A Presidente brasileira com mandato suspenso, Dilma Rousseff, reconheceu nesta quinta-feira que errou ao escolher Michel Temer para vice-presidente e na redução de impostos beneficiando setores empresariais. Num encontro com jornalistas de agências de notícias internacionais no Palácio da Alvorada, em Brasília, Dilma Rousseff disse que esperava “lealdade” de Michel Temer, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), mas afinal, acusou, ele “queria ser era Presidente”.

Dilma Rousseff, que enfrenta um julgamento por irregularidades orçamentais no Senado, tem acusado Michel Temer, que a substituiu interinamente na Presidência, de traição. Se Dilma Rousseff for condenada por pelo menos 54 dos 81 senadores, será considerada culpada e perderá o direito de ocupar cargos públicos eletivos durante oito anos e Michel Temer assumirá a Presidência até às próximas eleições presidenciais.

“Todo o processo que nós fizemos de redução de impostos beneficiando sectores empresariais não resultou em ganhos para o conjunto da economia” com “ampliação dos investimentos e da demanda”, avaliou.

Em resposta à agência Lusa, a Presidente suspensa recusou que “tenha falta de apoio” do Partido dos Trabalhadores (PT), apesar de o movimento não apoiar a sua ideia de fazer um plebiscito sobre a realização de novas eleições e uma reforma política, caso regresse ao poder, após o julgamento final no Senado, agendado para o final do mês.

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A Presidente suspensa avaliou que no Brasil, “pelo nível de conflito”, “não tem mais como se pactuar por cima”, mas antes consultar o povo. “Não é mais possível a fragmentação partidária de ter 35 partidos. Ninguém acredita que 35 partidos são programáticos. A fragmentação dos partidos é patrocinada pelo fisiologismo [procura de vantagens pessoais ou favorecimentos privados no desempenho de cargos públicos em prejuízo do interesse comum]”, avaliou.

Dilma Rousseff disse que o Brasil chegou a um cenário político com 35 partidos, devido ao “tempo de televisão e ao acesso ao fundo partidário”, e lamentou os “problemas para governar” daí decorrentes e que dificultam a aprovação de diplomas no Congresso.

“Porque querem fazer uma violência dessa magnitude, um ‘impeachment’ [destituição] sem crime?”, questionou, frisando que, apesar de considerar que o processo contra si configura um golpe, deve defender-se, dado que “a grande forma de ampliar a democracia é oxigenar o debate público” e aceitar as disputas em todas as instituições. Frisando que espera “justiça” dos senadores, antecipou que vai também argumentar a favor da democracia e “do respeito pelo voto direto do povo brasileiro”.

“Sempre que eu olho para o futuro, em quaisquer das hipóteses (…) eu tenho de me preocupar que nós não vivamos neste país um baita [enorme] retrocesso”, disse, sublinhando: “Se você está convencido de uma coisa, lute por ela”. Dilma Rousseff olha para o passado com a certeza de que, “apesar de reconhecer alguns erros”, houve “grandes acertos” no seu governo e no do seu antecessor, Lula da Silva, “no sentido dos ganhos sociais”.

Destacou ainda que o PT não está em risco, visto que, apesar de quererem criminalizá-lo atentando contra a liberdade partidária, é “fruto de todo um movimento social” e “uma clara ruptura com a ideologia de que no Brasil o povo tem de ser submisso”. A Presidente respondeu ainda que recebeu uma carta do Papa Francisco, mas não quis declarar mais sobre a missiva.

Quanto à abertura de um inquérito contra si e Lula da Silva por tentativa de obstruir a Justiça, Dilma Rousseff disse que vê o caso com naturalidade.