Os estudos científicos baseados em métodos estatísticos usados para analisar a atividade cerebral através de imagens recolhidas por aparelhos de ressonância magnética funcional (fMRI) não são fiáveis, refere um estudo publicado na revista científica PNAS.

A investigação levada a cabo por Anders Eklund e Hans Knutsson, da Universidade de Linkoping (na Suécia) e Thomas Nichols, da Universidade de Warwick (no Reino Unido) testou os métodos de análise estatística comummente utilizados e conclui que estes mostravam atividade cerebral falsa em 60 por centos dos casos. A margem de erro razoável para esses casos seria cinco por cento, refere o ScienceDaily.

As imagens recolhidas através de ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês) são o método mais comum de estudo e análise da atividade cerebral. A ressonância deteta que região ou regiões do cérebro são ativadas, graças ao fluxo sanguíneo (e do oxigénio que transporta) que se dirige com mais intensidade a essa zona. Os resultados aparecem depois como zonas iluminadas nos mapas 3D da matéria cinzenta.

O que a equipa de investigadores liderados por Anders Eklund descobriu é que muitas dessas áreas poderiam aparecer iluminadas por erro, devido a uma falha no software que recolhe as imagens, aliado a falta de rigor na análise dos dados. Normalmente, os exames feitos usando a técnica da fMRI comparam, por exemplo, as imagens de 20 pessoas saudáveis com as imagens de 20 pessoas que têm uma lesão cerebral ou alguma função prejudicada. Nestes casos, é normal que haja uma diferença significativa entre os dois grupos de dados.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Anders Eklund e a sua equipa usaram o mesmo tipo de métodos estatísticos, mas compararam dois grupos de pessoas saudáveis. À partida, não deveriam ter encontrado diferenças significativas entre os dois conjuntos de dados (ou pelo menos as diferenças não deveriam ser superiores a 5 por cento dos casos, a margem de erro). Mas existiram e grandes.

Graças às possibilidades de cálculo permitidas pelos computadores modernos, a equipa conseguiu comparar os dados de um número elevado de ressonâncias magnéticas. Até agora foram realizadas três milhões de comparações de grupos selecionados aleatoriamente com dados de 499 pessoas saudáveis. “As diferenças foram consideravelmente maiores do que cinco por cento, até 60 por cento, no pior caso,” disse Anders Eklund em comunicado.

Isto significa que a atividade cerebral detetada em muitos casos poderia ser inexistente. Ou seja, os exames deram resultados positivos que, na verdade, poderiam ser falsos. E esta descoberta põem em causa a fiabilidade de muitos estudos científicos sobre o cérebro, realizados com recurso a esta metodologia.

Os programas utilizados pelos scanners de ressonância magnética dividem o cérebro humano em 100.000 voxels (uma espécie de píxeis, das imagens tridimensionais, cujo nome é uma junção das palavras “volume” e “píxel”). A partir desta divisão, o software calcula inferências a partir dos sinais de ressonância magnética, acerca da “quantidade” de atividade cerebral. Mas o intervalo da intensidade que mede esses sinais é mais extenso do que deveria ser, o que dá azo a falsos positivos. Além disso, os investigadores analisaram 241 estudos ao cérebro e descobriram que em 40 por cento dos mesmo não haviam sido aplicadas as correções necessárias aos cálculos do software, agravando o problema de falsos positivos, conta o El País.

As conclusões da investigação põem em causa os dados de um software muito popular, utilizado pela comunidade médica há mais de 15 anos e os dados da mesma foram disponibilizados na íntegra para que pudessem ser repetidos. Outras equipas de investigação já repetiram os cálculos da equipa de Andreas Eklund, mas não foram encontrados erros no trabalho desta equipa.

Quantos desses estudos devem ser repetidos? “A isso não posso responder, porque muitos deles foram realizados há 10 ou 15 anos e não há certeza de que os dados em bruto no qual se baseiam ainda estejam disponíveis. O importante é que os investigadores pensem acerca do método de cálculo que venham a utilizar no futuro”, disse Andreas Eklund em comunicado.

As funções de um dos softwares mais utilizados até agora, também mudaram entretanto e os resultados já são mais corretos do que eram antes.