no total poderão ser infetadas antes do fim da primeira onda da epidemia”, escrevem os investigadores, admitindo que estes números são o limite máximo estimado para esta fase.

Baseando-se nas estimativas atuais de fetos afetados entre as mulheres infetadas, os cientistas estimam que “dezenas de milhares de gravidezes poderão ser negativamente impactadas” pela epidemia.

O geógrafo Andrew Tatem, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e diretor na Fundação Flowminder, na Suécia, disse que “é difícil prever com rigor quantas mulheres grávidas estão em risco de infeção pelo zika, porque uma grande parte da população não apresenta sintomas”.

Com efeito, estima-se que 80% das infeções por zika sejam assintomáticas e algumas das que apresentam sintomas poderão dever-se a outros vírus.

O estudo agora apresentado por investigadores do pelo projeto WorldPop e pela Fundação Flowminder na Universidade de Southampton e colegas das Universidades de Notre Dame e de Oxford, resulta de uma projeção baseada num modelo desenvolvido pela equipa de Alex Perkins, da Universidade de Notre Dame, no estado norte-americano de Indiana.

Os investigadores examinaram o impacto provável do vírus a um nível muito localizado, de cerca de cinco quilómetros quadrados cada.

Segundo os investigadores, o método é mais rigoroso do que estimativas anteriores porque tem em conta teorias ecológicas como a imunidade de grupo – quando há tantas pessoas com imunidade que o resto da população goza de imunidade indireta – ou o número básico de reprodução de casos – o número estimado de novas pessoas que uma pessoa infetada consegue contaminar numa população completamente suscetível.

Como os padrões de transmissão do zika ainda são pouco conhecidos, os cientistas usaram informação epidemiológica dos vírus do dengue e de Chikungunya, do mesmo tipo do zika, para produzir uma projeção mais realista, pode ler-se num comunicado da revista Nature Microbiology.

“Estas projeções são um contributo inicial importante para os esforços globais de compreensão da dimensão da epidemia de zika e para fornecer informação sobre a sua possível magnitude, ajudando a planear melhor a vigilância e a resposta ao surto, tanto internacionalmente como localmente”, disse Tatem.

O Brasil, o país mais afetado pela epidemia de zika, contabiliza 1.709 casos de microcefalia em recém-nascidos desde outubro do ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde brasileiro.

De acordo com o mais recente boletim da tutela, com dados até 16 de julho, “outros 3.182 casos permanecem sob investigação”.

Dos 8.571 casos notificados desde outubro do ano passado, “3.680 foram descartados por apresentarem exames normais, por apresentarem microcefalia ou malformações confirmadas por causa não infecciosas” ou por “não se enquadrarem na definição de caso”.

Também foram registadas 354 mortes por suspeita de microcefalia ou outra alteração do sistema nervoso central após o parto ou durante a gravidez.

O Brasil é um dos países mais afetados pelo vírus zika e com mais casos de microcefalia associados ao vírus, embora a má-formação também possa estar relacionada com outros agentes infecciosos.