O telefone tocou já passava das três da manhã. Suspirou. Na escola de detetives já lhe tinham ensinado que o crime não escolhe momento. Mas era a experiência de dezasseis anos que falava por si: aquela parecia ser a hora mais sangrenta do relógio. Quando atendeu, a voz de Sr. Smith atravessou-lhe o ouvido: era uma pessoa nervosa por natureza e, mesmo depois de dez anos a lidar com crimes, o sangue ainda lhe causava arrepios. Toda a gente no escritório sabia que, no fundo, Sr. Smith tinha uma relação de extremo respeito com o mundo que vive além da morte.

“Precisamos que vá imediatamente a cada uma das moradas que lhe enviámos agora, Sr. Observador. E vista um casaco. Esta noite está especialmente fria”. Levantou-se. Sabia porque foi o escolhido: embora outros três detetives estivessem de plantão naquela noite, era o único que conseguia lidar com os crimes mais intrincados da cidade. E aqueles eram especialmente misteriosos: numa noite só, 10 pessoas tinham morrido em locais e circunstâncias completamente diferentes. A sua função é descobrir como é que elas perderam a vida. Vestiu o casaco, saiu de casa quando o relógio já batia as 3h47. Estas foram as pistas que o detetive encontrou.

Chá frio

Duas raparigas, ambas com 23 anos, jantaram juntas no restaurante “Túlipa”, junto ao jardim mais apreciado da cidade. As duas pediram chá frio. Uma das raparigas, a mais inteligente, por coincidência, bebia o sumo muito rapidamente e conseguiu engolir cinco chás frios no mesmo tempo em que a amiga – que, embora menos inteligente, era muito mais bonita –, bebeu apenas um. A rapariga que bebeu apenas um sumo morreu. A outra sobreviveu. Mas o laboratório policial não entende como: todas as bebidas estavam envenenadas. Como é que a rapariga que bebeu mais sumos fugiu à morte?

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A cassete de vídeo

O apartamento estava limpo, apesar da confusão própria de um jovem de 20 anos. O corpo de Oliver, estudante de Gestão na universidade da cidade, estava estendido no chão junto a uma câmara relativamente recente. Na mão esquerda de Oliver, além de um elástico que podia pertencer a alguma colega de escola, havia também uma cassete de vídeo. Quando a polícia o viu, a hipótese de suicídio adensou-se: “Já não tenho motivo para viver. Não posso continuar mais”. Depois, o som de uma pistola ecoa vinda da televisão. Foi aí que entenderam tudo. Aquele não era um caso de suicídio. Oliver tinha sido assassinado. Como é que a polícia chegou a essa conclusão?

Números

O caso merecia especial atenção para a polícia: a vítima era Sr. Garcia, um detetive da cidade. Todos sabiam que Sr. Garcia, um inglês patriótico, estava numa missão delicada na América do Sul e que estava a poucos dias de desmantelar uma rede internacional de contrabando de petróleo. O detetive desapareceu da noite para o dia e o seu corpo ainda não tinha sido encontrado. Sabiam, isso sim, e graças às tecnologias mais avançadas, qual tinha sido o último sítio onde tinha estado. Foi lá que encontraram uma nota: “710 57735 34 5508 51 7718”. A polícia não sabia o que significava isto, mas tinha três suspeitos: Bill, John e Todd eram inimigos confessos de Sr. Garcia. Como é que o código pode desvendar qual deles é o criminoso?

Pessoas ricas

Já era domingo de manhã quando este mistério apareceu. James Handley, fundador de uma das mais importantes fábricas de relógios do país, foi encontrado morto nessa manhã pela mulher, Sarah, que chamou de imediato a polícia. Chorava muito quando a polícia chegou à mansão dos Handley, palco de algumas das festas mais requintadas da região. Tanto Sarah Handley como os funcionários da família foram interrogados. Como de costume, todos tinham álibi: a mulher disse que estava a dormir, o mordomo disse que estava a limpar o armário da roupa, o jardineiro estaria a colher os vegetais, a empregada disse que estava a receber o correio e a cozinheira garantiu que estava a preparar o pequeno-almoço. “Você está preso em nome da lei”, disse a polícia. Quem foi preso e como é que a polícia soube quem era?

Fato largo

Tudo aconteceu em Freemont Street. Um homem de sapatos azuis foi alvejado no estômago enquanto caminhava pelo passeio daquela mesma rua. Todas as suspeitas recaíram sobre Sean Baker, um homem de cabelo castanho e olhos azuis que usava um fato Armani. As testemunhas fizeram exatamente a mesma descrição do indivíduo que viram junto à vítima. Sean Baker foi, então, detido pela polícia para prestar declarações. “Desembucha, conta-nos tudo desde o início”. E ele defendeu-se: “Bem, eu estava apenas a andar à volta do parque quando vi um homem a caminhar pelo passeio. De repente, outro homem apareceu atrás dele e alvejou-o. E eu fugi para casa o mais depressa que conseguia”. A polícia não conseguia acreditar, por isso pediu-lhe que descrevesse o suposto assassino. “Ele tinha um bigode ruivo, cabelo ruivo também, e um fato Armani que lhe ficava largo”. Ninguém acreditou: aquele homem só podia estar a mentir. Porquê?

Quartos

Não há ninguém nesta cidade que não conheça John Cornell ou Assassino de Prata, um homem na casa dos quarenta que matou a mulher, os dois filhos e um amigo da família com um punhal de prata. John foi condenado à morte e aquela era a noite da sua despedida. Tinha de escolher um de três quartos, cada um dos quais com diferentes formas de morrer. O primeiro quarto estava coberto de um fogo fervoroso. O segundo quarto tinha pessoas armadas. O terceiro quarto tinha leões que não comiam há cinco anos. Qual deles é o mais seguro para John Cornell?

Carros, facas, esposas

Um homem matou a mulher dentro do carro, mas ninguém assistiu ao crime. De acordo com aquilo que a polícia conseguiu apurar no local, não muito longe da igreja da cidade, ele atirou-a para fora do veículo. Mas foi cuidadoso: não deixou quaisquer impressões digitais no corpo da mulher. A seguir, atirou a faca de um penhasco. O objeto acabou por cair dentro de um buraco nas rochas que dava acesso ao mar, o que o torna impossível de recuperar. O homem foi para casa, mas uma hora mais tarde a polícia ligou-lhe. “A sua mulher foi morta. Venha para o local do crime imediatamente”. Ele foi. E foi logo preso. Porquê?

Cara ou coroa

O cadáver de Clara Johnson, de 37 anos, foi encontrado nas traseiras de um dos mais famosos centros comerciais da cidade. Pela posição do corpo, é evidente que Clara se atirou de um dos andares para se suicidar, mas é melhor não descartar, para já, outros cenários. Como detetive meticuloso que é, sobe ao primeiro andar do centro comercial e anda pelo salão na mesma direção em que o corpo foi encontrado. Depois abre a janela nessa direção, atira uma moeda ao ar e deixa-a cair no chão. A seguir sobe ao segundo andar e repete todo o processo. Faz isso em todos os andares até chegar ao último. Quando vai ter com a equipa, vem com novidades: “Não foi suicídio. Clara Johnson foi morta”. Como é que ele soube?

Funeral

Miss Pearson estava devastada, chorando compulsivamente e limpando a cara num lenço. Por maior que seja o apelo da natureza, ninguém está realmente preparado para assistir ao funeral da mãe. No meio de lágrimas, Miss Pearson conhece um homem. O homem tinha olhos verdes, tez morena e mãos largas. No meio de toda a tristeza, Miss Pearson sentiu uma qualquer atração por aquele homem, de quem não sabia o nome. Mas havia de descobrir a identidade e, com sorte, o seu número de telefone. Depois de se despedir de toda a sua família, Miss Pearson foi procurar o homem. Não o encontrou. Uma semana depois, ela matou o irmão na esperança de encontrar o misterioso homem. Porque é que isso aconteceu?

A casa de campo

Sr. Bentley tinha enriquecido a fazer negócios no ramo da arquitetura. Agora, com 73 anos e viúvo, decidiu viver sozinho numa pequena casa de campo. Mas precisava de ajuda: como era parcialmente incapacitado, tudo o que comprava ou pedia tinha de lhe ser entregue ao domicílio. Na sexta-feira, o carteiro reparou que a porta de casa de Sr. Bentley estava aberta. Quando espreitou pela porta reparou que o corpo do senhor estava numa poça de sangue seco. Assim que a polícia chegou começou a fazer buscas no local. Na varanda da casa havia duas garrafas de leite morno, o jornal “Diário da Cidade” de segunda e de terça-feira, um catálogo, folhetos e correio por abrir. A polícia acha que foi crime. De quem suspeita a polícia e porquê?

Sr. Observador, tem mais alguns minutos para descobrir as respostas a todas estas perguntas. Como detetive de excelência que sabemos ser, esperamos desvendar estes crimes da forma mais perfeccionista possível. Para voltar a conversar connosco, continue a ler este artigo. Lá em baixo encontrará a chave para os mistérios. Bom trabalho.

Seja bem-vindo de novo, Sr. Observador. Aqui estão as respostas a que esperamos que tenha chegado.

1 – O veneno estava no gelo. A rapariga que bebeu apenas um sumo acabou por dar tempo ao gelo para derreter dentro do chá, permitindo ao veneno espalhar-se pelo líquido. A outra rapariga, bebendo mais depressa, não permitiu que houvesse tempo para o gelo derreter e para o veneno se misturar com o sumo.

2 – Muito simples. Se o homem se tivesse matado, como poderia ele ter rebobinado a fita da cassete que estava na sua mão?

3 – Lembrando que Sr. Garcia era um inglês patriótico, com certeza iria escrever uma nota em inglês no leito da sua morte. Agora inverta a nota. Com que letras se assemelham aqueles números? A mensagem deixada por Sr. Garcia é “BILL IS BOSS. HE SELLS OIL” (Bill é o chefe. Ele vende petróleo).

4 – Foi a empregada: não há entrega de correio ao domingo.

5 – Seria impossível que o homem ruivo tivesse conseguido vir por trás da vítima e a tivesse conseguido alvejar no estômago.

6 – É o quarto dos leões. Após cinco anos sem comer, os leões já teriam morrido há muito tempo.

7 – O marido nunca perguntou à polícia qual era o local do crime e dirigiu-se imediatamente lá. Como poderia saber onde a mulher tinha morrido se não fosse ele o autor do crime?

8 – Se o detetive teve de abrir as janelas em todos os andares, não pode ter sido suicídio: a vítima não teria conseguido fechá-las depois de saltar.

9 – Se o homem misterioso assistiu ao funeral da mãe, provavelmente é alguém ligado à família. Ela matou o irmão na esperança que ele aparecesse de novo no funeral.

10 – A polícia suspeita do responsável pelo jornal diário. Porque teria ele deixado de entregar o jornal na quarta, na quinta e na sexta-feira?