A Vale suspendeu a circulação da sua produção de carvão na linha do Sena, após um ataque armado na segunda-feira contra um comboio da empresa no troço de Inhamitanga, centro de Moçambique, avançou esta quarta-feira a multinacional brasileira em comunicado.

“A empresa participou a ocorrência às entidades competentes e suspendeu as atividades na linha do Sena”, declarou a Vale, na reação a um novo incidente envolvendo um comboio da mineira e que as autoridades locais atribuíram a homens armados da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

A Vale descreve que o comboio foi alvejado a tiro às 09h45 locais de segunda-feira quando circulava no sentido Moatize-Beira e, após a emboscada, prosseguiu viagem até ao apeadeiro de Becanta, a seis quilómetros do local do ataque.

No comboio, segundo a Vale, seguiam três trabalhadores, o maquinista e o seu auxiliar e um segurança da empresa privada G4S.

“O maquinista da Vale contraiu ferimentos nas costas resultantes da arma de fogo e o trabalhador da empresa G4S contraiu ferimentos ligeiros no pulso devido aos estilhaços dos vidros da janela de um dos comboios”, refere o comunicado, acrescentado que os feridos foram assistidos de imediato e já tiveram alta médica.

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O comunicado não menciona nenhum prazo para o reinício das operações na linha do Sena.

O embaixador brasileiro em Maputo disse esta quarta-feira que está a seguir este incidente com atenção.

“Estamos atentos à situação e a avaliação se deve prosseguir a operação neste momento pelo corredor do Sena é da companhia”, afirmou à Lusa Rodrigo Baena Soares, esperando que este tipo de ataques “possa ser evitado”.

O diplomata declarou que mantém “confiança nas instituições moçambicanas para que o trajeto seja feito em condições de segurança” e frisou que o ataque ocorreu na linha do Sena, na província de Sofala, e não no corredor de Nacala, entre as províncias de Tete e Nampula, onde a Vale desenvolveu uma nova linha férrea para escoar o carvão explorado na sua concessão de Moatize.

Baena Soares afirmou que, apesar dos ataques contra os comboios da Vale, o investimento brasileiro em Moçambique vai “sem dúvida continuar”.

O diplomata lembrou que os interesses brasileiros em Moçambique são “muito abrangentes e envolvem investimentos na casa dos biliões de dólares”, em áreas como a extração mineira, construção civil, bebidas, comunicações e agricultura, e que o país é também o maior beneficiário da cooperação do Brasil em todo o mundo.

“Acompanhamos com muita atenção todo o processo político e militar em Moçambique e naturalmente também as operações da Vale, que é o principal investimento aqui”, comentou.

O administrador do distrito de Cheringoma, província de Sofala, atribuiu na segunda-feira o ataque contra o comboio da Vale a homens armados da Renamo e classificou o incidente como uma “sabotagem económica”.

O ataque ocorreu quase um mês depois de a mineira ter retomado a circulação de comboios na linha Moatize-Beira, ao fim de uma paralisação de duas semanas devido à situação de insegurança naquele troço, onde foram reforçadas posições militares para assegurar o tráfego ferroviário.

Moçambique tem conhecido um agravamento dos confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo, principal partido da oposição, além de acusações mútuas de raptos e assassínios de militantes dos dois lados.

As autoridades moçambicanas montaram escoltas militares obrigatórias em três troços em duas das principais estradas no centro do país, mas, apesar disso, prosseguem as emboscadas a viaturas, incluindo civis, atribuídas ao braço armado da Renamo.

O principal partido da oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.

Delegações do Governo moçambicano e da Renamo voltaram a reunir-se este mês em Maputo para negociações de paz, na presença de mediadores internacionais convocados pelas partes.