A economia portuguesa cresceu 0,2% no segundo trimestre de 2016, face aos primeiros três meses do ano, ao mesmo ritmo dos últimos dois trimestres, indicou nesta sexta-feira o Instituto Nacional de Estatística. Em termos homólogos, a economia cresceu apenas 0,8%, o ritmo mais baixo desde o final de 2014.

Há um ano que a economia não cresce mais do que isto; 0,2%. As taxas de crescimento em cadeia (variação face ao trimestre anterior) nunca foram muito altas desde que a economia voltou a crescer após os anos de recessão durante o programa de resgate da troika, crescendo um máximo de 0,5%.

No entanto, há quatro trimestres consecutivos que as notícias são menos positivas. A economia abrandou logo na segunda metade de 2015. Entre julho e setembro desse ano, a economia só cresceu 0,1%. Nos três trimestres que se seguiram, a economia não conseguiu crescer mais do que 0,2%, em cadeia. Em termos homólogos, a economia tem vindo a mostrar uma desaceleração, passando de um crescimento de 1,7% no terceiro trimestre de 2015, para 0,8% no segundo trimestre deste ano (números conhecidos).

Segundo o INE, este desempenho deve-se a um crescimento menos positivo da procura interna e a uma redução mais expressiva do investimento, um elemento critico para as contas do Governo, segundo as palavras do próprio ministro das Finanças, numa altura em que a previsão de crescimento do Governo ainda não foi revista dos 1,8% inscritos no Orçamento e no Programa de Estabilidade.

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O INE explica que, no que diz respeito à variação homóloga do PIB, o contributo da procura interna para o crescimento do PIB “diminui significativamente”. A boa notícia surgiu de onde menos se esperava, a procura externa líquida. A desaceleração acentuada no ritmo de crescimento das importações em comparação com a das exportações de bens e serviços permitiu à procura externa líquida dar um contributo positivo para o crescimento do PIB.

Aquém das expetativas?

Há muito que as previsões para a economia portuguesa esta ano são objeto de discussão acesa entre a esquerda e a direita. CDS-PP e PSD têm, citando as previsões de organizações internacionais para a economia portuguesa, defendido que as previsões são demasiado otimistas e que o crescimento ficará aquém dos 1,8% do PIB previstos pelo Governo.

Por sua vez, o Governo, depois de alguma resistência inicial, já admitiu publicamente, pela mão de Mário Centeno, que as previsões poderão ser revistas em baixa até ao final do ano.

Ainda assim, a expetativa dos economistas era que a economia tivesse crescido o dobro no segundo trimestre do que se veio a verificar. Segundo um grupo de economistas contactado pela Agência Lusa, a expetativa era que a economia crescesse 0,4% no segundo trimestre, face aos primeiros três meses do ano, mais 1% face ao mesmo trimestre de 2015.

Economia deve crescer menos de 1%

O fraco desempenho no primeiro semestre coloca alguns problemas ao Governo, tanto na vertente política como na vertente orçamental, diz ao Observador o economista Ricardo Santos, que espera que a economia cresça menos de metade do esperado pelo Governo.

Este resultado torna cada vez mais provável um crescimento abaixo de 1% no ano como um todo. Para chegar a 1%, a economia teria de crescer a um ritmo superior a 0,6% nos próximos trimestres, algo bastante improvável, principalmente no contexto atual”, diz o economista.

O crescimento abaixo do esperado pode trazer consigo problemas para as contas públicas, diz o economista, alertando ainda assim para a necessária cautela na análise dos resultados, que ainda não têm grandes detalhes: [este resultado] torna as estimativas do Governo cada vez mais improváveis e torna igualmente o objetivo do défice mais difícil de ser atingido. Ainda é cedo para ter certezas, já que não há detalhes quanto às componentes, mas o nível da atividade e da procura interna será certamente mais baixo, colocando pressão sobre a execução orçamental.

Alemanha cresce mais, Itália desaponta

No resto da Europa há mais países que deram a conhecer a evolução das suas economias esta manhã. Na Alemanha, boas notícias: a economia cresceu 0,4%, acima das expetativas, segundo o Wall Street Journal, cujo grupo de economistas contactado espera um crescimento de apenas 0,2%.

Este crescimento, segundo o Destatis, resulta de uma melhoria nas exportações alemãs, mas também com ajuda dos gastos das famílias e do Governo alemão. No primeiro trimestre, a economia cresceu 0,7%, um ritmo que os especialistas consideravam insustentável.

Em Itália, as notícias são menos positivas. A economia estagnou no segundo trimestre, quando a expetativa era que crescesse pelo menos 0,2%. No primeiro trimestre, a economia italiana tinha crescido 0,3%.

A economia holandesa cresceu 0,6% no segundo trimestre, 2,3% face ao mesmo trimestre do ano passado, segundo o Instituto de Estatística holandês, CBS, que também divulgou dados esta sexta-feira.

Já a segunda maior economia do euro, a França, é habitualmente a primeira a divulgar números, estagnou no segundo trimestre, tal como a Itália. Os números foram divulgados no final do mês passado.

Espanha, que também divulgou os seus dados a 29 de julho, continua a mostrar um crescimento mais robusto: 0,7% no segundo trimestre, uma ligeira queda no ritmo de crescimento do primeiro trimestre, que foi 0,8%.

A economia da Grécia também cresceu no segundo trimestre, 0,3% em comparação com os três primeiros meses do ano, uma recuperação ainda pontual que não apaga os maus resultados da segunda metade do ano passado, já que em termos homólogos o resultado do segundo trimestre representa uma queda de 0,7%.

Zona euro cresce 0,3% com três países em estagnação

Os dados entretanto revelados pelo Eurostat, apontam para que a economia da zona euro tenha crescido apenas 0,3% no segundo trimestre, 0,4% se olharmos para a economia na União Europeia. Em comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a economia terá crescido 1,6% e 1,8%, respetivamente.

O crescimento agora verificado acontece com três economias em estagnação na zona euro, França e Itália, segunda e terceira maiores economias da zona euro, e a Áustria terão estagnado no segundo trimestre, de acordo com a primeira estimativa para a evolução da economia no segundo trimestre.

Para além deste grupo, só a economia da Lituânia cresceu menos que a de Portugal, apenas 0,1%, na União Europeia, sendo que sete países ainda não apresentaram números relativos ao segundo trimestre.

(Artigo atualizado às 12:19)