O que têm em comum Helmut Marko, Niki Lauda, Keke Rosberg, Jochen Rindt, Jochen Mass, Michael Schumacher, Tom Kristensen, Sébastien Ogier, Kenneth Eriksson, Erwin Weber, Bruno Saby, Giniel de Villiers, Carlos Sainz, Nasser Al-Attyiah e Freddy Kottulinsky? São todos nomes que, de uma forma ou de outra, marcaram o desporto automóvel contemporâneo. Mas não só. São, também, algumas das figuras que passaram por uma das mais bem-sucedidas divisões de competição de um construtor automóvel, a Volkswagen Motorsport, que em 2016 comemora 50 anos de existência.

Foi a 11 de Julho de 1966 que tudo começou. Pelo menos, oficialmente. Nessa já longínqua data, um grupo de importadores e comerciantes de Munique, que partilhavam o interesse pelo desporto motorizado, fundavam na capital da Baviera a “Verband Formel V Europa e.V.”, que se pode considerar a origem da actual Volkswagen Motorsport.

Mas o início da história remonta, efectivamente, a 1963, quando, nos Estados Unidos da América (EUA), a tecnologia da Volkswagen (nomeadamente do Beetle de então, que para o efeito emprestou a suspensão dianteira, a direcção, a transmissão e, claro, o motor 1.2 de 40 cv) serviu de base para a criação da Fórmula Vee, uma competição destinada aos mais jovens e protagonizada por um pequeno e simples monolugar, que se estreou em Daytona nesse mesmo ano e não demorou muito a chegar à Alemanha.

Em 1964, Ferry Porsche e o director desportivo da Volkswagen à época, Fritz Huschke von Hanstein, sempre com o entusiástico apoio de Carl Hahn, CEO da Volkswagen America, expediam 12 exemplares desse monolugar para território germânico. Rapidamente, esta fórmula assumiu o estatuto de campeonato nacional nos EUA e em vários países da Europa (eram 14 em meados de 1967), também tendo a sua vertente, mesmo que oficiosa, de campeonato mundial.

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Corria o ano de 1969 e Helmut Marko, figura bem conhecida do actual “paddock” da Fórmula 1 (F1), ele próprio ex-piloto da disciplina máxima do automobilismo de velocidade, batia Niki Lauda na luta pela vitória na histórica corrida da Fórmula Vee composta por seis voltas ao Nordschleife de Nürburgring, cumpridas a uma média de 137,4 km/h. Comprovada a validade da filosofia que serviu de base ao desenvolvimento deste campeonato, em 1971 era criada a Fórmula Super Vee, já com motores de 120 cv, onde foram forjados futuros campeões mundiais de Fórmula 1, como Niki Lauda, Keke Rosberg ou Jochen Rindt, e por onde também passaram, por exemplo, Jochen Mass, mais um piloto que haveria de chegar à F1, ou Freddy Kottulinsky, que garantiu à Volkswagen a sua primeira vitória no Dakar.

O envolvimento da Volkswagen na Fórmula Vee/Super Vee haveria de durar 17 anos. Até a marca alemã decidir que era chegada a altura de abraçar novos desafios no domínio dos monolugares. Foi o caso da Fórmula 3, onde se estreou em 1979, e onde foram formados pilotos que vão desde o multirecordista e sete vezes Campeão do Mundo de F1 Michael Schumacher, à lenda de Le Mans, o dinamarquês Tom Kristensen, passando por outra figura quase mítica, desta feita do DTM, Bernd Schneider. Todos iniciaram as respectivas carreiras, e todos conquistaram títulos, na Fórmula 3 em monolugares da Volkswagen, disciplina em que a marca se mantém até hoje – em 2014 introduziu um novo motor de 225 cv na Fórmula 3 europeia, que permitiu, por exemplo, a Max Verstappen passar directamente para a F1, onde foi considerado pela FIA “Rookie do Ano” de 2015.

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A par de tudo isto, a ainda pequena (à época) associação de importadores e comerciantes transferia a sua sede de Munique para Hanôver em 1973, local onde a Volkswagen Motorsport GmbH daria entrada no registo comercial em Dezembro de 2004. Mas não sem antes o nome original ter sido alterado uma série de vezes.

Independentemente da nomenclatura, até hoje, a empresa continua baseada em Hanôver, e mantém intocada a sua aposta na formação e na promoção de novos valores, participando, também, nas competições destinadas a carros de turismo, no Dakar e, claro, nos ralis. Entre 1988 e 2014, foram inúmeros os jovens que aprenderam os princípios das corridas de turismos na escola da Volkswagen Motorsport – que tem como um dos seus principais marcos a vitória na classe nas 24 Horas de Nürburgring, com um Scirocco GT24 animado por um motor a gás natural.

O primeiro troféu monomarca da marca alemã nasceu em 1976, sob o nome VW Junior Cup, e tinha como protagonista o Scirocco de 105 cv, substituído em 1976 pelo Golf GTI. Mais tarde, em 1998, nascia a Volkswagen Touring Junior Cup, tendo por base o Lupo que, em 2004, cedeu o seu lugar ao Polo, por sua vez substituído pelo Scirocco a gás natural em 2010.

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Quanto ao todo-o-terreno, e muito particularmente ao Dakar, a Volkswagen é “só” a única marca a ter vencido por três vezes consecutivas a prova, entre 2009 e 2011 – ainda que a sua primeira vitória à geral remonte a 1980, num Illtis tripulado pela dupla Freddy Kottulinsky/Gerd Löffelmann. O regresso à mítica maratona do todo-o-terreno deu-se em 2003, com o Volkswagen Tarek, e, em 2005, Bruno Saby vencia a Taça do Mundo já ao volante do Race Touareg.

Em 2009, a Volkswagen torna-se na primeira marca a triunfar no Dakar com um carro animado por um motor diesel, e logo conquistando os dois lugares cimeiros do pódio, com Giniel de Villiers/Dirk von Zitzewitz e Mark Miller/Ralph Pitchford. Em 2010, a marca alemã dominou por completo o pódio, respectivamente, com Carlos Sainz/Lucas Cruz, Nasser Al-Attyiah/Timo Gottschalk e Mark Miller/Ralph Pitchford. No ano seguinte, novo “hat-trick” com Nasser Al-Attyiah/Timo Gottschalk, Giniel de Villiers/Dirk von Zitzewitz e Carlos Sainz/Lucas Cruz.

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Mas poucas dúvidas restarão de que o pináculo do êxito desportivo veio depois, quando a Volkswagen decidiu participar no WRC. Por três anos consecutivos, a marca germânica conquistou os títulos de campeão do mundo de construtores, de pilotos e de copilotos, através de um trio que já faz parte dos anais da modalidade: o Polo WRC e a dupla francesa Sébastien Ogier e Julien Ingrassia – que conquistou a sua primeira vitória logo no segundo rali em que participou, na Suécia, no ano de estreia de 2013. Tudo apontando para que a dose se repita terminado o mundial de 2016… Um epílogo fantástico para um percurso nos ralis que teve como primeiro grande êxito a conquista do campeonato alemão da especialidade de 1980, com um Golf GTI tripulado por Alfons Stock e Paul Schmuck, êxito repetido em 1991 por Erwin Webber, aos comandos do Golf G60 – o primeiro título mundial surgiu em 1986, no Grupo A, com o Golf II GTI pilotado por Kenneth Eriksson.

Liderada por Jost Capito, a Volkswagen Motorsport integra funcionários de mais de 20 países, Portugal incluído, e afirma estar hoje melhor colocada do que nunca no panorama do automobilismo internacional. E com um equilibrado programa desportivo: envolvimento directo no Mundial de Ralis com o Polo R WRC, corridas em circuito para jovens pilotos com a Fórmula 3, participação do Golf GTI em diversos campeonatos internacionais TCR.

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E há sempre visão e disponibilidade para enfrentar novos desafios. Veja-se a recente (re)aposta da marca no rallycross, não só através da parceria com os suecos da Marklund Motorsport, e consequente participação no Campeonato do Mundo, como por via da associação com a Andretti Autosport nos EUA, onde Scott Speed não deu hipóteses à concorrência, levando de vencida o título de 2015, à frente do seu companheiro de equipa Tanner Froust. Mas, também aqui, a história tem (mais) uma surpresa com que nos brindar: já em 1978, “Jochi” Kleint, ao volante de um Golf GTI 1600, vencia o campeonato alemão de rallycross – mesmo que, na altura, tal campeonato não tivesse ainda carácter oficial!