A informação que consta do mais recente Relatório e Contas da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) revela que a petrolífera contabilizou perdas de 179 milhões de euros em 2015 devido à queda do valor das ações que detém no banco português Millennium BCP, mantendo a participação de 17,84 por cento do capital social.

O relatório, que até agora não tinha sido divulgado e ao qual a agência Lusa teve acesso, indica que a petrolífera, com as suas 10.534.115.358 de ações, tinha a 31 de dezembro, ao “justo valor de mercado” uma participação no banco português equivalente a 516,1 milhões de euros.

Além do Millennium BCP, em Portugal, a Sonangol detinha no final de 2015 participações, “ao abrigo do mandato governamental”, no Banco Económico (39,40% de quota), que resultou da transformação do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Banco de Comércio e Indústria (1,10%), Banco Angolano de Investimento (8,50%), Banco Caixa Geral Angola (25%),Banco Privado Atlântico Europa (20%) e Banco Millennium Angola (29,90%).

Em concreto sobre o Banco Económico, que com a liquidação do BESA devido ao volume de crédito malparado detetado em 2014 e à intervenção estatal no BES português levou à entrada direta e financiamento do grupo petrolífero estatal, a Sonangol refere que à data de 31 de dezembro o investimento naquela instituição bancária estava “valorizado ao custo histórico, uma vez que decorre e que se espera concluído ainda em 2016 o processo de intervenção do Banco Nacional de Angola”.

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“Este processo consiste na separação de ativos, dos quais serão titulados pelo Banco Económico apenas aqueles com alta capacidade de geração de rendimentos. Simultaneamente serão emitidos Títulos do Tesouro Nacional que concluirão a operação de recapitalização iniciada em outubro de 2014”, lê-se no documento.

A posição da Sonangol no Banco Económico equivalia a 28.368 milhões de kwanzas (155,6 milhões de euros) no final do ano, enquanto na Caixa Geral Angola (detido maioritariamente pelo grupo estatal português Caixa Geral de Depósitos) ascendia a 5.657 milhões de kwanzas (31 milhões de euros) e a 5.333 milhões de kwanzas (29,2 milhões de euros) no Millennium Angola (que já este ano avançou para a fusão com o Atlântico).

A empresária Isabel dos Santos foi nomeada em junho para o cargo de presidente do conselho de administração da Sonangol, no âmbito do processo de reestruturação da petrolífera estatal, que deverá recentrar-se na função de concessionária do setor, tendo entretanto suspendido todos os processos de negociação e alienação do património do grupo.

A Lusa noticiou a 07 de junho que o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, incumbiu a nova administração da Sonangol de reorganizar a carteira de negócios da petrolífera estatal angolana e suas subsidiárias.

“O conselho de administração ora designado deve implementar o modelo de reorganização da carteira de negócios da Sonangol EP, suas subsidiárias e participadas nos termos previstos no modelo de ajustamento à organização do setor dos petróleos”, lê-se no decreto assinado por José Eduardo dos Santos, nomeando a filha, Isabel dos Santos, para o cargo de presidente do conselho de administração e administradora não executiva da petrolífera.

O grupo Sonangol, detido pelo Estado angolano, fechou o exercício de 2015 com ativos de 6,346 biliões de kwanzas (34,8 mil milhões de euros) e um capital próprio total de 2,529 biliões de kwanzas (13,9 mil milhões de euros), incluindo 47.168 milhões de kwanzas (259 milhões de euros) de resultados líquidos positivos.

A petrolífera anunciou em fevereiro passado os primeiros indicadores do exercício de 2015, nomeadamente a queda de 34% na receita, face a 2014, registando igualmente uma descida dos lucros na ordem dos 45%, atribuíveis principalmente à queda do preço do petróleo.