As lanças estão todas apontadas a Rui Moreira mas ainda ninguém sabe quem vai liderar a investida social-democrata. A pouco mais de um ano das eleições autárquicas os nomes dos candidatos desejados pelas várias fações do PSD à Câmara Municipal do Porto vão circulando pelos corredores: Paulo Rangel, Pedro Duarte, Marco António Costa, António Tavares, Emídio Gomes, Bragança Fernandes… A lista é longa, embora alguns dos possíveis candidatos alimentem mais anticorpos do que outros num PSD/Porto “completamente partido e divido, onde ninguém confia em ninguém”, como descreve um dirigente do partido ao Observador. Na São Caetano à Lapa, em Lisboa, a palavra de ordem parece ser uma: contenção. Até porque há ainda quem alimente o desejo secreto de ver a “geringonça” ruir antes das autárquicas. E isso balhararia todas as contas.

A manter-se a atual disposição das peças, a estratégia do PSD para a Câmara do Porto pode ser uma de duas: apostar num candidato conhecido pelo aparelho, com notoriedade, ou alguém que trouxesse uma lufada de ar fresco e uma forma diferente de fazer política. Perfis que se aproximam ao de Paulo Rangel, eurodeputado e ex-candidato à liderança do PSD, e ao de Pedro Duarte, ex-líder da JSD, antigo deputado e governante.

Hugo Dias, ex-dirigente do PSD/Porto e um dos rostos do movimento Porto Mais, que deverá ser formalizado em breve e que pretende ser uma alternativa à linha dura do partido no Porto, diz ao Observador que não esconde que “existe um movimento que se está a formar e que apoia Pedro Duarte” para a Câmara do Porto.

A 15 de julho, Hugo Dias, que foi apoiante de Luís Filipe Menezes nas últimas autárquicas, demitiu-se do Conselho Estratégico do PSD no Porto por discordar abertamente do rumo e das decisões tomadas pela concelhia. Agora, e apesar de acreditar que Pedro Duarte seria o melhor candidato social-democrata, tem dúvidas que o ex-líder da jota aceite. “Se nada for feito as coisas vão correr muito mal. Na situação em que o PSD do Porto se encontra vai ser difícil encontrar alguém credível e com força para andar na rua. E não acredito que Pedro Duarte avance perante o atual estado de coisas. É uma pena, mas sem mudança radical [nos órgãos locais], não me parece provável que avance”, lamenta Hugo Dias.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A possibilidade de Pedro Duarte avançar, ainda que improvável, é encarada pelos seus apoiantes como uma oportunidade para o atual diretor de Assuntos Corporativos da Microsoft Portugal se testar politicamente. Um ensaio para avançar, no futuro, para as autárquicas de 2021, ou uma rampa de lançamento para uma futura corrida à liderança do partido. Pedro Duarte, que regressou à política para ser diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa, participou no último congresso do PSD posicionando-se como crítico e possível sucessor de Pedro Passos Coelho.

O próprio Pedro Duarte, no entanto, garante que não tem intenções de entrar na corrida à autarquia portuense: “As autárquicas estão completamente fora do meu horizonte, por motivos de índole pessoal e profissional. Nunca cheguei sequer a ponderar”, diz, em declarações ao Observador.

Paulo Rangel thumbnail

O eurodeputado Paulo Rangel negou que tivesse havido contactos para ser candidato à câmara do Porto, mas não foi taxativo a fechar a porta

O nome de Paulo Rangel parece reunir mais consenso como o “desejado”– mas tem o problema de ser amigo de Rui Moreira até — porque a hipótese de o candidato ser Marco António Costa não é unânime nos órgãos locais. “Marco António Costa só faz sentido em Gaia, onde foi vereador”, ouviu o Observador junto de um dirigente do PSD/Porto. Em julho, quando o Jornal de Notícias publicou que Passos tinha convidado Rangel para ser candidato ao Porto, o eurodeputado desmentiu qualquer tipo de conversa ou contacto nesse sentido com o líder do partido, mas também com os dirigentes locais. Dedicou toda uma coluna do Público ao assunto. Analisou. Deu a entender que não queria. Mas não fechou a porta. Nem disse que jamais seria uma possibilidade.

“Que explicações haverá para tal mistério?”, questionou Rangel nesse artigo a propósito das notícias que o davam como candidato. A seguir especulou sobre essas explicações, sem : “Uma benigna: há gente do PSD interessada em que seja candidato. Duas malignas. Há gente do PSD interessada em que diga que não sou candidato para tentar mostrar que – apesar de ter um mandato europeu e ser simultaneamente vice-presidente do Grupo PPE e do PPE, tendo acesso a reuniões periódicas do mais alto nível – não estive disponível para uma batalha autárquica. E há gente no PS interessada neste cenário para tentar convencer Rui Moreira a não concorrer como independente e encabeçar uma lista PS.”

Emídio Gomes, ex-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Norte, foi avançado pelo Expresso este fim-de-semana. É amigo de Passos e foi despedido pelo Governo socialista. Outra hipótese seria António Tavares, presidente da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que já negou a intenção de avançar — aproveitando para lançar Marco António Costa. O próprio Bragança Fernandes, histórico presidente da Câmara de Maia e recém-eleito líder da distrital do PSD/Porto, seria uma possibilidade, mas era sempre uma escolha de último recurso.

Com muitas dúvidas por esclarecer, há entre sociais-democratas quem acredite convictamente que a eleição, apesar de ser difícil, está longe de estar irremediavelmente perdida. As contas fazem-se assim: com a “geringonça 2.0” de Rui Moreira (o independente conta com o apoio de PS e CDS). O autarca portuense pode vir a hostilizar parte do eleitorado social-democrata, composto em grande medida por muitos soldados de Rui Rio, que apostou nele contra Menezes em 2013. Além disso, parte do eleitorado do CDS pode não gostar de ver o seu partido a apoiar no Porto uma candidatura que vai entregar a Manuel Pizarro e aos socialistas a vice-presidência da Câmara. Depois, há o Bloco de Esquerda, que poderá ter uma candidatura forte. Há sociais-democratas a apostar que o BE pode lançar Catarina Martins no Porto. Nesta equação, o PSD poderia sair fortalecido. Pelo menos, assim esperam os sociais-democratas.

Bragança Fernandes, líder da distrital, diz ao Observador que é ainda muito cedo para assumir uma posição em torno do candidato do PSD à câmara portuense e que os presumíveis candidatos “são todos bons nomes e nomes credíveis”. Miguel Seabra, presidente da concelhia, aponta o mesmo caminho. “Tudo o que se possa dizer agora é pura especulação. A única coisa certa é que o apoio a Rui Moreira está completamente fora de questão. Onde o PS está o PSD não está”. A verdade é que o caminho é estreito para o partido recuperar do pior resultado de sempre na Invicta, que obteve com Luís Filipe Menezes em 2013.