Dias antes do último jogo da seleção na fase de grupos, Cristóvão Norte recebeu um convite de um amigo para ir com ele a Lyon assistir ao Hungria-Portugal. O deputado do PSD disse que sim. O amigo trabalha na Galp e o convite era um dos que a patrocinadora oficial da seleção nacional fez durante o Euro 2016 a várias figuras da vida pública nacional (incluindo três secretários de Estado deste Governo). Confrontado pelo Observador, Cristóvão Norte justifica ter aceitado o convite por ter sido de um amigo pessoal, “e não de natureza institucional”.

Mas foi a Galp que pagou a viagem? “Sim, presumo que tenha sido”. O deputado social-democrata explica que o aceitou, por ser fruto de “uma relação de amizade que tem a ver com aquela pessoa e não com a empresa onde trabalha”.

Não existe uma relação institucional que presida a esse convite”, considera Cristóvão Norte.

O deputado foi a mais dois jogos — com a sua mulher e a título individual — em França: a meia-final (que o Observador já tinha noticiado) e a final. Tal como a meia-final, também o jogo contra a Hungria calhava em dia de plenário, quarta-feira dia 22 de junho, valendo uma falta no Parlamento. Como aconteceria na meia-final, o deputado entendeu também não justificar essa falta. No registo oficial de presenças desse dia, disponível para consulta no site do Parlamento, está, no entanto, registada uma presença que o deputado identificou, escrevendo uma carta aos serviços que não tinha estado no plenário naquele dia. Não justificou a falta porque: “Entendo que não estava a desempenhar a função de deputado”.

Nesse dia, também Assunção Cristas falhou o plenário por ter ido assistir ao mesmo jogo, na comitiva oficial, a Lyon. A líder do CDS viajou a convite da Federação Portuguesa de Futebol e não justificou a falta por considerar que não se trata de “trabalho político” (uma das justificações possíveis).

O PSD fez ontem um requerimento ao Governo com várias perguntas sobre a polémica das viagens pagas pela Galp a governantes, para assistirem ao jogo da seleção nacional, colocando especial acento no secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Rocha Andrade foi ver foi jogos a França, a convite da Galp. O PSD insiste em “perceber se as relações dessas empresas com o Estado envolvem entidades ou serviços sob tutela, direção ou superintendência dos membros do Governo que receberam as alegadas ofertas, ou se as empresas operam em setor de atividade com conexão ou sob tutela dos membros do Governo em causa” e considera que a Galp tem uma “relação especial” com o Estado e que, por isso, “é importante apurar em que medida tais condutas são, ou não, socialmente adequadas e conformes aos usos e costumes”.

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