Está finalmente de férias. O carro ficou bem estacionado, o fato de banho assentou que nem uma luva e — cereja no topo do bolo — há espaço na praia para estender a toalha e acomodar o chapéu-de-sol na areia. Perante o cenário que muitos passam um ano a idealizar, há alguma probabilidade de pegar no seu smartphone momentos antes de dar o primeiro mergulho de verão. A pergunta que fica no ar é: porquê?

Em 2014, um estudo realizado pela agência online Edreams dava conta que 9 em cada 10 turistas europeus utilizam o telemóvel durante as férias, com mais de 70% a admitir usá-lo várias vezes ao dia. A verdade é que com a chegada das temperaturas altas as redes sociais são invadidas por fotografias de férias dignas de causar inveja. O problema? É possível que se passe muito tempo a fotografar em vez de se admirar o que está em volta.

A pensar nisso, reunimos algumas sugestões com a ajuda do espanhol El Mundo para que, nestas férias, o telemóvel fique em casa ou no fundo do bolso. Mas antes importa saber porque é fundamental ficar offline e simplesmente descansar.

Porque é tão importante desligar nas férias?

Tirar férias tem efeitos benéficos para a saúde

É motivo para dizer “vá de férias, pela sua saúde”. Há muito que o senso comum reclama que o descanso deve ser uma prioridade, seja para quem vive na confusão da cidade ou fora dela. A comprová-lo estão dois estudos que, apesar de terem mais de 20 anos em cima, continuam a ser citados pela imprensa internacional. É o caso do que foi publicado pela American Medical Association, que concluiu que os homens que tiram férias com frequência têm menos 32% probabilidade de morrer de doenças cardíacas, por oposição aos que renunciam ao período de descanso. Uma realidade semelhante aplica-se à ala feminina, com outra pesquisa a mostrar que as mulheres que têm férias uma vez em seis anos (ou menos), quando comparadas com as que vão de férias pelo menos duas vezes por ano, são oito vezes mais propensas a desenvolver doenças cardíacas ou até mesmo ataques cardíacos.

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Mas não é só o corpo que sofre com a ausência de descanso. A mente é igualmente prejudicada, sobretudo no que toca à vida laboral. Diz a Forbes, citando um estudo de 2014, que a maior parte dos gestores (pelo menos na realidade norte-americana) reconhece os benefícios do famoso time out nos seus colaboradores: a uma maior produtividade soma-se uma melhor disposição no local de trabalho e capacidade de concentração. E como voltar ao trabalho nunca é fácil, dê uma olhadela ao que pode fazer para que o temido regresso custe bem menos.

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As férias são importantes para a felicidade. E para a saúde. (Foto: Getty Images/iStockphoto/RossHelen)

Estar constantemente online é como levar o stress às costas

Se, como já vimos, as férias estão longe de ser um capricho e fazem, de facto, falta à condição humana, porque é que tantas pessoas insistem em estar continuamente ligadas ao mundo digital e, consequentemente, ao trabalho? Segundo um relatório global de junho de 2015, realizado pela empresa de recursos humanos Randstad, 39% das pessoas trata de assuntos de trabalho durante as férias porque gosta de estar envolvida e 38% sente-se pressionada em responder às chamadas e aos e-mails de trabalho, também em férias (em Portugal a realidade não difere muito, com 31% e 33%, respetivamente, a admitir o mesmo). A verdade é que uma grande parte das pessoas não consegue desfrutar em pleno das férias — e, já agora, distanciar-se do telemóvel — porque está habituada a um ritmo de vida muito acelerado e a conviver com níveis de stress elevados. Recorde-se que o stress, tido como o maior vírus do século XXI, é capaz de uma quantidade de doenças: desde tensão alta, úlceras a problemas de coluna, sem esquecer as insónias. Está à espera de quê para ficar offline?

O detox digital é um convite a saborear (mesmo) as férias

Três semanas é, para a especialista em stress Conceição Espada, o mínimo tempo de férias que uma pessoa deve tirar, de maneira a desligar do trabalho e conseguir finalmente descontrair. Mas mesmo que não seja possível roubar tantos dias à agenda laboral, a ideia é sempre fazer as malas, partir rumo à aventura e não visitar de cinco em cinco minutos o feed de notícias do Facebook para ver e/ou publicar fotografias de umas férias paradisíacas. É aquele velho duelo mental que, volta e meia, faz-nos questionar: “Devo fotografar este momento ou apenas aproveitá-lo?”. A resposta depende muito (senão tudo) da opinião individual, não que isso invalide a existência de estudos — como o da Universidade de Fairfield, nos EUA — que defendem que tirar constantemente fotografias impede o nosso cérebro de recordar o que realmente aconteceu, dificultando a criação de memórias detalhadas. E, voltando à opinião, há quem ache que “na nossa era visualmente sofisticada, pode ser difícil separar a habilidade de capturar um momento da de experienciá-lo como um todo”, segundo se lê nesta crónica publicada pelo britânico The Guardian.

É uma boa forma de praticar o mindfulness

Por falar em viver o momento, a ausência de obrigações rotineiras pode ser o convite ideal para pôr a prática do mindfulness em dia, essa capacidade de estar presente e consciente do que se passa à nossa volta, tal como chegou a dizer ao Observador Vasco Gaspar, autor do livro “Aqui e Agora”. O também professor certificado no Search Inside Yourself, programa de mindfulness desenvolvido e testado na Google, assegurou que o treino mental em questão ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções, o que permite obter maior clareza e capacidade de lidar com as diferentes adversidades que vão surgindo ao longo da vida. O mindfulness pode ser praticado de duas formas, formal ou informalmente: a primeira consiste em meditar sem ser preciso cruzar as pernas (basta deixar os pensamentos fluir durante alguns minutos e em silêncio), e a segunda é, preto no branco, trazer a meditação para o quotidiano, como quem diz conduzir e prestar realmente atenção ao caminho. E se o mindfulness é aprender a parar, nada melhor do que estender a toalha na praia e deixar-se ir — sem o telemóvel por perto.

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A ideia é aproveitar o momento, mesmo sem meditação. (Foto: Getty Images/iStockphoto/kaspiic)

Como desligar, então, do telemóvel nas férias?

Desative as notificações

É quase tão prioritário como desfazer as malas assim que se chega ao quarto de hotel ou à tenda de campismo. Uma maneira de olhar menos vezes para o ecrã do smartphone é começar por desativar todas as notificações — adeus redes sociais, adeus alarmes e adeus notícias de última hora. A ideia é dar por si a esquecer-se completamente do telemóvel, ainda que o mais provável é que os primeiros momentos sem o dispositivo tragam alguma ansiedade. Não é por acaso que no início do ano a psicóloga Cláudia Morais dava conta da máxima “instagram or it didn’t happen” (publica no Instagram ou então não aconteceu) — quando a discutir a necessidade e/ou vontade de tirar selfies –, o que vai de encontro à ideia de que se não estivermos conectados, não fazemos parte do mundo.

Desligue os dados

Talvez desligar as notificações não seja suficiente, daí que um passo mais definitivo passe por desligar os dados — a ver quanto tempo, sem interrupções, aguenta com eles em modo off. É que desligá-los significa que não vai poder publicar aquela selfie ou aquele retrato do pôr-do-sol que ficou estupendo, pelo menos no momento. Desligá-los também significa uma espécie de regresso às origens para o seu smartphone que hoje em dia parece servir para tudo, menos para fazer chamadas.

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Ainda está a pensar levar o smartphone a apanhar banhos de sol? (Foto: Getty Images/iStockphoto/m-gucci)

Dedique apenas uma hora por dia ao telemóvel

Uma hora talvez não chegue para ver o crescente número de “gostos” que uma nova fotografia de perfil consegue acumular, para responder às mensagens que ocupam a caixa de e-mail, para ler todas as notícias do Observador ou para apanhar os Pokémon desta vida. Mas talvez esta seja uma das soluções para apreciar em “banda larga” a areia molhada à beira-mar, a brisa quente do montado alentejano ou a frescura de um verão tipicamente açoriano. É que depois das férias o mais provável é ter muitas oportunidades para pôr as fotos e a conversa em dia. Uma hora chega para fazer o essencial para, depois, dedicar tempo ao que realmente importa.

Deixe o telemóvel em casa

É uma solução mais drástica e, numa primeira fase, poderá gerar momentos de ansiedade. Mas caso esteja disposto a correr o risco, vai muito provavelmente descobrir novas coisas com que se entreter.

Escolha um destino sem rede

Se a intenção é desintoxicar totalmente do telemóvel e a vontade é fraca, talvez o melhor seja escolher um destino onde, à partida, sabe que não vai ter rede por mais que estique o braço com o smartphone na mão. Seja em pleno deserto do Sahara ou numa praia remota, sem Google à vista.

Se a intenção é desintoxicar totalmente do telemóvel e a vontade é fraca, talvez o melhor seja escolher um destino onde, à partida, sabe que não vai ter rede por mais que estique o braço com o smartphone na mão. Seja em pleno deserto do Sahara, numa praia remota sem Google à vista ou, então, num destes hotéis onde os hóspedes são obrigados a entregar o telefone no momento do check-in.

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Ah, finalmente o sossego. (Foto: Getty Images/iStockphoto/BERKO85)