Um menino de cerca de cinco anos, retirado dos escombros de um edifício após uma explosão num bairro em Aleppo (na Síria) e sentado num ambulância. Cheio de pó e ensanguentado, olha de frente para a câmara, passa a mão pela cara com o ar alheado e sem perceber o que aconteceu. Uns breves segundos que chocam quem os vê e resumem a tragédia Síria, há cinco anos em guerra civil.

Omran Daqneesh é uma das cinco crianças feridas na passada quarta-feira num ataque militar que atingiu um edifício em Aleppo. As imagens foram recolhidas pelo Aleppo Media Center (um grupo ativista contra o Governo sírio) e segundo as últimas informações, Omran recebeu tratamento hospitalar e já teve alta.

Uma mulher, dois jovens adultos e cerca de 12 outras pessoas também ficaram feridos no ataque ao bairro de Qaterji (provavelmente levado a cabo por militares russos ou pró-Assad) e foram assistidos no hospital M10, refere o The Telegraph.

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Raf Sanchez, correspondente deste jornal britânico no Médio Oriente, divulgou através da sua conta do Twitter, outra imagem de Omran Daqneesh, depois de receber tratamento no hospital M10, que também foi atingido pelos ataques aéreos.

A fotografia de Omar Daqneesh tem sido amplamente partilhada nas redes sociais (sobretudo no Twitter) e para muitos representa para a história da guerra civil Síria, o que a fotografia de Aylan Kurdi numa praia turca representou para a crise dos refugiados.

Guerra civil sem fim à vista?

Quando as ondas de choque da chamada “primavera árabe” — que tiveram epicentro na Tunísia mas que rapidamente se estenderam a países como a Líbia, o Egito, 0 Bahrain ou o Iémen (que também vive uma guerra civil) –chegaram à Síria, o presidente Bashar al-Assad decidiu reprimir os protestos da população de forma violenta.

As manifestações eram tanto em defesa da democracia, como contra a longevidade de Bashar al-Assad no poder. Assad chegou à presidência da Síria em 2000, sucedendo ao pai Hafez al-Assad que governou o país durante três décadas (até à sua morte). E pretende manter-se no poder, mesmo com as ruas da Síria transformadas num violento campo de batalha.

Em abril passado, Staffan de Mistura, enviado especial da ONU à Síria estimava que ao longo dos últimos cinco anos de guerra civil morreram cerca de 400.000 pessoas. Em meados de 2015, a Rússia aliou-se ao regime de Bashar al-Assad e deu início a ataques aéreos no país. Russos e norte-americanos —- coordenadores das negociações de paz sobre a Síria — negociaram por várias vezes tentativas de cessar-fogo, sem sucesso. A permanência al-Assad na cadeira do poder é o principal entrave a “um entendimento” sobre o futuro político na Síria (embora a sua saída já tenha sido anunciada, mais do que uma vez).

Negociações diplomáticas à parte, a contagem de vítimas não pára de aumentar. Esta quinta-feira, um relatório da Amnistia Internacional contabiliza a morte de mais de 17 mil pessoas nas prisões sírias, desde 2011. Segundo a organização humanitária, nas prisões sírias ocorrem sistematicamente “torturas, condições desumanas e mortes”.