GRUPO F. Real Madrid, Dortmund, SPORTING, Légia Varsóvia

Malditos goleadores (o Ruud e o Ian) de pé quente e… mão-fria (quase gelada)

Obrigadinho, Ruud… por nada. Ninguém queria calhar no Grupo F. Porquê? Simples: era o do Real Madrid e do Dortmund, o campeão europeu em título e o “vice” alemão. Um grupo tão ou mais “da morte” do que o C, de Barcelona e Manchester City. Ao palco engalanado do Grimaldi Forum, no Mónaco, subiu o holandês Ruud van Nistelrooy. Era ele que haveria de deitar ao mão às bolinhas brancas (as más-línguas dizem que umas mais a fervilhar do que outras) do terceiro pote, o do Sporting — o Benfica foi cabeça-de-série e estava no primeiro; FC Porto no segundo –, um holandês de “mão-fria”, tão fria que rapidamente tirou “Sporting” da taça. Mas não se culpe só Rudd. É que Ian Rush, o embaixador da final de Cardiff (ele que é galês) e lenda do Liverpool, tirou a bola e o papelinho finais: “Grupo B”, lia-se.

— Irra, que azar.

Calma. Das duas, uma: ou o Sporting é eliminado diante de dois favoritos à conquista da “orelhuda” — e ninguém lhe poderá apontar o dedo –, ou elimina um dos dois e se torna uma das surpresas da Liga dos Campeões. Se Edward Murphy (o tal senhor da lei com o apelido dele) tiver razão e tudo correr mal, a Liga Europa será dos males o menor. E ao terceiro lugar (o que dá acesso à prova secundária da UEFA) o Sporting é favorito, pois o outro clube que calhou no Grupo F foi o Légia de Varsóvia. Curiosamente ou não, foi na Liga Europa que o Sporting defrontou (2011/12) pela última vez o Légia: nos 16-avos-de-final, empatou (2-2) na Polónia, vencendo 1-0 em Alvalade e eliminando os polacos. Não, não há muito o que temer. O que não falta no Légia são camisolas com -ski nas costas, mas nenhum deles é Lewandowski ou perto disso. Mas atenção: são habitualmente estes outsider que tramam os favoritos. Oxalá “tramem” o Real ou o Dortmund.

Quanto ao confronto do Sporting com o Real Madrid, este marcará o regresso de Cristiano Ronaldo — esta quinta-feira eleito no Mónaco o melhor entre os melhores da Europa — ao estádio José Alvalade. Novidade? Nem por isso. Ronaldo já defrontou o Sporting na Liga dos Campeões, então em 2007/2008, então pelo Manchester United. E molhou a sopa. Duas vezes. Valha-lhe que em Alvalade não quis celebrar o golo, pediu até desculpa pela “traição”, e este regresso será mais de aplausos que de apupos. Ah, é verdade: o último campeão europeu em título que o Sporting defrontou na Liga dos Campeões foi… o Real Madrid. Estávamos em 2000/01. O Sporting empatou (2-2) primeiro em Alvalade, sendo depois goleado (4-0) no Santiago Bernabéu.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Por fim, o Dortmund. Não é mais o Dortmund de Jurgen Klopp, hoje na Premier League e no Liverpool. Mas é o de Thomas Tuchel, que quer — tanto ou mais do que Klopp queria — que os que vestem de amarelo tenham para si a bola. O tempo todo. Quem tem Gotze, Reus, Kagawa ou Sahin (nem vale a pena enumerar mais, pois são muuuuuitos) no plantel pode dar-se a esse luxo – o de não deixar o adversário sentir o gosto de couro à “menina”. E quem tem Aubameyang lá na frente, pode dar-se a outro: o de marcar mais golos que o adversário. A contagem do gabonês, por enquanto, está a zeros. E a de Slimani também. Tal como a história: nunca os alemães defrontaram o Sporting.

GRUPO G. Leicester, FC PORTO, Brugge, Copenhaga

Só não segue em frente se não quiser

Se o Sporting teve azar (logo se verá se o vira de pernas para o ar) até mais não, o FC Porto teve sorte. À partida, teve sorte. Algum dia ela teria de vir. Não veio na pré-eliminatória, quando aos azuis-e-brancos calhou uma das “favas” do sorteio, a AS Roma, mas veio hoje.

Quanto aos adversários, todos eles são campeões em título: de Inglaterra, da Dinamarca e da Bélgica. E comecemos pelos belgas, que dos três campeões é aquele que o FC Porto melhor conhece. Pelo menos no historial de confrontos, pois foi o único que defrontou. Foi na época de 1972/1972, na então Taça UEFA. À segunda ronda — não havia fase de grupos como hoje há na Liga Europa –, o FC Porto goleou (3-0) nas Antas e perdeu (3-2) no Bélgica. Contas feitas, 6-2 e apuramento. Ah, é verdade: por falar em “conhece melhor”, quem treina o Brugge é um nosso conhecido, Michel Preud’homme, ex-guarda-redes do Benfica. Mas a Preud’homme falta-lhe a matéria-prima para bater o pé ao FC Porto: Jelle Vossen é o goleador e o veterano (39 anos) Simons o líder. Tudo o mais é peanuts.

E se é a verdade que a Michel Preud’homme falta gente que intimide Nuno Espírito Santo, a Stale Solbakken, treinador do Copenhaga, faltam mais ainda. Os dinamarqueses chegam ao Grupo G depois de, tal como FC Porto, terem ultrapassado a 3.ª pré-eliminatória, onde deixaram por terra os cipriotas do APOEL. Pfffff, o que é que é o APOEL ao pé da Roma? Da defesa ao meio-campo, nada se tema. Mas atenção ao ataque: está lá o matulão Andreas Cornelius (que não se safou na Premier League, mas no Copenhaga é um “Ronaldo”) e o esguio Santander, que tem apelido de banco, mas banco não é com ele: é titularíssimo e paraguaio. Para quê? Guaio.

Quem falta? Hmmm… o Leicester. Provavelmente, nem a mãe de Claudio Ranieri — e por tanto que lhe queira bem, como só as mães querem — acreditaria que o filho venceria a Premier Legue e disputaria a Liga dos Campeões. Mas a verdade é que venceu. E que vai disputar. Do Leicester campeão só saiu o francês N’Golo Kanté, para o Chelsea. Jamie Vardy e Riyad Mahrez continuam por lá. E a eles se acrescentaram uns quantos nomes (“de peso”) mais, como o sprinter Musa ou o homem dos três pulmões, Nampalys Mendy — Kanté tem aqui um substituto tirado a papel-químico. Entre FC Porto e Leicester se decidirá o líder do Grupo G. E os azuis-e-brancos não se poderão queixar do que Chelsea, Manchester City e United, Liverpool ou Arsenal se queixaram no último ano: o Leicester não é mais uma surpresa; é o melhor entre ingleses.

GRUPO B. BENFICA, Nápoles, Dínamo Kiev, Besiktas

Ir onde “Deus” foi feliz e ao “inferno” (com o dente a bater pelo meio)

Nápoles não é a Cova da Iria. E o estádio San Paolo é grandinho o suficiente para não ser confundido com uma azinheira. Mas lá também se avistou uma aparição, não de Nossa Senhora, mas de “Deus”. Ele próprio: Diego Armando Maradona.

O Nápoles não é mais o da década de 1980, com Ferrara, Alemão, Careca e o próprio do Pibe. Andou pelas ruas da amargura durante anos, mas está de volta aos melhores dias – ainda que sem títulos, por “culpa” da hegemónica Juventus na “bota” que Itália é. Maurizio Sarri perdeu Gonzalo Higuaín, nem de propósito, para a Juve. Mas com a pipa de massa que os transalpinos pagaram por ele, o Nápoles comprou Milik (atenção ao polaco e à canhota dele) ou Giaccherini, dando quem quis levar-lhe Koulibaly (e o Chelsea quis muito) ou Hamsik com o nariz na porta. Sarri é senhor de, mais do que ter a bola no pé, querer rapidamente colocá-la na baliza adversária. Tal como o Benfica de Rui Vitória — outro senhor de transições rápidas. São eles, Benfica e Nápoles, quem vai disputar o primeiro lugar do grupo, ponto. E plantel não lhes faltará. Tal como não faltou da última vez que se defrontaram, em 2008/09, e o Benfica levou a melhor: o Nápoles foi borda fora da Liga Europa logo na 1.ª eliminatória; 3-2 no San Paolo, 2-0 na Luz.

Mas a passagem aos “oitavos”, quer para Benfica, quer para Nápoles, decidir-se-á no frio da Ucrânia e no “inferno” de Istambul, como é conhecido o estádio do Besiktas – esse, e qualquer estádio turco. O Benfica nunca defrontou os turcos. Mas sabe deles que têm um seu ex-jogador: Talisca. Não é pelo brasileiro (e, sobretudo, o remate dele) que o gato vai às filhós. Mas por Adriano, Ozyakup e, sobretudo, Quaresma, já irá.

Quanto ao Dínamo de Kiev, há confronto para contar, mas é antigo: foi em 1991/92, na então Taça dos Campeões Europeus, e as águias perderam (1-0) na Ucrânia e golearam (5-0) na velhinha Luz. O português Antunes e o ex-benfiquista (salvo seja, que nem dos bês passou) Derlis jogam no Dínamo. Mas aquele em quem os olhos (mil!) devem cair é no camisola dez, Yarmolenko — a sério: o que é que Yarmolenko ainda está a fazer na Ucrânia? Se o Benfica não se chamuscar no “inferno” nem enregelar no frio, está nos oitavos-de-final. “Se”…

Está assim ordenada a fase de grupos da Liga dos Campeões. Entre muitos e bons confrontos para seguir, o maior destaque vai para o regresso de Pep Guardiola (agora com o City) a Camp Nou e ao Barcelona.