Maria Teresa Horta cruzou-se com Maria Isabel Barreno há “muitos anos”, no tempo em que trabalhava para o jornal A Capital. As duas Marias sentaram-se frente a frente para uma entrevista sem saberem que anos depois seriam capa de jornal por um livro que haveriam de escrever a seis mãos com uma outra Maria — Maria Velho da Costa.

Novas Cartas Portuguesas, uma adaptação das cartas escritas pela freira portuguesa Mariana Alcorofado no século XVI, foi proibido pelo Estado Novo em 1971 e levou a um processo em tribunal que ficou conhecido pelo “Caso das Três Marias”. Dois anos depois de ter começado, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa foram finalmente absolvidas, já depois do 25 de Abril. O caso, que teve repercussões internacionais, é considerado uma das primeiras causas feministas em Portugal, tendo aberto portas para a discussão dos direitos das mulheres no país.

No dia em que morreu uma das “Três Marias”, autoras do malfadado livro detestado pelo regime e louvado pelos grupos feministas internacionais, Maria Teresa Horta lembrou à Agência Lusa Maria Isabel Barreno, a “amiga do coração” que era muito mais do isso — era uma “irmã”.

Nesta altura, que é uma altura de uma grande depressão e de um choque muito grande, o que posso dizer é isto: ela era uma mulher excecional, inteligentíssima, muito culta e muito leal, e que tem uma obra muito importante — A Morte da Mãe — que acho que devia ser reeditada rapidamente, já deveria ter sido há muito tempo”, começou por dizer a escritora.

Admitindo não ser capaz de “dar uma opinião distanciada em relação à Isabel” neste momento, Teresa Horta disse ter escrito “com a Isabel e com a Maria Velho da Costa” no tempo “do fascismo”. “Isso agarrou-nos muito, foi uma coisa excecional”, afirmou, acrescentado não ter “um senão em relação à Isabel”, que conheceu há “muitos anos” quando lhe fez uma entrevista para o suplemento literário de A Capital, que era coordenado por si.

Não é só um escritor, é um escritor com quem eu escrevi, e uma pessoa quando escreve com alguém é para sempre, é eterno, não há nada a fazer. A nossa eternidade é que, pelos vistos, como se vê pela Isabel, é muito curta”, concluiu.

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