O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse, em entrevista a uma televisão brasileira transmitida na quarta-feira, que Portugal está “partido ao meio” e que o seu papel enquanto chefe de Estado é “unir o país”.

Em declarações à GloboNews, explicando o cenário político nacional, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal tem hoje “o Governo mais à esquerda desde a revolução” de 1974 e que conta com o apoio de dois partidos – o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda – com peso, “o que significa que têm o país partido ao meio”.

“Qual é o papel do Presidente? É unir o país, é fazer ponte, é criar diálogo, é impedir que o hemisfério de direita, que considera que tinha ganho as eleições e que devia estar governando, não hostilize de tal forma e não rompa de tal forma com o hemisfério de esquerda, que o diálogo se torne impossível”, descreveu, tentando o sotaque brasileiro.

Do mesmo modo, continuou, o papel do Presidente é fazer com que “o hemisfério de esquerda, que chega ao poder com esse apoio parlamentar”, “não olhe para a direita com um afastamento tal, que também impossibilite o diálogo”.

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É por isso que Marcelo Rebelo de Sousa disse receber os partidos “todos os dois meses”, vincando: “Se você não fala, você não entende e se você não entende, você não cria pontes”.

“O problema quando há um país partido é que quem está à esquerda não conhece quem está à direita e quem está à direita não conhece quem está à esquerda. E se você pergunta o que vai na cabeça daquele líder, a probabilidade é de falhar. Não é estar de acordo nas ideias, é não entender o que passa pela cabeça do outro lado do poder”, reforçou.

Sobre pequenos gestos, como viajar em classe económica, o Presidente recusou falar em populismo, referindo antes que um povo que “sofreu uma crise profunda (…) não entende que o Estado não dê o exemplo naquilo que gasta”, tal como “não entende a promiscuidade entre poder económico e poder político” e a falta de transparência.

Na entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa deixou ainda um recado ao Brasil, país que este ano assume a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), afirmando que a organização “não está morta”.

“Agora depende largamente do Brasil, porque Portugal aposta, mas o Brasil tem de apostar”, completou.

Para o chefe de Estado, se o Brasil “quer ser uma potência mundial”, não pode minimizar o peso da CPLP, sobretudo numa altura em que vários países querem aderir como observadores da comunidade.

O Presidente lembrou ainda que “há uma candidatura brasileira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para daqui a poucos anos e em que esta comunidade tem sido essencial nessas candidaturas internacionais”.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou, na segunda-feira, uma visita de seis dias ao Brasil, por ocasião dos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro, tendo passado também por São Paulo e Recife.

“Para nós portugueses é um momento único na vida esta Olimpíada num país que fala português, no maior país que fala português e, por isso, que naturalmente lidera o mundo que fala português”, disse ainda na entrevista.