Duas conclusões possíveis quando se olha a programação de teatro e dança das próximas semanas. Por um lado, ganham destaque os nomes internacionais, muitos dos quais encenados ou trabalhados por artistas portugueses. Por outro, a criação em torno de temas existencialistas, como se este fosse o momento de pensar o nosso lugar no mundo. Conheça várias propostas para o regresso depois das férias.

Almada

Teatro Municipal Joaquim Benite – “Rei Lear“, 24 de setembro

Versão de Rogério de Carvalho da tragédia de Shakespeare numa produção do grupo portuense Ensemble. “Os temas da retórica da lisonja, da justiça, da culpa, da degradação moral e das consequências devastadoras que os atos dos homens podem espoletar são tratados de modo profundo e com uma dimensão cósmica”, resume o autor da adaptação.

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Teatro Municipal Joaquim Benite – “The Art of Losing”, 29 e 30 de setembro

A perda e a brevidade da vida são temas da coreografia que São Castro criou com a Companhia de Dança de Almada, tendo por mote o verso “a arte de perder não é difícil de se dominar”, da poetisa norte-americana Elizabeth Bishop.

Coimbra

Convento de São Francisco – “Cut, frame and border”, 16 de setembro

Performance da realizadora e encenadora brasileira Christiane Jatahy, em estreia nacional, a partir do filme “Short Cuts” (“Os Americanos”, na versão portuguesa, 1993), de Robert Altman. Relações, quotidianos, violência, diferenças sociais, uma crónica da vida na cidade.

Teatro Académico de Gil Vicente – “Romance da Última Cruzada”, 16 de novembro

Uma dissertação sobre a guerra e a história pessoal dos indivíduos. De que forma a representação da biografia condiciona a construção da memória e da identidade? Criação do grupo Visões Úteis, com marca de Ana Vitorino e Carlos Costa, em estreia absoluta.

Faro

Teatro das Figuras – “Cascas d’Ovo”, 22 de setembro

O espetáculo “nasceu da necessidade de explorar uma comunicação telepática, sobre-humana, enquanto expoente máximo da conexão relacional de um casal”, refere a nota de intenções. Interpretação da dupla Jonas Lopes e Lander Patrick, este último autor do conceito.

[Excerto de “Cascas d’Ovo”]

Guimarães

Centro Cultural Vila Flor – “Força Humana”, 30 de setembro

Reler “Os Lusíadas”, de Camões”, e procurar entender o Portugal contemporâneo, eis a proposta de António Fonseca e José Neves em “Força Humana”, com música de Paulo Furtado. Uma estreia absoluta.

Leiria

ACASO – Festival de Teatro, 16 de setembro a 30 de outubro

Da 21ª edição deste festival de Leiria com espetáculos em várias localidades da região centro (Batalha, Marinha Grande, Fátima, Santa Eufémia, Pedrógão Grande, entre outras), destaca-se “América, Suitamérica”, no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria. Encenação de Jorge Silva e Rui Mendes, da companhia Teatro dos Aloés, a partir de textos dos norte-americanos John Anthony West e Israel Horovitz. Retratos da vida moderna ligados pelo absurdo das relações humanas.

Lisboa

Teatro Maria Matos – “Germinal”, 8 e 9 de setembro

Quatro indivíduos adultos lançam-se na criação de um mundo novo, a partir do nada, como se tivessem chegado hoje ao planeta. A linguagem, a história, a noção de comunidade, as estruturas sociais – está tudo por fazer. E essa criação vai levá-los a por em causa o mundo em que vivemos. Da autoria de Halory Goerger e Antoine Defoort, “Germinal” abre a temporada 2016-17 no Maria Matos, integrando o ciclo de programação “Utopias”, com curadoria de Liliana Coutinho e Mark Deputter. É o regresso ao mesmo palco, depois de uma estreia marcante no festival Alkantara de 2014.

[excerto de “Germinal”]

Teatro Nacional D. Maria II – “O Pato Selvagem”, 9 de setembro a 9 de Outubro

Escrito em 1884, “O Pato Selvagem”, de Henrik Ibsen, parte da fábula em que um pato ferido decide agarrar-se ao lodo do fundo de um lago para não voltar a viver, acabando, contra a sua vontade, por ser salvo por um cão. “Tragicomédia carregada de simbolismo”, assim descrita na sinopse, levanta questões sobre a necessidade que os humanos têm de viver na mentira, por oposição à verdade que pode destruir. Versão de Tiago Guedes, com os atores Anabela Almeida, Gonçalo Waddington, João Grosso, Lúcia Maria, Margarida Correia, Pedro Gil e Tónan Quito.

Teatro Nacional D. Maria II – “Nova Criação”, 10 a 18 de setembro

Espetáculo de Ágata Pinho, integrado no ciclo “Recém-nascidos”, que consiste em apresentações de novos criadores na Sala Estúdio do Teatro D. Maria II. Quatro personagens partem do género ficção científica para falarem de utopias e distopias, do perto e do distante, do bom e mau, do possível e impossível.

Teatro da Politécnica (Artistas Unidos) – “O Rio”, 14 de setembro a 22 de outubro

O Rio, de Jez Butterworth, com encenação de Jorge Silva Melo, vista pela primeira vez em Londres há dois anos, põe em cena um homem que “trouxe uma nova namorada para a sua isolada cabana rural para passar o fim de semana e iniciá-la nas alegrias transcendentes da pesca noturna de truta”. Mas ela desaparece. E vai reaparecer transformada em outra pessoa. Com Rúben Gomes, Inês Pereira, Vânia Rodrigues e Maria Jorge. Segue-se este ano, no calendário dos Artistas Unidos, “O Novo Dancing Elétrico”, de Enda Walsh, com estreia a 9 de novembro, sobre três irmãs que “tiveram os seus desejos sexuais destruídos por uma estrela de rock em digressão”.

Sociedade Guilherme Cossul – Festival da Paixão, 16 e 17 de setembro

Descrito como “mostra festiva de teatro”, na vertente profissional e amadora, o Festival da Paixão, segunda edição este ano, nasceu em 2015 em torno das celebração dos 130 anos da Sociedade Guilherme Cossul, em Lisboa. O grosso do programa acontece entre 22 e 25 de setembro, mas já no dia 17 será feito o aquecimento. Merece menção “A Cidade”, de Luís Moreira, sobre a solidão e isolamento da vida urbana adaptação do texto homónimo incluído no livro O Torcicologologista, Excelência, de Gonçalo M. Tavares.

Centro Cultural de Belém – “De Marfim e Carne – As Estátuas Também Choram”, 16 e 17 setembro

Estátuas, bailes e a petrificação são, respetivamente, metáforas de imobilidade, movimento e transformação de humanos em pedra. É a premissa da coreógrafa e intérprete Marlene Monteiro Freitas, neste espetáculo acompanhada por Andreas Merk, Betty Tchomanga, Lander Patrick e Cookie. No Pequeno Auditório do CCB.

[Excerto de “De Marfim e Carne – As Estátuas Também Choram”]

Centro Cultural de Belém – “Um Diário de Preces”, 22 a 25 de setembro

Na sala de ensaio do CCB, Miguel Loureiro apresenta uma peça construída em torno de um texto homónimo, revelado em 2013, da escritora norte-americana Flannery O’Connor, católica no sul protestante. Um monólogo com deus sobre o “sentido do absoluto nas nossas vidas”, com reflexões em torno dos limites da criação artística. Interpretação de Isabel Abreu.

Culturgest – “Adeus”, 20 e 21 de setembro

adeus culturgest

Grande Prémio do Festival de Belgrado em 2015, é um monólogo de Jonathan Capdevielle com êxitos pop, Madonna incluída, cantos pirenaicos e conversas imitadas. “Um autorretrato onde a identidade da personagem se vai revelando: ambivalente, complexa, vulnerável, divertida ou triste, homem ou mulher”, diz a sinopse de “Adeus”.

Culturgest – “Vortex Temporum”, 29 e 30 de setembro

Criação de Anne Teresa De Keersmaeker, em conjunto com a estrutura Rosas & Ictus, que a acompanha há vários anos, leva ao Grande Auditório da Culturgest a obra-prima homónima do compositor contemporâneo Gérard Grisey. “Como pode a dança representar visualmente a polifonia?”, eis a pergunta de partida. Corpo de sete bailarinos ligados a sete músicos, em coreografia associada ao movimento que cada instrumento induz.

[Excerto de “Vortex Temporum”]

Porto

Teatro do Campo Alegre – “Casa Vaga”, 15 a 18 de setembro; 21 a 24 de setembro

Um programa político: “Interpelação às reais condições de vida e de trabalho em Portugal e inquirição sobre os modos sistémicos de domínio que o modelo capitalista exerce sobre os indivíduos.” Assim aparece descrito o alcance desta peça, e de outras em tempos recentes, assinadas pelo Teatro Experimental do Porto. Ponto de partida: três portugueses que emigraram para faroeste americano em meados do século XIX em busca de um novo mundo. Concecão de Gonçalo Amorim, Pedro Gil, Raquel Castro e Rui Pina Coelho.

Teatro Nacional de São João – “Cordel”, 15 a 25 de setembro

Os romances de cordel, literatura dita menor que remonta ao século XVII, inspirou os autores José Carretas e Amélia Lopes para uma peça feminina, de rimas imaginosas, com “histórias de mulheres sábias, sanguinárias, místicas, dissolutas e apaixonadas, começando nessa Xerazade que é a Donzela Teodora”.

Rivoli – “Moçambique”, 16 e 17 de setembro

A Mala Voadora leva ao Grande Auditório do Rivoli, em estreia absoluta, um espetáculo baseado em elementos biográficos dos três elementos mais antigos da companhia. Um deles, Jorge Andrade, nasceu em Moçambique e veio para Portugal em criança, mas faz de conta que sempre lá viveu. História inventada, teatro documental que não visa a verdade, segue depois para o Teatro Maria Matos, em Lisboa, nos dias 23 a 27 de setembro, e para o Teatro Viriato, em Viseu, dias 4 e 5 de novembro.

Rivoli – “Gold”, 24 de setembro

Versão de um espetáculo de 2013 intitulado “The Goldlandbergs”, “Gold”, do coreógrafo israelita Emanuel Gat, é sobre a história de uma família e a natureza das relações humanas. “Cinco bailarinos num cenário que permanece como um limiar para o êxtase tranquilo de indivíduos envolvidos uns com o outro”, diz a sinopse. É a primeira apresentação em Portugal.

[excerto de “Gold”]

Teatro Nacional de São João – “Os Últimos Dias da Humanidade”, 27 de Outubro a 19 de Novembro

Nuno Carinhas e Nuno M Cardoso encenam pela primeira vez em palcos portugueses a obra máxima do escritor austríaco Karl Kraus, “Os Últimos Dias da Humanidade”, sobre o mal absoluto da guerra, a de 1914 como referência. “Do monumental edifício original, extraímos uma dramaturgia que respeita a progressão cronológica do drama: do assassínio do arquiduque Franz Ferdinand ao colapso das Potências Centrais”, descrevem. É uma proposta ambiciosa, com 21 atores, dividida em três partes e assim apresentada ao longo de outubro e novembro, ou de um só fôlego na última sessão, a 19 de novembro.

Vila do Conde

Circular Festival de Artes Performativas, 23 de setembro a 1 de outubro

Chega à 12ª edição e inclui estreias absolutas e nacionais, apresentações em processo de criação e intervenções em espaço público. Para 24 de setembro, destaca-se na Rua da Praia (Vila do Conde/Caxinas) a peça “Os Pescadores”, de João Sousa Cardoso, criação não fechada, livremente inspirada na obra homónima de Raul Brandão, descrita como uma exploração das noções de masculinidade e de género, de trabalho e de sacrifício, de erotismo e morte.