“Eu investi na bolsa, sim, mas saí — e foi uma ótima altura para sair. A bolsa só está onde está por causa das taxas de juro artificialmente baixas, o dinheiro gratuito, tenho medo de cenários muito assustadores“. Assim falou Donald Trump, o candidato do partido republicano à Casa Branca, numa entrevista à Fox Business na semana passada. Para alguns, este pode ser um aviso desinteressado de alguém que se preocupa com os riscos que existem nos mercados. Para outros, esta é uma declaração de um candidato que sabe que é mais fácil derrubar o partido que está no poder se a bolsa cair nos três meses antes das eleições. É a História que o diz.

A partir desta segunda-feira, 8 de agosto, contam-se exatamente três meses para as eleições de novembro. A 8 de novembro saberemos se Hillary Clinton consegue suceder a Barack Obama como Presidente democrata na Casa Branca ou se os republicanos tomam o poder, na figura de Donald Trump. Todos os olhos estarão nas sondagens, que parecem dar cada vez mais vantagem a Hillary Clinton, mas talvez queira manter um olho no mercado acionista de Wall Street. Isto porque se a bolsa subir, o partido democrata (como incumbente) deverá manter-se na Casa Branca; se cair, Donald Trump tem melhores probabilidades de vencer.

A pesquisa da InvesTech Research mostra que este é um indicador fiável, até mais do que se têm mostrado as sondagens nos últimos anos em vários países.

Ano S&P 500 nos três meses Resultado do partido no poder Teoria acertou?
1928 13,6% Ganhou Sim
1932 -2,6% Perdeu Sim
1936 7,9% Ganhou Sim
1940 8,6% Ganhou Sim
1944 2,3% Ganhou Sim
1948 5,4% Ganhou Sim
1952 -3,3% Perdeu Sim
1956 -2,6% Ganhou Não
1960 -0,7% Perdeu Sim
1964 2,6% Ganhou Sim
1968 6,5% Perdeu Não
1972 3,0% Ganhou Sim
1976 -0,1% Perdeu Sim
1980 6,7% Perdeu Não
1984 4,8% Ganhou Sim
1988 1,9% Ganhou Sim
1992 -1,2% Perdeu Sim
1996 8,2% Ganhou Sim
2000 -3,2% Perdeu Sim
2004 2,2% Ganhou Sim
2008 -19,5% Perdeu Sim
2012 2,5% Ganhou Sim

A pesquisa revela que em 19 das 22 eleições Presidenciais desde 1928, a teoria dos últimos três meses na bolsa foi certeira — é uma taxa de sucesso de 86,4%.

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Há uma explicação possível para este fenómeno. A bolsa de valores deve, em teoria, refletir as expectativas de crescimento económico. E uma bolsa mais otimista significa eleitores mais otimistas — e isso é especialmente verdade nos EUA, onde muita gente tem remuneração variável ou pensões de reforma indexadas à evolução das ações e dos dividendos que estas pagam. Ou seja, nos EUA as pessoas sentem no bolso, de forma muito mais imediata, se a bolsa está em alta ou em baixa.

Com os bolsos mais cheios, as pessoas têm uma maior tendência para votar em quem já está no poder. É isso que demonstra a História, em 86,4% das vezes.

E o que vai acontecer na bolsa, então, nos próximos três meses?

A julgar pelas estimativas dos analistas, não parece muito provável que a bolsa tenha grande potencial para subir até ao final do ano. Um prognóstico que deve ser lido à luz do facto de que a bolsa dos EUA tem vindo a renovar máximos históricos, subindo 6,8% desde o início de 2016 e quase 20% desde o ponto mais baixo tocado este ano, em fevereiro.

O índice S&P 500 está a negociar na região dos 2.180 pontos e é aproximadamente nesse ponto que está a média das estimativas de duas dezenas de analistas que seguem a bolsa norte-americana.

Ou seja, o potencial para valorização a partir dos níveis atuais não é significativo e há um analista — Ben Laidler, do HSBC — que vê a bolsa a cair para os 1.960 pontos até ao final do ano. Seria uma descida superior a 10% em menos de cinco meses, ou seja, terreno fértil para Donald Trump poder virar o jogo a seu favor.

Do outro lado do espetro, a casa de investimento Oppenheimer, através do analista John Stoltzfus, está entre as mais otimistas e acredita que a bolsa irá continuar a subir até aos 2.300 pontos — uma valorização de cerca de 5,5%.

SPX Index (S&P 500 Index) Daily 2016-08-03 10-56-10

Depois de um início de ano conturbado, devido à crise nos preços do petróleo e aos receios com a China, a bolsa dos EUA recuperou nos últimos meses à conta de expectativas de que a Reserva Federal dos EUA não irá subir as taxas de juro tão rapidamente quanto planeava. Isso significa que as ações da maior parte dos setores têm condições para beneficiar de juros mais baixos durante mais tempo.

Mas o caminho da Reserva Federal é muito incerto, e a própria incerteza está a deixar alguns investidores nervosos e a preferirem manter-se à margem da bolsa nos próximos meses, porque juros baixos durante demasiado tempo também têm riscos, nomeadamente o fomento de bolhas especulativas nos ativos com maior risco.

RNC in Cleveland 2016

Os investidores bolsistas estão confrontados com “cenários muito assustadores”, avisou Donald Trump.

São esses os riscos para que alertou Donald Trump na sua entrevista à Fox Business, uma entrevista dada poucas horas depois de um dos mais famosos investidores em todo o mundo, Warren Buffett, ter lançado fortes críticas a Trump — o único empresário que Buffett algum dia conheceu “que gosta de se gabar de quantas vezes foi à falência”.

Os talentos como empresário e como investidor de Donald Trump foram questionados por Buffett, que disse que teria sido melhor investir nas recomendações de um macaco do que “ir na cantiga” de Donald Trump e investir nas suas empresas, que “fizeram os investidores perder dinheiro ano após ano”. Teria sido um melhor investimento pedir a um macaco que atirasse dardos a uma página de jornal com os nomes das empresas cotadas, e investir nas empresas onde caíssem os dardos, defendeu Warren Buffett.