O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, questionou esta quinta-feira a exigência da Renamo de um afastamento das Forças de Defesa e Segurança da região onde presumivelmente se encontra Afonso Dhlakama para a suspensão das hostilidades militares em Moçambique.

“Recuar para onde? Esse é que é o problema, porque os ataques surgem em Maúa, surgem em Morrumbala, surgem em vários pontos, portanto, recuar para onde?”, questionou o chefe de Estado, falando esta quinta-feira na cidade da Beira, centro de Moçambique, numa conferência de imprensa de balanço de uma visita quatro dias à província de Sofala.

As delegações do Governo moçambicano e da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas negociações de paz em Moçambique continuam a divergir sobre os termos para a cessação das hostilidades militares.

Segundo um comunicado conjunto lido no fim da reunião de quarta-feira, a Renamo aceita uma trégua temporária para facilitar a deslocação dos mediadores internacionais à Gorongosa, mas coloca como condição o afastamento das Forças de Defesa e Segurança da região.

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A delegação do Governo considera, por seu lado, que as Forças de Defesa e Segurança “cumprem em todo território uma missão de Estado constitucionalmente consagrada” e argumenta que “é a suspensão imediata das hostilidades militares que vai garantir a segurança do corredor” a estabelecer para a viagem dos mediadores.

Nas suas declarações desta quinta-feira, o Presidente moçambicano reiterou que as soluções para a crise política devem ser encontradas à luz da Constituição, considerando que o povo moçambicano deve ser “sério e firme”, evitando emoções.

“Temos que encontrar uma solução que seja sustentável, viável. Não rasgar a Constituição da República, não por abaixo a democracia que é uma realidade neste país, onde ciclicamente as pessoas vão às urnas para diferentes tipos de eleições”, afirmou Filipe Nyusi.

Os mediadores das negociações de paz em Moçambique propuseram ao Governo e à Renamo a presença de observadores internacionais em todos os pontos de conflito, incluindo em Gorongosa, para uma suspensão das hostilidades, mas as partes não chegaram a acordo.

A região centro de Moçambique tem sido palco de relatos de confrontos entre o braço armado da Renamo e as Forças de Defesa e Segurança e denúncias mútuas de raptos e assassínios de dirigentes políticos das duas partes.

As autoridades moçambicanas acusam a Renamo de uma série de emboscadas nas estradas e ataques nas últimas semanas, em localidades do centro e norte de Moçambique, atingindo postos policiais e também assaltos a instalações civis, como centros de saúde ou alvos económicos, como comboios da mineira brasileira Vale.

Alguns dos ataques foram assumidos pelo líder da oposição, Afonso Dhlakama, que os justificou com o argumento de dispersar as Forças de Defesa e Segurança, acusadas de bombardear a serra da Gorongosa.

A Renamo exige governar em seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014, acusando a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder há mais de 40 anos) de ter cometido fraude no escrutínio.