O segundo dia do julgamento do processo de destituição da Presidente com mandato suspenso Dilma Rousseff começou com muitas discussões, que causaram uma interrupção da sessão no plenário do Senado (Câmara alta parlamentar) até ao início da tarde.

A polémica começou logo na abertura dos trabalhos, quando a advogada de acusação Janaina Paschoal e os senadores que apoiam o impeachment (destituição) contestaram uma das testemunhas de defesa, a ex-secretária de Orçamento Esther Dweck, dizendo que ela estaria comprometida já que foi recentemente nomeada assessora da senadora do Partido dos Trabalhadores (PT) Gleisi Hoffmann.

O advogado da defesa José Eduardo Cardozo criticou a insinuação. “Na política, a vingança é sempre maligna. Há intenção de desqualificar a professora Esther Dweck. Ela participou diretamente dos processos dos decretos [usados como base da denúncia com Dilma Rousseff para provar que ela cometeu crime ao autorizar despesas não previstas no orçamento], tem grande informação a esse respeito e, por isso, foi chamada como testemunha”, disse José Eduardo Cardozo.

Apesar de mostrar descontentamento com a acusação, José Eduardo Cardozo comunicou aos senadores que a defesa desistiu de ouvir Esther Dweck para evitar eventuais constrangimentos.

Mesmo assim, os senadores Ronaldo Caiado, um dos maiores defensores do impeachment, e Lindbergh Farias, que apoia Dilma Rousseff, continuaram a discutir no plenário, o que levou o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que preside ao julgamento, a ameaçar desligar os microfones.

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A sessão foi interrompida por cinco minutos. No reinício, o presidente do Senado, Renan Calheiros, pediu a palavra para solicitar aos parlamentares que reduzissem intervenções repetidas.

No meio da sua intervenção, porém, acabou por aumentar a tensão ao lembrar uma declaração feita pela senadora Gleisi Hoffmann, que disse sexta-feira no primeiro dia do julgamento que nenhum senador tinha moral para julgar Dilma Rousseff.

“A senadora Gleisi [Hoffmann] chegou ao cumulo de dizer que o Senado Federal não tinha moral para julgar a Presidente da República. Como a senadora pode fazer uma declaração destas, exatamente uma senadora que há 30 dias conseguiu que o presidente do Senado revertesse no Supremo Tribunal Federal o indiciamento dela e de seu esposo, que havia sido feito pela polícia federal”, declarou.

Estas palavras foram contestadas por Gleisi Hoffmann e outros apoiantes de Dilma Rousseff gerando nova troca acesa de palavras.

Face ao aumento da confusão, o presidente do Supremo Tribunal Federal decidiu suspender a sessão até às 17h, sem ter ouvido a primeira das seis testemunhas de defesa inscritas para falar esta sexta-feira.

A etapa final do processo de impeachment acontece nove meses depois que uma denúncia contra Dilma Rousseff foi aceite na Câmara dos Deputados.

A Presidente com mandato suspenso é acusada de ter cometido crime de responsabilidade ao praticar manobras fiscais para melhorar as contas públicas e assinar decretos a autorizar despesas que não estavam previstas no orçamento.

Se 54 dos 81 senadores entenderem que a Presidente suspensa cometeu estes crimes, Dilma Rousseff perderá definitivamente o mandato e o direito a ocupar cargos públicos eletivos por oito anos, assumindo Michel Temer, atual Presidente interino, a liderança do país até às presidenciais de 2018.