Ainda falta um mês para voltar a ter o Parlamento cheio e em pleno funcionamento, mas os partidos não perdem tempo e começam já, a meio de agosto, a marcar o palco político. O primeiro é o PSD, com a tradicional festa do Pontal, já este domingo no sítio do costume. E a partir deste fim de semana, já não haverá descanso. Segue-se o Bloco de Esquerda, depois o PCP e o CDS (nos mesmos dias). Só no fim chegará o PS, mesmo antes de a Assembleia da República voltar à carga e em força, até porque a tarefa do pós-férias é de peso: Orçamento do Estado.

Os trabalhos para a preparação da proposta do Governo já começaram, até porque são feitos a quatro (PS, PCP, BE e Verdes), mas a prova maior vai fazer-se nas últimas semanas de setembro, quando se finalizar o documento. Será um teste importante à resistência da “geringonça”, sim, mas também à habilidade da oposição. E o aquecimento começa já a ser feito nos próximos dias, com linhas vermelhas a serem traçadas, exigências alinhadas, críticas preparadas, como se pode ver naquilo que os partidos (a maioria deles) já têm alinhado.

O sétimo Pontal de Passos, entre o Orçamento e o “eu avisei”

PSD: Festa do Pontal

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pedro Passos Coelho na festa do Pontal

Desde que Passos foi eleito líder do PSD, em 2010, não falhou uma festa do Pontal, no calçadão de Quarteira, no Algarve. Depois da década de Cavaco Silva, o Pontal viveu dias de amargura e foi apenas com Passos que o PSD conseguiu voltar a dar peso político à festa laranja. Em 2010, Passos não era primeiro-ministro mas ostentava o fulgor de quem viria a ser e, nos anos seguintes, havia de ir ao Pontal para justificar as decisões difíceis que tomava enquanto governante. Este ano é diferente. Passou-se quase um ano desde que o PSD caiu do Governo para dar lugar à “geringonça” da esquerda e os militantes e simpatizantes querem saber o que tenciona o partido fazer para voltar ao poder.

Segundo disse ao Observador o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, são esperados entre 1.500 e 2 mil participantes no jantar que custa 10 euros, em Quarteira. Um número que fica aquém do registado no ano passado (na ordem dos 3 mil) mas que se explica pelo facto de a festa do ano passado ter contado também com a presença do CDS, já que serviu como tiro de partida para a campanha eleitoral da coligação Portugal à Frente. Para a direção do partido, de resto, se a adesão se verificar na ordem dos 2 mil participantes é um “sinal muito positivo” da mobilização do partido.

Passos Coelho será mais uma vez o protagonista do comício deste domingo, prevendo-se que use o palco algarvio para mostrar qual vai ser a postura do partido perante os desafios que aí vêm. O primeiro, todos sabem, é o Orçamento do Estado para 2017, que será não só um teste à coesão da “geringonça”, mas também um teste à força da oposição. Segundo várias fontes contactadas pelo Observador, Passos Coelho não tem pressa de que haja novas eleições, pelo que vai concentrar todos os seus esforços em chamar o Governo à responsabilidade: se o modelo falhar, a responsabilidade é do Governo e não digam que o PSD não avisou, nem que não tinha um modelo alternativo.

Para quem pede uma postura mais aguerrida e combativa ao líder, talvez isso seja mais difícil. Ainda esta semana, a propósito dos incêndios que deflagraram no país e da alegada resposta tardia do Governo, Passos Coelho podia ter interrompido as férias para aparecer a comentar o caso mas não o fez, apesar de, segundo fontes oficiais do partido, se manter a par dos acontecimentos. Passos não fará oposição com barulho nem “aproveitamentos políticos”, garante Matos Rosa. Nisso, tudo como dantes. Para já, o truque é mesmo o esperar para ver, para um dia poder tirar da cartola o “eu avisei”.

PS comícios-free

No PS a história conta-se, por agora, em poucas linhas. Não há muito definido sobre a rentrée, a não ser que este ano não haverá nenhum comício do partido, mas sim uma conferência com convidados que ainda não se conhecem. O gabinete da secretária-geral Adjunta, Ana Catarina Mendes, diz que tudo só começará a ser preparado no início de setembro, já que a conferência com que António Costa quer marcar o arranque do ano político do partido só se realizará a meio desse mês. E não quis adiantar mais nada.

A primeira Festa desde que o PCP se entendeu com o PS

Seixal, 05/09/2015 - Visitantes na Festa do Avante. Desde ontem o Partido Comunista Português (PCP), organiza na Quinta da Atalaia, a 39ª edição da Festa do Avante. Entre sexta-feira e domingo, junta a agenda política a um programa variado entre debates, workshops, música, teatro e cinema. (Reinaldo Rodrigues / Global Imagens)

A festa do “Avante!” celebra 40 anos

No PCP não há ciência, a rentrée faz-se como se tem feito nos últimos 40 anos, com a Festa do “Avante!”, a 2, 3 e 4 de setembro. A única novidade (e não é pequena) é que esta é a primeira Festa que os comunistas fazem desde que apoiam o Governo socialista no Parlamento. O que muda? Nada, garante a organização. O PCP pretende fazer o balanço desta experiência, ao lado do PS, mas não quer ficar por aí e, na agenda do ano político que se prepara para começar, os comunistas insistem nas palavras de ordem contra a União Europeia. É o que mais os separa do PS e o que mais prova faz (perante os militantes que estarão na Festa) que o PCP mantém o seu espaço.

Em declarações ao Observador, Manuel Rodrigues, diretor do jornal Avante! garante que “a intervenção do partido é a mesma de sempre” e que fazer parte da maioria que apoia o Governo no Parlamento em nada vai interferir no evento. O partido vai voltar à carga no combate à precariedade, tema que vai ocupar espaço em várias das exposições da Festa. Mas Manuel Rodrigues alinha outros combates: “Reverter as políticas conduzidas pelo anterior governo, levando mais longe os avanços já conquistados”. O diretor do jornal oficial do partido defende a necessidade de “uma política alternativa que defenda os trabalhadores e os setores de economia” passando pelo “controlo público da Banca” e um novo “conceito de política fiscal”.

Só não adianta uma vírgula do discurso que o secretário-geral fará na Festa e que, tal como é tradição, lançará as prioridades do partido para a próxima época política e também alguns desafios que já podem adivinhar-se pelo texto publicado na última edição do “Avante!”. Nesse texto, o partido compromete-se a “recuperar e materializar a justiça social, valorizar o trabalho e os trabalhadores”. Mas também declara que “basta de submissão à União Europeia e ao Euro” e que quer “renegociar a dívida”. As questões europeias ficaram fora da Posição Conjunta assinada com o PS, precisamente porque as posições dois dois partidos foram consideradas inconciliáveis: o PS quer resolver a partir de dentro da União Europeia, o PCP quer romper com tratados e regras.

O que não muda no PCP é a diversidade do cartaz cultural deste encontro no Seixal. Este ano comemoram-se os 40 anos da Festa que se realiza na Quinta da Atalaia — naquilo a que Manuel Rodrigues chama de “aniversário glorioso” — e que, por isso mesmo, contará com uma exposição alusiva a este marco, com destaque para as frases de Álvaro Cunhal nos primeiros dois anos do evento. O número de palcos aumentou, mas os espaços mais emblemáticos mantêm-se para receber artistas como Ana Moura, Carlão e Sérgio Godinho & Jorge Palma.

Bloco regressa com juras de fidelidade à “geringonça”, mas sem esquecer a Europa

Economia, Negócios e Finanças, Política, Partidos e movimentos, Pobreza

Catarina Martins no Fórum Socialismo

A receita repete-se: o Bloco de Esquerda volta a assinalar a rentrée política com a organização do Fórum Socialismo. Este ano, nos dias 26, 27 e 28 de agosto, a cidade de Santa Maria da Feira vai ser palco de um conjunto de debates em que o papel de Portugal na Europa e na União Europeia será sempre uma questão central.

Num momento em que se discute o papel do socialismo na Europa, este é o momento certo para se “aprofundar a reflexão crítica sobre o que significa ser socialista” na União Europeia e se é possível sê-lo seguindo “obedientemente as regras” de Bruxelas, argumenta o deputado bloquista José Manuel Pureza, em declarações ao Observador.

Antes de ir a banhos, o Bloco de Esquerda marcou a discussão política ao propor um referendo às regras do Tratado Orçamental, assim a União Europeia decidisse aplicar sanções a Portugal. Com as sanções descartadas, José Manuel Pureza admite que a decisão dos responsáveis europeus “retirou pressão à iniciativa”. Mas avisa: “Nós não esquecemos [a proposta de referendo]”.

Ainda assim, o tempo agora é de concentrar todas as energias na discussão do Orçamento do Estado para 2017, que contará com “a pressão crescente” de Bruxelas, sugere o vice-presidente da Assembleia da República. As prioridades do Bloco mantêm-se: continuar a aposta na “recuperação de rendimentos” e na “defesa e qualificação do Estado Social”. Será preciso tomar “decisões difíceis”, concede, mas, ao contrário do que tem sido assinalado pela oposição, a discussão do Orçamento não é o teste derradeiro à sobrevivência da “geringonça”. “Todos os dias têm sido testes derradeiros. Mas estamos muito confiantes que seja possível dar mais um passo importante e conseguir resultados positivos para o país.”

E nem as sondagens que dão conta que, em caso de novas eleições, PS e Bloco de Esquerda conseguiriam desenhar uma aliança parlamentar sem o parceiro comunista, faz tremer a convicção do Bloco. “Essa análise não tem qualquer sentido. Percebo que haja quem goste de fazer esses exercícios, mas nós não alimentamos nenhum campeonato com quem quer que seja” — existe a noção clara da “responsabilidade acrescida” a que obriga o momento, garante Pureza. A “geringonça” quer-se coesa.

CDS: a promessa de uma oposição “firme” e “construtiva”

Esposende: Escola de Quadros do CDS-PP com a presença de Pedro Mota Soares e Adolfo Mesquita Nunes.

Pedro Mota Soares, um dos oradores da Escola de Quadros do CDS, em 2015

No ano em que se assinalam os 40 anos do partido, os democratas-cristãos vão marcar o arranque dos trabalhos com dois momentos: primeiro, com a Escola de Quadros para os jovens do CDS, em Peniche, entre 1 e 4 de setembro; depois, assinalarão a rentrée com uma iniciativa política em Oliveira do Bairro, a 10 de setembro.

Os próximos meses adivinham-se de intensa discussão política, com o Orçamento do Estado para 2017 a concentrar todos os esforços. A pressão, diz Nuno Magalhães, líder da bancada parlamentar do CDS, está do lado da maioria de esquerda. “O Governo do PS é suportado por Bloco de Esquerda, PCP e Verdes. Cabe a esses partidos garantirem condições para a aprovação do Orçamento do Estado e de estabilidade governativa“, vai avisando o democrata-cristão.

Nuno Magalhães, de resto, não poupa críticas ao caminho escolhido pelo Governo socialista e parceiros parlamentares. As opções económicas e financeiras tomadas pelo atual Executivo, diz o centrista, estão a fazer “colapsar a nossa economia” e a “prejudicar e a pôr em risco o esforço” feito por todos os portugueses. O líder parlamentar do CDS garante, por isso mesmo, que o partido vai continuar a fazer “uma oposição firme” às medidas tomadas nessas matérias. Essa continuará a ser a prioridade do partido.

Em tudo o resto, em matérias como Saúde, Educação e Segurança Social, por exemplo, o CDS compromete-se a fazer “uma oposição construtiva”. Medidas concretas? Nuno Magalhães prefere não concretizar, mas promete: vêm aí novidades já em setembro.