Ainda há quem saiba imitar os seus maiores. A Disney/Pixar voltou a instituir a boa tradição de exibir sempre uma curta antes das suas longas-metragens de animação, e parece que a Illumination Entertainment, recém-chegada ao ramo, mas já responsável por sucessos como os dois “Gru, o Mal-Disposto” e “Mínimos”, lhe vai seguir o exemplo.

Em complemento do seu novo filme animado digital e em 3D, “A Vida Secreta dos Nossos Bichos”, passa uma curta dos Minions, onde as criaturinhas amarelas, presas fáceis e sem cheta da publicidade televisiva, vão trabalhar no jardim de um lar de idosos para poderem comprar uma batedeira. O cartoon dos Minions é um concentrado de anarquia colorida, barulhenta e esfuziante, servindo às mil maravilhas de aperitivo para o que se segue no filme principal.

[Veja o “trailer” da nova curta animada dos Minions]

Chris Renaud e Yarrow Cheney, os realizadores de “a Vida Secreta dos Nossos Bichos”, sabem muito bem que praticamente toda a gente tem um fraquinho por desenhos animados bem-dispostos com animais falantes. E todos aqueles que povoam o filme, independentemente da espécie, tamanho, feitio, disposição e manias pessoais, estão bem desarrincados e caracterizados, visual, temperamental e psicologicamente (mérito aos argumentistas e para a vasta equipa de animação da produtora), e com as respetivas vozes certeiramente distribuídas. Já é meio caminho andado.

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A história conta-se em duas penadas: é a ideia de “Toy Story” transportada para Nova Iorque, com animais que falam em vez de brinquedos com vida e que, quando os donos saem de casa, só fazem disparates.

[Veja o “trailer” de “A Vida Secreta dos Nossos Bichos”]

O afável cãozinho Max não gosta nada quando a sua dona Katie traz para casa o grande e peludo Duke. A crescente rivalidade entre os dois cães e a sua disputa pelos favores da dona e pelo domínio territorial do apartamento, vão fazer com que ambos fiquem sem as coleiras e acabem perdidos em Brooklyn (a culpa é tanto de ambos como dos gatos vadios – “A Vida Secreta dos Nossos Bichos” é pró-cães a 90 por cento, ficam já avisados os sectários dos gatos). Quando sabem da notícia do desaparecimento, os mimados amigos e vizinhos de Max e Duke, comandados pela cadelinha Gidget, secretamente apaixonada por Max, vão à procura deles.

[Veja a gravação das vozes do filme e o produto acabado]

Segue-se um estouro da bicharada, uma mega-confusão zoológica, que deixa Nova Iorque de pantanas e envolve a participação de fauna tão desvairada como um “hamster”, um falcão, uma serpente gigante, um periquito, um camaleão um crocodilo ou um cão que se movimenta no equivalente de uma cadeira de rodas para caninos.

Há ainda Snowball, um coelhinho branco fofinho só de aspeto e que quase rouba o filme aos heróis, porque é o frenético, revoltado e agressivo líder de uma organização de mascotes abandonadas pelos donos, que vivem nos esgotos e só pensam em vingança.

[Veja uma entrevista com os dois realizadores]

Embora não tenha a inventividade no contar, a elaboração cinematográfica, a agilidade estilística, a riqueza emocional e a loquacidade humorística das produções da Disney/Pixar, pelas quais, inevitavelmente, se medem as longas-metragens animadas que competem num mercado cada vez mais atarefado, “A Vida Secreta dos Nossos Bichos” mesmo assim apresenta suficientes argumentos visuais, narrativos, cómicos (há até espaço para piscadelas de olho cinéfilas e alfinetadas a algumas fixações atuais dos humanos, caso do apego doentio aos iPhones) e ternurentos, bem como uma paleta de personagens ampla e muito pândega, para se qualificar como um mais do que aceitável divertimento animado de Verão.

Muito mais do que alguns desanimados filmes de imagem real que pretendem entreter-nos mas andam é a morrer pelos cantos dos cinemas. (E vem aí uma Parte 2, como se já não tivessem adivinhado).