O programa previa que só na última etapa do percurso a Secretária de Estado da Inclusão de Pessoas com Deficiência tivesse protagonismo, mas Ana Sofia Antunes trocou as voltas ao plano. Mal chegou à Rua Alexandre Herculano, para onde a Câmara Municipal de Lisboa convocou jornalistas e pessoas com deficiências motoras para mostrar os novos passeios, passadeiras e semáforos, a governante tomou a iniciativa de liderar o ajuntamento. “Então podemos seguir?”, perguntou, quando ainda se davam os beijinhos da praxe.

Em passo seguro, a primeira secretária de Estado cega do país seguiu rua acima para logo se deter numa paragem de autocarros próxima. É caso único na cidade: um dos vidros de trás da paragem foi retirado e agora há um espaço que permite às pessoas em cadeira de rodas chegar mais facilmente à borda do passeio. Além disso, a câmara retirou a calçada portuguesa e colocou um pavimento liso, interrompido por um piso tátil destinado a ajudar peões cegos.

A autarquia quer que as duas mil paragens de autocarros da cidade sejam assim. Mas quer também que as 9.400 passadeiras da capital sejam rebaixadas e tenham piso liso e seguro. E quer igualmente que os passeios tenham uma faixa lisa e antiderrapante, a par da tradicional calçada. Objetivos que já foram cumpridos na Rua Alexandre Herculano, no centro de Lisboa, e que agora vão ser levados para outros pontos da cidade.

O novo modelo de passeios e passadeiras que a autarquia quer em toda a cidade (Fotografia: Américo Simas/CML)

O novo modelo de passeios e passadeiras que a autarquia quer em toda a cidade (Fotografia: Américo Simas/CML)

“Há uma prioridade central à segurança e ao equilíbrio”, disse Fernando Medina, presidente da câmara, já no fim do trajeto, em frente a uma pastelaria. “Estas soluções são para todos, para todas as pessoas, de todas as idades”, continuou o autarca, que diz que estas alterações não vão beneficiar somente os portadores de deficiências.

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E Ana Sofia Antunes ficou convencida com o passeio. Além dos novos pisos e das estrias no chão para indicar o caminho a cegos, a Alexandre Herculano também já tem semáforos para peões que apitam, vibram e até têm indicações em braille sobre o nome das ruas e o número de vias de rodagem. Uma inovação de que a governante gostou particularmente. “Ah, Rua Castilho. Quase parecia ‘castigo'”, disse, entre sorrisos, enquanto lia a descrição do equipamento.

“A experiência foi tranquilizadora”, disse no fim a secretária de Estado, que afirmou estar “muito orgulhosa” do trabalho da câmara e incitou outras autarquias a seguir o exemplo lisboeta. “É importante que nos orçamentos municipais haja um bocadinho de verba” para estas matérias, acrescentou.

Na ocasião, Fernando Medina anunciou que, “até meados do ano que vem”, 2.500 passadeiras da cidade vão estar como as da Alexandre Herculano. A autarquia está a aproveitar as obras no Eixo Central, no Cais do Sodré e noutros pontos de Lisboa para introduzir estas mudanças. Trata-se de “medidas que parecem muito simples, mas que são muito importantes”, disse João Afonso, vereador dos Direitos Sociais, para quem “a acessibilidade está a melhorar dia a dia” na cidade.