A líder parlamentar da Renamo afirmou esta quinta-feira que o seu partido não vai ceder na exigência de governar nas seis províncias moçambicanas onde reivindica vitória eleitoral e acusou o Governo de “manobras de diversão” nas negociações de paz.

“Nunca, nunca, nunca a Renamo [Resistência Nacional Moçambicana] irá desistir da governação das seis províncias”, disse Ivone Soares, na sessão de encerramento da III sessão ordinária da Assembleia da República.

A líder da bancada do maior partido de oposição espera que, com a participação da equipa de mediação internacional nas negociações de paz, “o assunto da governação nas seis províncias acelere e haja um acordo”, a ser submetido ao parlamento “com muita urgência” e transformado em lei.

“Queremos apelar à Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique] para não complicar o diálogo na comissão mista [Governo e Renamo], porque a Renamo não irá recuar nesta decisão do povo de Moçambique de resgatar o poder arrancado para encobrir os crimes nas sucessivas negociações”, declarou.

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A Renamo recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ganhas oficialmente pela Frelimo, e exige governar em Niassa, Nampula, Zambézia, Tete, Manica e Sofala, províncias do norte e centro do país onde reivindica vitória no escrutínio.

A chefe da bancada da Renamo acusou a Frelimo de “manobras de diversão”, na receção, em julho, à equipa de mediação internacional, que suspendeu na quarta-feira a sua participação nas negociações até 08 de agosto, invocando razões logísticas.

“As suas manobras de diversão, ao convidar os mediadores internacionais sem organizar a logística, foram descobertas. A Frelimo deve parar de fingir que pretende a paz, quando a sua prioridade é a guerra”, afirmou.

No seu discurso, a deputada da Renamo voltou a acusar o Governo de tentar eliminar o seu líder, Afonso Dhlakama, “a fim de se apresentar em posição de força” e obrigar à assinatura de “algum documento de capitulação”, e refutou a acusação de que o braço armado da oposição esteja a atacar no centro do país.

“Quem se desloca milhares de quilómetros à procura da Renamo é a Frelimo e as suas forças armadas. Se alguém nos ataca e depois foge, temos o direito de persegui-lo e dar-lhe uma boa lição”, rebateu.

Ivone Soares contrariou também o argumento de que os governos provinciais não estavam em jogo nas últimas eleições gerais, com uma alegação histórica: “Também não combinámos com a Frelimo em 1977 que iríamos obrigá-la a aceitar o multipartidarismo”, declarou, numa alusão ao início da guerra civil e que só terminou em 1992 com a assinatura do Acordo Geral de Paz.

“Como a Frelimo teima em governar sem ter ganho“, prosseguiu, a Renamo pretende uma revisão da Constituição para acomodar a pretensão da governação em seis províncias e “dar a Dhlakama o que é de Dhlakama”.

Referindo que Moçambique vive uma “crise sociopolítica e económica sem precedentes”, a chefe da bancada da Renamo lamentou que a Assembleia da República se tenha tornado “irrelevante”, dando como exemplo a presença de uma maioria de deputados da Frelimo na comissão de inquérito ao escândalo das dívidas públicas escondidas.

“As decisões da Frelimo vão prevalecer nesta comissão como sendo as decisões de toda a comissão, parecendo no fim que os membros da oposição concordam que as dívidas ocultas se tornem soberanas”, comentou a deputada, justificando o boicote do seu partido àquele órgão parlamentar.

Ivone Soares estabeleceu uma relação entre esta comissão de inquérito e aquela que foi criada em maio de investigação à denúncia de valas comuns no centro do país, igualmente dominada pela Frelimo, e que “logo tratou de ilibar o seu próprio partido”.

A Renamo, defendeu, recusa-se a participar numa “fantochada de comissão de inquérito”, ao mesmo tempo que exige uma auditoria internacional forense ao caso das dívidas escondidas.