Mário Centeno pediu aos serviços das administrações públicas para encontrarem poupanças potenciais para 2017. No âmbito da preparação do Orçamento do Estado do próximo ano, o ministro das Finanças quer que os serviços identifiquem medidas que permitam diminuir a despesa e encontrar folgas para responder a imprevistos, ou a novos projetos.

A instrução foi enviada quarta-feira aos serviços, numa circular com os procedimentos para começar a desenhar o Orçamento do Estado para 2017:

Os serviços devem incorporar nos seus planos orçamentais detalhes sobre iniciativas de melhoria da eficiência e de controlo da despesa que permitam acomodar o efeito de novas pressões orçamentais, mas também gerar folgas financeiras para acomodar eventuais novos projetos”, lê-se no documento.

Cinco áreas de poupança

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  1. Aquisição de bens e serviços
  2. Otimização na gestão do património imobiliário (uso mais eficiente de espaço e a eliminação de arrendamentos caros)
  3. Reforço da capacidade de resposta a pressões do lado da procura através da realocação interna de recursos humanos
  4. Aumento da produtividade dos serviços (reconfiguração de processos e eliminação de atividades redundantes)
  5. Medidas geradoras de novas receitas próprias

Centeno deu um prazo apertado aos serviços: até ao dia 19 de agosto as medidas de ganhos de eficiência deverão estar identificadas. São exigidas, no mínimo, cinco iniciativas. No documento, o ministro dá o exemplo de cinco em áreas em que essas poupanças podem ser encontradas, sem prejuízo de serem identificadas outras. Farão parte de um capítulo dos orçamentos dos serviços chamado “Anexo XI”.

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Caso não seja possível encontrar medidas, o serviço deve apresentar uma justificação ao Ministério das Finanças, “validada pela tutela”. Ainda assim, os que não apresentarem as medidas ficam impedidos de implementar novos projetos que impliquem mais custos:

Em 2017, a emissão de pareceres da DGO relativos a processos de natureza orçamental associados a novas iniciativas que gerem pressões sobre a despesa passará a estar dependente da identificação de poupanças inscritas no Anexo XI, em montante equivalente.”

O Orçamento do próximo ano terá de conseguir a tarefa árdua de “agradar a gregos e a troianos”. Por um lado, terá de permitir uma melhoria do saldo estrutural na ordem dos 0,6% do PIB, conforme prometeu o ministro das Finanças, Mário Centeno, à Comissão Europeia, na carta enviada ao vice-presidente da Comissão, Valdis Dombrovskis e ao comissário Pierre Moscovici.

Aos jornalistas portugueses, Centeno garantiu que aquele compromisso implicará apenas o ajustamento na ordem dos 0,4% (conforme estava já previsto no Programa de Estabilidade) porque o Governo espera usar uma margem de flexibilidade de 0,2% do PIB, uma vez que em 2017 já deverá estar fora do Procedimento por Défices Excessivos.

Contudo, na recomendação em que os comissários decidiram cancelar as sanções a Portugal, independentemente de o país ter falhado os compromissos orçamentais de 2015, Bruxelas assume que o país se comprometeu a intensificar o esforço de ajustamento, referindo que estão por identificar medidas no valor de 0,35% do PIB.

Mas, por outro lado, o Executivo terá de encontrar uma forma de agradar também aos seus parceiros do Parlamento: Bloco de Esquerda e PCP. Os dois partidos têm defendido a necessidade de prosseguir com medidas que eliminem a austeridade.

Na segunda-feira, por exemplo, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu mesmo a importância de dar aumentos salariais reais aos funcionários públicos.

Daí que identificar possibilidades de poupanças seja, em todos os sentidos, crucial. O Governo não pode abrir uma guerra institucional com a Europa, mas também não pode desvalorizar todos os pedidos dos parceiros da esquerda, sob pena de perder o apoio que lhe permite continuar a ser Governo.

Salários da função pública congelados em 2017

À semelhança do que foi feito para preparar o Orçamento do Estado de 2016, Centeno deu instruções aos serviços para orçamentarem os gastos com pessoal tendo por base o valor gasto no final deste ano. O mês de referência é dezembro de 2016, apontando assim para um congelamento de salários, conforme foi já prometido em Bruxelas.

Já na preparação do Orçamento do Estado para este ano a técnica foi semelhante: os gastos com pessoal foram planeados tendo por base o valor do mês de novembro de 2015. Mesmo que estivesse já prevista a eliminação progressiva dos cortes salariais, como tem vindo a verificar-se.

A medida serviu para controlar melhor a despesa e evitar erros de orçamentação. O valor para a reposição dos salários ficou cativo no Ministério das Finanças, que o tem vindo a libertar à medida das necessidades. Segundo Centeno, identificou-se inclusivamente uma folga de 97 milhões de euros nesta rubrica.